Jornal Estado de Minas

Música

Titãs brindou seu público com hits da carreira em show no Palácio das Artes


O show que os Titãs levaram ao palco do Grande Teatro do Palácio das Artes na noite desta sexta-feira (28/10), comemorativo por seus 40 anos de carreira, teve considerável carga emotiva - justamente pela efeméride em torno de uma banda fundamental para a história do rock brasileiro. A apresentação, contudo, soou um tanto carente de energia, o que se justifica, talvez, pelo formato acústico e pelo roteiro, que privilegiou as baladas.



As manifestações políticas, que, em razão do contexto eleitoral, se tornaram quase que praxe ao longo dos últimos tempos em eventos do tipo, foram acanhadas. Quando as cortinas se abriram, os três membros remanescentes - Tony Bellotto, Branco Mello e Sergio Britto - estavam de pé, lado a lado, à frente do palco. Depois tomaram seus lugares, dividindo a cena com o baterista Mário Fabre o o guitarrista/violonista Beto Lee, e permaneceram sentado a maior parte do tempo.

A primeira música, "Apocalipse só", é também a que abre o novo álbum do grupo, "Olho furta-cor", lançado no início de setembro. Britto, num dado momento, ressaltou o caráter de ineditismo, já que esse é o primeiro show que o grupo se apresenta com o repertório do trabalho mais recente incorporado de forma consolidada a um roteiro iminentemente retrospectivo.

O grupo tocou para um Palácio das Artes praticamente lotado (os ingressos haviam se esgotado no início da semana), com uma plateia predominantemente formada por fãs que acompanham a banda desde seus primeiros passos, situada na faixa etária a partir dos 40 anos.



A segunda música do show, a seminal "Sonífera ilha", deu a medida temporal, em contraste com a primeira, do espaço que os Titãs ocupam na história da música brasileira. O primeiro momento em que ficou evidente a cumplicidade entre a banda e seus fãs foi quando Bellotto falou da presença de Branco Mello, recentemente curado de um câncer de garganta.

Nesse momento, os aplausos só não foram mais efusivos do que quando, com uma voz quase sussurrada de tão rouca, o próprio Mello disse que fez três cirurgias no ano passado, que passou momentos difíceis, mas que estava muito feliz por estar vivo. Na sequência, fez uma "versão joãogilbertiana" - palavras dele - de "Cabeça dinossauro", faixa-título de um dos discos mais celebrados da banda, e foi aplaudido de pé.

Em seguida, o grupo executou "Enquanto houver sol", que Britto dedicou aos profissionais da saúde, pelo diligente trabalho durante a pandemia. Não foram poucas as deixas, aliás, para que o público se manifestasse a respeito do atual cenário político e social do país.



Ao anunciar a música "Caos", uma das faixas do novo álbum, composta por Rita Lee, Roberto de Carvalho e Beto Lee, Bellotto citou o momento conturbado do país às vésperas do segundo turno das eleições. Alguns gritos de "fora Bolsonaro" ecoaram timidamente aqui e acolá.

O guitarrista - que nos últimos anos tem se colocado também na função de vocalista - convocou, na sequência, o público a cantar junto "Polícia", e foi atendido. O coro também ecoou forte em hits como "Pra dizer adeus", "Marvin", "Epitáfio" e "Flores". Ficou a cargo da voz de Beto Lee a música "Televisão", que remonta aos primórdios da banda, e que sua mãe, Rita, cantou no "Acústico MTV", de 1997.

O grupo reservou para o bis duas músicas de forte acento crítico - "Homem primata" e "Bichos escrotos". A plateia acompanhou de pé, no embalo da pegada roqueira, ainda que esmaecida em função da sonoridade acústica. Ao final do show, com as pessoas já saindo do teatro, uma parcela do público ensaiou um "olê, olê, olá, Lula, Lula", sem muita reverberação.