Jornal Estado de Minas

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Mistério de "Bem-vindos à vizinhança" emplaca entre os 10 mais da Netflix


Em 2014, o casal Maria e Derek Broaddus comprou sua casa dos sonhos em um subúrbio de Nova York. O imóvel, centenário, custou US$ 1,3 milhão e, em meio às reformas, os Broaddus, com dois filhos, receberam a primeira de uma série de cartas datilografadas.





"Meu avô observou a casa na década de 1920 e meu pai na década de 1960. Agora é a minha vez. Você conhece a história da casa? Você sabe o que está dentro das paredes da Boulevard 657? Por que você está aqui? Vai descobrir."

Esse foi o ponto de partida de uma história que gerou muita dor de cabeça, frustração, medo e raiva. O imbróglio com os Broaddus, que ganhou a atenção da imprensa americana, foi o ponto de partida de Ryan Murphy para sua nova série para a Netflix, “Bem-vindos à vizinhança”, atualmente na lista das 10 mais assistidas da plataforma.

O título original é “The watcher” (“O observador”), como o remetente assinava as missivas. Murphy, cujo contrato milionário com a Netflix vai até 2023, vem entregando séries sobre histórias reais (“Halston” e o arrasa-quarteirão “Dahmer – Um canibal americano”) e horror (“Ratched”).




 

Superprodução

“Bem-vindos à vizinhança”, de certo modo, une este dois mundos com elenco de peso e cara de superprodução. Mas a narrativa ficcional pega emprestadas apenas algumas partes do ocorrido – aqui, Murphy vai muito além da vida real. 

Dean (Bobby Cannavale) e Nora Brannock (Naomi Watts) são um casal nova-iorquino com dois filhos adolescentes, Ellie (Isabel Gravitt) e Carter (Luke David Blumm). É uma típica família margarina: os Brannock continuam apaixonados como quando se casaram e os filhos parecem ótimos, se dão bem entre eles e com os pais.

Cansados da vida na metrópole, decidem se mudar para um subúrbio em Nova Jersey. A casa da Boulevard 657 é enorme, linda, com uma piscina incrível. Está em ótimo estado, precisando de pequenas reformas, e tem até um elevador de comida, algo que Dean e o filho Carter nunca tinham visto. Melhor ainda é que a corretora, Karen Calhoun (Jennifer Coolidge), é amiga de colégio de Nora.





Dean faz as contas, pega um empréstimo e consegue fechar o negócio. Os Brannock se mudam e, rapidamente, conhecem os vizinhos, o casal Mitch (Richard Kind) e Mo (Margo Martindale), aposentados, que se vestem de modo igual e passam o dia tomando sol no gramado; e os irmãos Pearl (Mia Farrow) e Jasper (Terry Kinney), que parecem ter saído de um livro de história (de terror).

A animação dos Brannock não vai longe. Logo após a mudança, eles encontram Jasper escondido no tal elevador – ele conhece a casa como ninguém e não tem nenhum limite. Mitch e Mo vão na mesma toada, usando o jardim dos Brannock como se fosse deles. 

A situação se complica quando Dean recebe a primeira carta ameaçadora. Vai até a polícia local, e logo descobre que o morador anterior também teve problemas. Barulhos estranhos são fichinha quando o doce Jasper descobre, numa manhã, seu furão morto no corredor.





A corretora Karen lava as mãos, não consegue dar grandes informações sobre o imóvel. Também insiste com Nora para que eles coloquem a casa à venda – por algumas centenas de milhares de dólares a menos do que pagaram.

Tensão, estresse e pulga atrás da orelha

As situações vão se somando, novas cartas ameaçadoras aparecem na caixa de correio. Dean contrata uma detetive particular (papel de Noma Dumezweni), coloca alarme e câmeras em toda a residência, e a mulher e os filhos se mudam para um motel na região, para ver se a questão se resolve.

Claro que não, e a tensão e o estresse da família só aumentam. As situações apresentadas na série vão colocando o espectador sempre com a pulga atrás da orelha. Numa hora você acha que é o vizinho tal o autor das cartas, para no episódio seguinte logo encontrar um novo suspeito. 





Ainda que seja baseada em fatos, “Bem-vindos à vizinhança” carrega no tom – é exagerada, irreal e quase teatral. Mas dá para entrar de cabeça, por conta do elenco.
 
O personagem de Cannavale vai rapidamente perdendo a arrogância e o controle, enquanto a de Naomi Watts é tomada pela solidão e pela paranoia. E há aqui Mia Farrow como uma Wandinha da Família Addams madura – estranha como só ela é. 

“BEM-VINDOS À VIZINHANÇA” 

Minissérie em sete episódios, disponível na Netflix