Em 2014, o casal Maria e Derek Broaddus comprou sua casa dos sonhos em um subúrbio de Nova York. O imóvel, centenário, custou US$ 1,3 milhão e, em meio às reformas, os Broaddus, com dois filhos, receberam a primeira de uma série de cartas datilografadas.
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O título original é “The watcher” (“O observador”), como o remetente assinava as missivas. Murphy, cujo contrato milionário com a Netflix vai até 2023, vem entregando séries sobre histórias reais (“Halston” e o arrasa-quarteirão “Dahmer – Um canibal americano”) e horror (“Ratched”).
Superprodução
“Bem-vindos à vizinhança”, de certo modo, une este dois mundos com elenco de peso e cara de superprodução. Mas a narrativa ficcional pega emprestadas apenas algumas partes do ocorrido – aqui, Murphy vai muito além da vida real.
Dean (Bobby Cannavale) e Nora Brannock (Naomi Watts) são um casal nova-iorquino com dois filhos adolescentes, Ellie (Isabel Gravitt) e Carter (Luke David Blumm). É uma típica família margarina: os Brannock continuam apaixonados como quando se casaram e os filhos parecem ótimos, se dão bem entre eles e com os pais.
Cansados da vida na metrópole, decidem se mudar para um subúrbio em Nova Jersey. A casa da Boulevard 657 é enorme, linda, com uma piscina incrível. Está em ótimo estado, precisando de pequenas reformas, e tem até um elevador de comida, algo que Dean e o filho Carter nunca tinham visto. Melhor ainda é que a corretora, Karen Calhoun (Jennifer Coolidge), é amiga de colégio de Nora.
Dean faz as contas, pega um empréstimo e consegue fechar o negócio. Os Brannock se mudam e, rapidamente, conhecem os vizinhos, o casal Mitch (Richard Kind) e Mo (Margo Martindale), aposentados, que se vestem de modo igual e passam o dia tomando sol no gramado; e os irmãos Pearl (Mia Farrow) e Jasper (Terry Kinney), que parecem ter saído de um livro de história (de terror).
A animação dos Brannock não vai longe. Logo após a mudança, eles encontram Jasper escondido no tal elevador – ele conhece a casa como ninguém e não tem nenhum limite. Mitch e Mo vão na mesma toada, usando o jardim dos Brannock como se fosse deles.
A situação se complica quando Dean recebe a primeira carta ameaçadora. Vai até a polícia local, e logo descobre que o morador anterior também teve problemas. Barulhos estranhos são fichinha quando o doce Jasper descobre, numa manhã, seu furão morto no corredor.
A corretora Karen lava as mãos, não consegue dar grandes informações sobre o imóvel. Também insiste com Nora para que eles coloquem a casa à venda – por algumas centenas de milhares de dólares a menos do que pagaram.
Tensão, estresse e pulga atrás da orelha
As situações vão se somando, novas cartas ameaçadoras aparecem na caixa de correio. Dean contrata uma detetive particular (papel de Noma Dumezweni), coloca alarme e câmeras em toda a residência, e a mulher e os filhos se mudam para um motel na região, para ver se a questão se resolve.
Claro que não, e a tensão e o estresse da família só aumentam. As situações apresentadas na série vão colocando o espectador sempre com a pulga atrás da orelha. Numa hora você acha que é o vizinho tal o autor das cartas, para no episódio seguinte logo encontrar um novo suspeito.
Ainda que seja baseada em fatos, “Bem-vindos à vizinhança” carrega no tom – é exagerada, irreal e quase teatral. Mas dá para entrar de cabeça, por conta do elenco.
O personagem de Cannavale vai rapidamente perdendo a arrogância e o controle, enquanto a de Naomi Watts é tomada pela solidão e pela paranoia. E há aqui Mia Farrow como uma Wandinha da Família Addams madura – estranha como só ela é.
“BEM-VINDOS À VIZINHANÇA”
Minissérie em sete episódios, disponível na Netflix