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Estado de Minas MÚSICA

"Melodia do encontro" mostra como coral mineiro resistiu à pandemia

Filme que a Fundação Clóvis Salgado lança nesta terça-feira (25/10) registra o esforço do Coral Lírico de Minas Gerais para cantar durante a crise sanitária


25/10/2022 04:00 - atualizado 24/10/2022 21:26

Vestidos de preto, com partituras nas mãos, de pé, um ao lado do outro, os integrantes do Coral Lírico de Minas Gerais se apresentam
Os 60 integrantes do Coral Lírico de Minas Gerais passaram a gravar vídeos caseiros individualmente, em 2020, para edição e divulgação nas redes sociais da Fundação (foto: Paulo Lacerda/Divulgação )
Em março de 2020, Coral Lírico e Orquestra Sinfônica de Minas Gerais abriram a temporada de apresentações homenageando ninguém menos que Ludwig van Beethoven (1770-1827). Para homenagear os 250 anos de nascimento do compositor alemão, a Fundação Clóvis Salgado (FCS) havia planejado uma temporada de concertos com obras dele.

No mesmo mês, no entanto, a pandemia chegou ao Brasil; a capital mineira “fechou” e, assim, toda a programação de 2020 da FCS foi suspensa. “Foi a situação mais maluca que vivemos”, resume Augusto Pimenta, regente assistente do Coral Lírico de Minas Gerais. “Até pensar nas adaptações que teríamos que fazer e tomar as decisões corretas, as coisas mudavam de maneira muito rápida”, diz. 

A partir de um determinado momento, os 60 integrantes do coral passaram a gravar vídeos cantando alguma peça combinada com antecedência, para que fossem montados conteúdos audiovisuais para as redes sociais da Fundação.

“Imagine a dificuldade que era para eu e a Lara (Tanaka, regente titular do Coral Lírico) juntarmos todos esses 60 vídeos para montar uma única gravação no formato de coral”, comenta Augusto.

Essa e outras dificuldades do processo de adaptação do coral ao formato remoto foram documentadas no longa “Melodia do encontro”, com direção de Alysson Rodrigues e que será lançado nesta terça-feira (25/10), no Dia Mundial da Ópera, pelo canal do YouTube da FCS.

Retorno com a ópera"Aleijadinho"

Em abril deste ano, o Coral Lírico voltou a se apresentar de maneira presencial, com a encenação da ópera “Aleijadinho”. Conforme explica Augusto, ainda em 2021, enquanto a ópera estava sendo composta, surgiu a ideia de registrar os preparativos para a reestreia do coral e mostrar como a pandemia impactou o trabalho dos músicos.
 
O dia do retorno, portanto, foi registrado e constitui parte essencial do filme. “Foi um sucesso”, diz o regente assistente. “Nós nos apresentamos junto da orquestra em frente à Igreja São Francisco de Assis, em Ouro Preto, e cerca de
3 mil pessoas foram assistir”, acrescenta.

Com composição de Ernani Aguiar e libreto de André Cardoso, a ópera contou com mais de 500 profissionais em sua produção. No palco, além do enredo e das músicas apresentadas, outro elemento chamava a atenção: as máscaras cirúrgicas compunham figurino do século 18 dos cantores do coral.

“Esse foi um dos desafios que tivemos nesse retorno. Cantar com máscara é extremamente desconfortável, não só porque ela atrapalha a respiração e fica entrando na boca dos cantores, mas também porque ela exige mais dos músicos. Mas não tinha como, naquele momento, apresentar sem ela. No formato de coral, as pessoas ficam bem próximas umas das outras, quase que berrando”, explica Augusto.

Máscaras desafiaram os cantores

Duas situações em relação à máscara foram bem representativas para o regente assistente, contudo. A primeira ocorreu com algumas poucas cantoras, que tiveram inchaço nas cordas vocais devido ao maior esforço que faziam para cantar com o item de proteção. 

A outra foi o mal-estar que uma integrante do coral teve por não conseguir respirar direito enquanto cantava. Em um dos ensaios, a cantora quase desmaiou.

“São casos pontuais, mas que mostram como foi desafiador para a gente voltar com as apresentações presenciais. E isso está no filme, porque foram muitos debates e discussões sobre como esse retorno deveria ser feito, até chegarmos a uma definição”, afirma Augusto.

Também estão no filme os laços afetivos que os integrantes do coral têm entre si e a relação que eles têm com os espetáculos, sobretudo as óperas, preferência da maioria deles, segundo o regente assistente.
 
Coral profissional especializado em canto lírico, o coro da FCS também é um dos poucos do Brasil que mantêm programação anual intensa, com interpretações de motetos, oratórios, concertos sinfônico-corais e, principalmente, óperas.

Ao longo dos 43 anos de existência, o Coral Lírico de Minas Gerais encenou obras consagradas, como “Carmen”, de Georges Bizet (1838-1875); "O holandês errante", de Richard Wagner (1813-1883); "Tolomeo e Alessandro", de Domenico Scarlatti (1685-1757); e “La traviata”, de Giuseppe Verdi (1813-1901), entre outras.

“As óperas são o que o pessoal do coral mais gosta de fazer, porque tem a maquiagem, figurino, jogo de luzes no palco e toda a energia diferente que existe nesse tipo de espetáculo”, comenta Augusto.

Sarau no hall do Palácio das Artes

A próxima apresentação do coral está marcada para a próxima sexta-feira (28/10), ao meio-dia. Não vai ser uma ópera, e sim vários trechos de diferentes óperas, que serão apresentados gratuitamente no hall de entrada do Palácio das Artes. A iniciativa integra a programação do Sarau Lírico, que tem como objetivo aproximar o grande público do canto lírico.

“É muito legal esse projeto, porque ele pega as pessoas despercebidas, que estão passando em frente ao Palácio das Artes e ficam curiosas para saber o que está acontecendo ali. A gente sempre vê, ao final dessas apresentações, essas pessoas com os olhos brilhando, porque não estavam esperando aquilo”, afirma o regente assistente.

Ele ainda acrescenta que, até o final do ano, o coral vai realizar apresentações em homenagem a Mozart (1756-1791) e Gabriel Fauré (1845-1924).

“MELODIA DO ENCONTRO”

(Brasil, de Alysson Rodrigues) – Documentário traz entrevistas com cantores, regentes, equipe técnica e solistas do Coral Lírico de Minas Gerais sobre como os músicos se adaptaram à pandemia e como foi o processo de retomada das apresentações presenciais. A partir desta terça-feira (25/10), no canal do YouTube da Fundação Clóvis Salgado 


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