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Estado de Minas CINEMA

"Abestalhados 2" é a sequência de um filme que nunca existiu

Título da comédia nacional em cartaz brinca com a ideia de já ser um sucesso; trama gira em torno das dificuldades de se fazer um longa


28/10/2022 04:00 - atualizado 27/10/2022 23:09

Ator com expressão séria, sentado em cadeira, de costas para gravação de cena erótica em abestalhados 2
O longa, em cartaz em BH, mostra quatro amigos muito atrapalhados, mas sobretudo dispostos a realizar o sonho de lançar um filme no cinema (foto: Disney/Divulgação)


Uma vista por alto na programação dos filmes em exibição nas salas de cinema fará os olhos pararem diante de “Abestalhados 2”, em cartaz desde a última quinta-feira (26/10). "Já?", poderá perguntar o incauto leitor que aposta nas continuações para garantir boa diversão na telona.

Enquanto o dedinho ou o mouse deslizam para lá e para cá na tela do celular ou do computador, o título do longa fica reverberando na cabeça. "Afinal, que filme é esse? Que diacho, não me lembro do primeiro. Foi só no streaming e perdi?"

Calma, amigo leitor. Sua saúde mental não está completamente comprometida e você não pirou. Mas caiu como um patinho na jogada da produção dessa comédia nacional, que sugere ser a continuação de uma versão original que, na verdade, nunca houve. 

“Abestalhados 2” vem a ser o resultado de um outro filme, “Acelerados 2”, sonho da pequena produtora Mother Fake, que procura driblar das formas mais absurdas (e por isso mesmo engraçadas) as dificuldades para colocar o título de ação e aventura nos cinemas.

Elenco

Além do nome, o longa provoca uma sensação de déjà-vu (para o bem) quando se observa a relação do elenco, recheado de nomes reconhecidos na comédia com origem na TV e na internet. Paulinho Serra, que integrou o time de atores de “Vai que cola”, além de ter feito muitos outros trabalhos televisivos; Raul Chequer e Leandro Ramos, do Choque Cultural, programa de humor exibido no Canal Brasil; e Felipe Torres, do Hermes e Renato.

No longa dirigido por Marcos Jorge (“Estômago”) e Marcelo Botta (“Adnet Viaja”), Serra interpreta Paulo Carmo. Sonhador convicto, ele faz as maiores manobras para tirar do papel o filme que sonha fazer, “Acelerados 2”. 

O enguiço começa logo na cena de abertura. Tão sonhador quanto atrapalhado, Paulo consome todos os recursos disponíveis para o longa, que já não eram muitos, nas gravações dessa cena inicial.

Chequer interpreta o roteirista Manuel Oliveira, que não abre mão de suas ideias e se recusa terminantemente a se render aos padrões do mercado. Leandro Ramos é Eric Rios, diretor de produção e técnico de som, mas acaba como um faz-tudo. Felipe Torres é Alexa Balas, que, como faz questão de dizer, sabe "filmar um noir como ninguém".

Encrencas

Mas, de fato, o maior talento do quarteto é se meter em confusões. O elenco reúne também Alexandre Rodrigues, Cris Vianna, Dudu de Oliveira, José Loreto, Nicola Siri, Wanderlei Silva e Wellington Muniz. O roteiro é assinado por Marcos Jorge, Marcelo Botta, Gabriel Di Giacomo e Pedro Leite

Com cenas apresentadas em forma de documentário que exibe os bastidores do longa, o filme arranca risos do espectador, ao mesmo tempo em que faz sua declaração de amor e homenagem ao cinema brasileiro, que enfrenta toda sorte de empecilhos para se manter.

A recente crise sanitária e o descaso do atual governo federal com o setor são dois exemplos recentes do tipo de obstáculo que a produção audiovisual enfrenta. “Abestalhados 2”, aliás, foi um dos primeiros filmes nacionais produzidos de acordo com os protocolos de segurança contra a COVID-19.  

Se a ideia de criar o título de uma continuação fictícia é um pulo do gato, fazer um filme dentro de outro não representa nenhuma novidade. No entanto, é aí que reside a graça e é também de onde resultam as melhores cenas do filme, nas situações das quais o quarteto nem sempre consegue se safar.

As soluções beiram a irresponsabilidade, como a “ideia genial” que os amigos, que são também colegas em uma agência de publicidade, têm de conquistar estrelas de suas campanhas publicitárias para estrelar o longa com custo zero.

Cilada

José Loreto, interpretando a si mesmo, caiu na cilada. Aceitou o convite para participar de um anúncio beneficente, mas só percebeu o golpe quando foi parar em uma maca do Samu.
 
Alexandre Rodrigues (“Cidade de Deus”), por sua vez, faz um comercial de margarina como pai de duas crianças louras. Ele é negro.
 
Para os apressadinhos em deixar a sala de cinema, um aviso: vale esperar pelos créditos finais, quando os “comerciais” são exibidos.

O entrosamento do elenco é um ponto a favor do filme. Os fãs de Paulinho Serra, acostumados a toda aquela energia que parece não ter fim, verão o ator mais contido e nem por isso menos divertido.
 
“Ele tem uma técnica absurda, com todas as variações de tom dentro dele”, elogia Marcelo Botta, que lembra que o filme começou a ser rodado no início de 2020, antes, portanto, da chegada da pandemia. A crise sanitária levou à suspensão das filmagens, só retomadas em setembro daquele ano, com a implementação de normas de combate à COVID no set. 

Com longa carreira na televisão, iniciada nos anos 2000, na MTV, Marcelo Botta assina sua primeira direção de cinema. Muitos dos atores e dos membros da equipe criativa do filme passaram pela MTV.
 
“Conseguimos unir gerações diferentes que fazem comédia”, diz o diretor. Mas ele aponta Paulinho Serra como o embaixador que congregou toda a turma “para viabilizar um projeto tão maluco de tanta inovação”.

 “ABESTALHADOS 2”

(Brasil, 2022, 94min). Direção: Marcos Jorge e Marcelo Botta. Com Paulinho Serra, Raul Chequer, Leandro Ramos e Felipe Torres.Classificação indicativa: 14 anos. Em cartaz no Cineart Del Rey (16h30 e 20h20, de hoje a segunda); na próxima terça (1º/11) e quarta, as sessões serão às 13h30 e às 17h15 




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