“O disco ficou do jeito que a gente queria”, garante Fagner, ao comentar seu novo álbum, “Meu parceiro Belchior” (Universal Music), homenagem ao conterrâneo que morreu em 2017, aos 70 anos, vítima de infarto.
A dupla assina “Mucuripe”, clássico da MPB, que foi gravada por Fagner ao vivo no Rio de Janeiro, cantando e tocando violão. Entre as 12 faixas, há duas inéditas: “Alazão”, parceria do cearense e de Belchior com o poeta Fausto Nilo, e “Posto em sossego”.
A cantora cearense Amelinha, o músico carioca Roberto Frejat e o cantor e compositor potiguar Xand Avião participam do álbum. Belchior também está lá, fazendo dueto virtual com Fagner em “A palo seco”.
Gravado entre fevereiro e abril deste ano, o álbum foi produzido pelo músico pernambucano Robertinho de Recife. O repertório relembra o final dos anos 1960, quando Belchior, Fagner, Fausto Nilo e Amelinha, entre outros conterrâneos, se apresentavam nas noites de Fortaleza.
“A ideia veio há cerca de cinco anos, por intermédio do meu amigo Robertinho de Recife”, diz Fagner. Inicialmente, tratava-se de projeto para um canal fechado, que não foi concretizado.
“Com o tempo, a ideia foi amadurecendo, tanto em relação à minha expectativa sobre o trabalho com Belchior quanto sobre a nossa história. Ele era um grande parceiro. São poucas músicas, mas bem representativas do nosso trabalho”, diz o cantor e compositor cearense.
O “start” veio quando Robertinho do Recife levou a Fagner uma proposta da Universal. “Essa gravadora lançou o meu primeiro disco, ‘Manera fru fru, manera: O último pau de arara’, em 1973, e também o ‘Alucinação’ (1976), disco importante do Belchior”, comenta.
“Fizeram muitas homenagens ao Belchior depois de sua partida, porém eu e Robertinho ficamos esperando a poeira baixar um pouco”, observa.
Volume dois à vista
A Universal apostou no projeto. “Entraram de cabeça, ficou todo mundo envolvido nesse trabalho”, diz ele. “Robertinho teve toda a autoridade para fazer o disco. Acabou que ficou bastante coisa de fora, mas quem sabe não possa vir aí uma segunda edição?”.
Uma das faixas, “Contramão”, Fagner chegou a gravar com Cazuza, em 1985. Agora, o parceiro do cearense na faixa foi outro “barão vermelho”: Frejat.
“Temos nos encontrado bastante nos últimos tempos, foi muito oportuna a participação dele na voz e violão na ‘Contramão’”, comenta.
Zé Ramalho deveria ter participado do disco. O cantor e compositor paraibano fazia parte do grupo de talentosos jovens nordestinos que chamou a atenção do país na década de 1970. Mas desta vez não foi possível.
“Lamentei bastante isso, porque já havia falado para ele do projeto, e ele adorou. Vamos torcer para que a gente possa fazer a segunda edição. Ela poderá ser concretizada depois que a gente sentir o resultado e a receptividade ao disco, sentir a importância que o Belchior teve na música e no nosso movimento lá do Ceará”, comenta Fagner.
“Tudo isso pode virar uma reflexão por parte da gravadora Universal. Enfim, vamos agora curtir e trabalhar bastante o álbum. Depois, quem sabe?”
O projeto chega a público nas versões digital e física, no formato CD. “Também pode sair em vinil, o que seria ótimo, pois faríamos um encarte com fotos nossas. Há muito material, muita coisa guardada, acho que merecia”, diz.
"Fizeram muitas homenagens ao Belchior depois de sua partida, porém eu e Robertinho (do Recife) ficamos esperando a poeira baixar um pouco"
Fagner, cantor e compositor
Inicialmente, não está prevista turnê de lançamento. “Por mais que não esteja fechado à ideia, disse a eles (Universal) que não iria para a estrada com esse disco. A ideia seria fazer um show com Robertinho de Recife, banda e os convidados, acrescentando músicas que não entraram no disco, e um DVD”, conta. “Estrada não está fazendo parte dos meus planos no momento.”
Ao comentar o repertório de Belchior – “um cara genial, meu parceiro da música” –, ele destaca “Mucuripe” como canção significativa.
“Infelizmente, Belchior nos deixou muito cedo, mas deixou um legado que estamos podendo apresentar ao público, principalmente para os fãs dele. Estou muito feliz com esse projeto, que está muito legal.”
Reinaldo, Éder e Vander Lee
Fagner fala com carinho de Minas, onde fez amizades. “Desde o começo da minha carreira, sempre tive um público fascinante aí”, comenta, citando os “amigos da bola”, os ex-jogadores Reinaldo e Éder.
“Minas sempre foi fascinante para mim, as amizades, o futebol e tudo”, diz. Em março, o cearense veio ao Palácio das Artes fazer show dedicado ao cantor e compositor mineiro Vander Lee (1966-2016).
“Devia uma homenagem a ele. Tinha lhe prometido gravar sua 'Onde Deus possa me ouvir’, mas, infelizmente, acabei me esquecendo. Por coincidência, este ano encontrei um e-mail dele, no qual lamentava o fato.”
“Onde Deus possa me ouvir” estreou no início deste ano, no Palácio das Artes, com a presença do cantor Marcos Catarina, irmão de Vander Lee.
“Foi um show um pouco complicado, por causa da COVID-19, com as pessoas com medo de ir ao teatro. Mas aconteceu e foi muito legal. O Vander Lee participou de um show meu em BH. Tive a oportunidade de colocá-lo no palco para cantarmos juntos. Era uma pessoa emocionante.”
Fagner lamenta a morte precoce do mineiro, aos 50 anos, vítima de infarto. “Vander Lee era artista muito sensível, passou quase uma noite chorando na casa dele, onde cantamos muito. Tivemos momentos incríveis naquele dia”, revela.
”MEU PARCEIRO BELCHIOR”
Álbum de Fagner
Universal Music
12 faixas
Disponível nas plataformas digitais
REPERTÓRIO
“A PALO SECO”
“POSTO EM SOSSEGO”
“NA HORA DO ALMOÇO”
“GALOS, NOITES E QUINTAIS”
“ALAZÃO”
“MOTO 1”
“BOLERO EM PORTUGUÊS”
“CONTRAMÃO”
“PARALELAS”
“MUCURIPE”
“NOVES FORA”
“ROMANZA”