Jornal Estado de Minas

ARTES CÊNICAS

Pascoal da Conceição traz Mário de Andrade para tour por BH

Pascoal da Conceição diz que tem com a figura de Mário de Andrade uma relação profissional, mas também de camaradagem. Entende-se. Afinal, ao longo dos últimos 20 anos, o ator, diretor, produtor cultural e dublador “incorpora” – expressão que ele próprio usa – o célebre pensador modernista nas mais diversas situações, de passeatas a visitas informais a amigos.





Essa relação está sintetizada no espetáculo “Mário de Andrade desce aos infernos”, que Pascoal leva ao palco do Grande Teatro do Palácio das Artes nesta terça-feira (1/11), às 20h30, com entrada franca.
 
A apresentação faz parte das comemorações dos 120 anos de Carlos Drummond de Andrade e integra o projeto O Modernismo em Minas Gerais, da Fundação Clóvis Salgado.

Dica veio do porteiro

Pascoal diz que foi o porteiro do prédio em que morava, em 1993, quem, pela primeira vez, chamou a sua atenção para a semelhança entre ele e Mário de Andrade. “O porteiro disse, brincando, que eu estava no jornal. E me mostrou, em uma das páginas, o rosto de Mário estampado na cédula de 500 mil cruzeiros que tinha acabado de ser lançada”, conta.

Posteriormente, o ator descobriu outro ponto de identificação com o modernista: ambos nasceram em 9 de outubro, mas com a diferença de 60 anos. Em 2003, Pascoal foi convidado para interpretar Mário na minissérie “Um só coração”, da Rede Globo, concebida para celebrar os 450 anos da cidade de São Paulo.





“Depois da minissérie, o Sesc me propôs fazer algo em torno de Mário, por conta do aniversário de 60 anos de morte dele, em 2005. Pensei que dava para criar um espetáculo a partir do poema ‘Mário de Andrade desce aos infernos’, que Drummond escreveu em 1945, justamente sob o impacto da partida do amigo e incluiu no livro ‘A rosa do povo’. Eles eram chapas mesmo”, aponta.

Os convites obrigaram Pascoal a se dedicar ao estudo da trajetória de Mário de Andrade. Nesse processo, foi descobrindo grande afinidade de pensamento com o autor modernista.

“Eu me sinto muito bem com a obra de Mário, porque posso dar sangue ao que ele fala, e o que ele fala é muito parecido com o que penso em relação à cultura, ao mundo, à vida, às contradições. O texto dele acaba azeitando meu pensamento”, ressalta.

Semana de 22

O espetáculo de Pascoal tem nove cenas. A obra do modernista é revisitada por meio de textos originais publicados em entrevistas, prosa, poesia e crônica. A primeira remonta à Semana de Arte Moderna de 1922. A segunda é centrada na conferência sobre o movimento modernista proferida por Mário. A terceira aborda a relação do escritor com a artista plástica Anita Malfatti.





“Depois trago um pouco do poema ‘Meditação sobre o Tietê’, de 330 versos, e comparo com outro, maior ainda, o ‘Noturno de Belo Horizonte’, feito em 1924, quando Mário aqui esteve para conhecer a juventude local”, adianta Pascoal, que está na capital mineira há alguns dias. De acordo com ele, a seleção de extratos da vasta obra de Mário de Andrade foi intuitiva.

Ao longo dos últimos 20 anos, o ator incorporou o personagem em diversas ocasiões. “Se sou convidado para apresentar, caracterizado, a inauguração de uma exposição de Lasar Segall, vou procurar coisas que Mário escreveu sobre pintura. Se sou chamado para falar da música de Villa-Lobos, vou procurar saber das conversas que Mário teve com o compositor. Vou colecionando esses textos. Tudo o que falo em cena é rigorosamente fechado no que Mário escreveu”, explica.

Em Belo Horizonte, Pascoal já ministrou oficina de teatro para os alunos do Cefart no Palácio das Artes, participou de manifestações da campanha eleitoral, foi recebido pela secretária municipal de Cultura, Eliane Parreiras, e pelo prefeito Fuad Noman. Também visitou o Galpão Cine Horto e o Teatro Espanca, sempre incorporando o personagem.





“Levo Mário de Andrade para todos os lugares. É um tipo de atuação que não é só para dentro do teatro. Uso as ruas, as praças, as ocupações. Estive em manifestações, na parada gay, e é tudo teatro também. A cultura é o campo do simbólico”, destaca.
 
Pascoal lembra que, na conferência sobre o movimento modernista, Mário explicou que aquelas ideias eram fruto de uma reverificação da inteligência brasileira.

“O que estamos vivendo hoje é o movimento modernista, segundo Mário. Estamos precisamente inseridos nesse bojo de ideias. A Semana de 22 foi só o alto-falante de uma forma que veio, vem e virá, uma força dialética que segue em frente”, diz.

“MÁRIO DE ANDRADE DESCE AOS INFERNOS”

• Com Pascoal da Conceição
• Nesta terça-feira (1º/11), às 20h30, no Grande Teatro do Palácio das Artes.
• Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro.
• Entrada franca, com retirada de ingressos em www.fcs.mg.gov.br ou na bilheteria do Palácio das Artes.
• Informações: (31) 3236-7400