Prestes a comemorar 25 anos de carreira, o cantor, compositor e violonista João Suplicy lança “Samblues”, álbum com 16 faixas, sendo 10 autorais e seis releituras dos compositores Martinho da Vila, Cartola, Benito de Paula, Tom Jobim, Candeia e Nelson Cavaquinho.
Entre os parceiros do artista nesse projeto estão Mombaça (“Quando a Bahia se mudou pra lá”), Vitor da Candelária (“Sambluseando”), Alice Ruiz (“Tem gente”), Gabriel Moura (“Uma dose e um café”) e João Pellegrino (“Lembrança, saudade e um amor”).
“A princípio, essa ideia do ‘Samblues’ tem a ver com a minha forma de tocar violão, meio guitarrística, vamos assim dizer. Toquei guitarra por muitos anos, às vezes, ainda toco, é claro, mas hoje é mais raro e por isso trouxe esse meu lado para o violão de cordas de nylon”, afirma.
“Inclusive, uso com certa frequência, principalmente nesse disco, a distorção no violão. Então desse meu jeito de tocar é que veio essa fusão do samba com o blues, porque também sou influenciado pelo violão tradicional brasileiro, dos grandes violonistas do Brasil que são muitos. E esses violões têm muito do samba em si.”
Ele conta como preparou o repertório: “Pensei, não vou gravar um xote ou um reggae, somente porque compus, vou é tentar focar em uma ideia. Aí compus algumas faixas especialmente para esse álbum, como é o caso de ‘Samblues’ ou mesmo de ‘Lágrimas de um blues’. E havia outras canções autorais que vi que tinham a ver com esse trabalho. É o caso de ‘Quando a Bahia se mudou para lá’, que é uma música que tinha feito já há algum tempo e que achei que casou bem.”
João decidiu gravar seis releituras de sambas clássicos. “São músicas bem emblemáticas, mas que gravei com uma nova roupagem. Não só que remeta ao blues, necessariamente, mas resolvi trazer alguns elementos também da música contemporânea. Na verdade, alguns elementos mais sintéticos como forma de armar o arranjo. E acho que o samba e o blues dialogam de várias formas no álbum. Tem uma faixa, como ‘As rosas não falam’, por exemplo, que é feita de voz e com um violão bem blueseiro."
Alegria e tristeza
A respeito da origem comum do samba e do blues, ele diz notar que o samba tem uma capacidade maior de transformar a dor e o sofrimento em alegria do que o blues.
“Na verdade, o blues exorciza a tristeza, põe para fora, grita, expressa e tal, mas o samba, talvez até pela questão rítmica, de fato, faz a alquimia. Tanto que vemos sambas com letras tristes, mas que as pessoas cantam com um baita sorriso. Isso porque ele transforma mesmo.”
“Samblueseando” é a faixa instrumental que fecha o disco. “Costumo dizer que essa música é como se o samba encontrasse com o blues na avenida, com a batucada ali e o violão distorcido.”
Sobre sua relação com a música, ele conta que na infância e na adolescência ouvia muito rock and roll. “Escutava muita música norte-americana e inglesa, até mesmo por influência dos meus irmãos e da minha geração. Pessoalmente, era mais ligado ao rock internacional do que ao nacional. Aos 18 anos, fui estudar música em Los Angeles e, quando voltei, fui morar no Rio de Janeiro.”
Foi nessa época que ele, na casa dos 20 anos, foi apresentado por um tio a Beth Carvalho (1946-2019). “E ela meio que resolveu pegar-me no colo, vamos assim dizer”, conta. “Ela me levou para conhecer as rodas de sambas mais legais do Rio de Janeiro. Confesso que fiquei fascinado com aquilo. Ela também me apresentou ao Arlindo Cruz.”
“SAMBLUES”
. Álbum de João Suplicy
. 16 faixas
. Disponível nas plataformas digitais