Jornal Estado de Minas

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Versão em formato de série de "As ligações perigosas" recua no tempo



Em quase dois séculos e meio desde seu lançamento, o romance “As ligações perigosas” (1782), de Choderlos de Laclos, tem se provado uma inesgotável força das adaptações. Já houve várias, em formato de filme e série, sendo a mais importante delas o longa dirigido em 1988 por Stephen Frears, com Glenn Close, John Malkovich e Michelle Pfeiffer, que levou três Oscars.





“Ligações perigosas”, série em oito episódios que estreia neste domingo (6/11) no Lionsgate+, também trata de intrigas e jogos de sedução na Paris pré-Revolução Francesa (1789). Mas muda o foco, contando uma história anterior aos acontecimentos da trama original.

Neste prelúdio, Alice Englert é Camille, uma jovem pobre que recorre à prostituição para sobreviver. No futuro, ela será a marquesa de Merteuil. Mas, no momento em que a série é ambientada, ela está apaixonada por Valmont (Nicholas Denton) e vive com ele um tórrido caso de amor. 
 

 

Cartas

Também sem recursos, já que seu pai, o visconde de Valmont, o deserdou, o jovem tem um plano para conseguir seu título de nobreza e poder viver plenamente sua relação com ela. Mas seus métodos são escusos, é o que a narrativa mostra. Victoire (Kosar Ali), misto de ajudante, dama de companhia e melhor amiga de Camille, descobre dezenas de cartas de Valmont para mulheres.




 
São todas casadas e lhe juram amor eterno. Entre elas está a atual marquesa de Merteuil (papel de Lesley Manville, que na quinta temporada de “The crown” vai interpretar a princesa Margaret). As missivas que ela trocou com Valmont a colocam em maus lençóis. 

Este, sem o menor escrúpulo, chantageia a mulher – ou ela lhe dá dinheiro e um título de nobreza, ou ele entregará as cartas para o marido dela. Camille descobre o plano de Valmont na noite em que iria fugir com ele. Acaba batendo à porta da marquesa, que lhe dará abrigo para que, juntas, se vinguem dele. 

Tudo isso acontece no primeiro episódio da série. Os desdobramentos que se darão a partir dessa aliança improvável é que são o cerne desta nova versão do clássico francês. A exemplo de outra produção de época, “Bridgerton” é a referência mais clara, este novo “Ligações perigosas” também busca modernizar a história.





Os encontros amorosos têm abordagem direta, e as personagens femininas sabem o que querem. Camille, mesmo que se sustente por meio da prostituição, tem voz ativa entre seus clientes – e quando ela diz não, é não mesmo. Há também um elenco inclusivo, em que se destaca a personagem Victoire, e um acabamento plástico impecável – das perucas empoadas aos grandes cenários, como apresentações de ópera, tudo está no lugar.

Do elenco, Lesley Manville é quem consegue os melhores momentos, bastante crível como a vingativa marquesa. A figura dúbia de Valmont não alcança o peso necessário na interpretação de Nicholas Denton, que não convence como homem apaixonado, tampouco como aproveitador de nobres casadas. Alice Englert, por seu lado, consegue dar as nuances devidas que o papel demanda.

O problema com o novo “Ligações perigosas” é que, mesmo muitas adaptações depois (inclusive uma da Globo, de 2016, com Patrícia Pillar e Selton Mello como protagonistas), a trama original segue imbatível. A série surge então como produto derivado, com uma história muito menos sedutora.

"LIGAÇÕES PERIGOSAS"

• Série em oito episódios. Estreia domingo (6/11), no Lionsgate. Um novo episódio por domingo.