Quando a mais recente edição do Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte (FIT-BH) terminou, em setembro de 2018, a Secretaria Municipal de Cultura, responsável por sua realização, artistas e público tinham a expectativa de um novo encontro em 2020, conforme o calendário bienal do evento, que faz parte do calendário da capital mineira desde 1994.
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Os homenageados deste ano, por sua vez, são a escritora Conceição Evaristo, o escritor e líder indígena Ailton Krenak, o diretor e dramaturgo João das Neves (1935-2018), o cenógrafo e figurinista Raul Belém Machado (1942-2012) e o fotógrafo Guto Muniz.
Serão 36 peças e 18 atividades paralelas na programação, como exibições de filmes, videoinstalações, oficinas, rodas de conversa e residências, tendo como maior preocupação a diversidade e a descentralização dos espetáculos.
Abertura
No sábado, a abertura será com um cortejo em que estarão presentes Conceição Evaristo, Ailton Krenak, Maurício Tizumba, Marcelo Veronez, Grupo Tambor Mineiro, Guardas de Nossa Senhora do Rosário e da Irmandade Estrela do Oriente, além de tradicionais blocos de carnaval da cidade. O desfile, marcado para as 14h, sairá da esquina da Avenida Amazonas com a Rua Tamoios, no Centro da cidade, e seguirá em direção ao Viaduto Santa Tereza.
Ainda no dia da abertura do evento, será apresentado o monólogo “E.L.A”, da atriz e diretora cearense Jéssica Teixeira, no Centro Cultural Unimed-BH Minas. A peça trata de maneira natural da degeneração dos corpos e, sem seguir uma linearidade com uma única narrativa, busca investigar o próprio corpo da atriz – segundo a própria artista, "inquieto, estranho e disforme" – e o modo como ele interage com o mundo, no intuito de criticar os padrões de beleza.
Não é a primeira vez que Jéssica apresenta “E.L.A” na capital mineira. No início de setembro passado, ela esteve em cartaz na cidade com o espetáculo. Na ocasião, afirmou ao Estado de Minas que “E.L.A” “são fragmentos de corpos representados em seis hiatos diferentes”.
“Nós não escolhemos nascer no corpo em que estamos. Simplesmente, nascemos nele. Assim, cabe a nós cuidar dele da melhor maneira possível, até o final de nossa vida. ‘E.L.A’, portanto, busca trazer esse tipo de reflexão para o público”, disse, à época.
Espetáculos
Dos 36 espetáculos que serão apresentados no FIT, 15 são produções de companhias e artistas solo de Belo Horizonte, como Grupo Galpão, Oficcina Multimédia, Toda Deseo, Palhaça Brisa, entre outros.
Também integram a programação atrações internacionais, como “Solilóquio”, do argentino Tiziano Cruz; "Fuego rojo", do chileno Coletivo La Patogallina; "Trewa", do também chileno Kimvn, e "Tijuana", dos mexicanos Largatijas Tiradas al Sol.
O principal desafio desta edição, no entanto, foi a produção do evento em curto espaço de tempo. Isso porque, em junho deste ano, Eliane Parreiras assumiu o cargo de secretária municipal da Cultura no lugar de Fabíola Moulin. Parte do FIT já estava planejada pela antiga gestão, mas coube à nova titular da pasta dar seguimento ao planejamento e realização do evento.
Algumas mudanças foram feitas, como a inclusão de regionais mais distantes da Centro-Sul na lista de locais onde os espetáculos serão apresentados e a realização de rodadas de negociações, na qual os artistas farão contato com curadores de diferentes locais para criar network.
Diversidade
Com curadoria de Andreia Duarte, Marcos Alexandre e Yara de Novaes, outra preocupação para esta edição do FIT foi trazer espetáculos que têm como temática questões caras aos movimentos negro, feminista e LGBTQIA+.
Um dos destaques da edição deste ano é o musical “Museu Nacional – Todas as vozes do fogo”, da companhia carioca Barca dos Corações Partidos. Escrita pelo diretor, dramaturgo e músico Vinícius Calderoni, e com direção musical de Alfredo Del-Penho e Beto Lemos, o musical traça um paralelo entre o incêndio ocorrido no Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 2018, e o momento político que o Brasil vivia – e ainda vive – de sucateamento das políticas públicas voltadas para a cultura.
“Quando vi as imagens do incêndio, pensei que aquilo era a síntese do momento que nós vivíamos no Brasil”, diz Calderoni, referindo-se a episódios como o impeachment da presidente Dilma Rousseff, a extinção do Ministério da Cultura pelo então presidente Michel Temer e o projeto político de Jair Bolsonaro – na época, candidato com maior intenção de votos –, que deixava as políticas culturais em segundo plano.
Tendo como base parte dos 20 milhões de itens do acervo queimado, Calderoni propôs que os personagens do espetáculo fossem as peças que se perderam do museu. A peça começa com Luzia – fóssil mais antigo encontrado nos escombros do museu e que precisou ser reconstituído depois do incêndio –, levando o público a fazer uma viagem pela história, ressaltando como a influência de negros e indígenas na formação do Brasil foi negligenciada pela historiografia oficial.
“Foi um dos trabalhos mais difíceis que eu fiz na vida”, afirma Calderoni. “Escrever histórias de pessoas é mais tranquilo, porque você parte de algo sólido e escolhe o momento em que você vai partir para contar aquela história. Já o museu, não. Ele é um depositário de histórias, de modo que a gente tinha que achar um recorte que fizesse sentido.”
A companhia, contudo, ousou no roteiro, apostando nas consequências da derrota de Bolsonaro nas eleições deste ano. “Se o resultado (das eleições) fosse outro, teríamos que mudar o final do texto. Foi uma aposta que fizemos, que torcemos para que acontecesse e acabou dando certo”, afirma o diretor.
FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO PALCO & RUA DE BELO HORIZONTE
• Deste sábado (5/11) a 11/11.
• Mais de 30 atrações nacionais e internacionais.
• Ingressos estarão à venda no Sympla e Eventim.
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