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Estado de Minas MÚSICA

Banda Mestre Ambrósio, que se separou há 18 anos, está de volta aos palcos

Expoente do manguebeat, grupo pernambucano vai se apresentar em São Paulo, neste fim de semana e em dezembro, para comemorar seus 30 anos


05/11/2022 04:00 - atualizado 04/11/2022 22:07

Seis músicos da banda Mestre Ambrósio olham para a câmera e seguram máscara do folguedo nordestino cavalo-marinho
Maracatu, forró, embolada, cavalo-marinho, baião e ciranda, entre outros ritmos populares, deram régua e compasso à banda Mestre Ambrósio (foto: José de Holanda/divulgação)
 

"A gente era um manguebeat ao contrário. Partia da cultura popular e deixava as referências do pop e do rock costurarem esses elementos"

Siba, cantor e compositor


O Brasil visto de cima do palco é um país em convulsão política, onde a desordem estampa as primeiras páginas dos jornais, o Ministério da Cultura foi extinto e as cores verde e amarelo ganham outros significados ao ser espalhadas pelas ruas.

Foi assim quando a banda Mestre Ambrósio fez seu primeiro show, no Recife, em 1992, ainda sob o governo de Fernando Collor de Mello, que deixaria o cargo meses depois, após um processo de impeachment. E é mais ou menos essa paisagem que o grupo diz enxergar também agora, ao deixar a hibernação de quase duas décadas e voltar a se apresentar neste 2022 de eleições e com Jair Bolsonaro na Presidência.

“A gente não surgiu num período bonitinho. Foi um momento difícil do país, quando a cultura popular estava ameaçada, como está acontecendo agora de novo”, diz Eder O Rocha, percussionista e um dos seis fundadores da banda.

Caldeirão pernambucano

Antes de falar da volta à ativa, é preciso voltar ao nascimento. Mestre Ambrósio surgiu como uma das bandas formadoras do movimento manguebeat, que celebra 30 anos e catapultou Pernambuco como o principal caldeirão musical brasileiro naquele início dos anos 1990. Dali germinaram nomes como Chico Science, Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, que tinha entre seus integrantes Fred Zero Quatro e Otto.

Só que o manguebeat tinha fauna mais diversa, para além dos nomes que acabaram ficando mais famosos. Para usar a imagem típica do movimento, o lamaçal daqueles anos abrigou figuras que ajudaram a modernizar o passado e produzir uma evolução musical, mas que permaneceram mais nas sombras, como as bandas Eddie, Devotos e Mestre Ambrósio.

“Na época, não existia muito o questionamento sobre fazer ou não parte do movimento, porque era uma coisa só, existia um sentimento forte de colaboração entre os grupos”, diz Siba, outro dos nomes à frente de Mestre Ambrósio. “Mas, olhando agora, dá para perceber que a gente era um manguebeat ao contrário. Partia da cultura popular e deixava as referências do pop e do rock costurarem esses elementos.”

Tornou-se clássico dizer que Chico Science e a Nação Zumbi eram uma banda de rock costurada pela cultura popular e pela percussão do maracatu, enquanto Mestre Ambrósio fazia o inverso – um grupo de ritmos tradicionais que salpicava de pop a embolada, o forró, o baião, a ciranda, o maracatu e o cavalo-marinho.

Esse último, folguedo da Zona da Mata nordestina, ou seja, festa tradicional teatralizada, tem em seu rol de personagens o tal Mestre Ambrósio, que aparece em cena caracterizado por uma máscara pintada de preto e branco.
 

%u201CA gente está bem cauteloso. O objetivo é trazer o nome da banda de volta, tocar juntos mais uma vez. Não queremos gerar expectativas%u201D

Siba, cantor e compositor

 

Máscara do cavalo-marinho

A máscara acabou se tornando símbolo da banda, aparecendo em shows e capas de discos. E estará mais uma vez nos palcos nesse retorno, que marca não apenas os 30 anos de carreira e de manguebeat, mas também os 18 anos desde a última apresentação.

Em 2004, foi no Sesc Santo André, em São Paulo, que Mestre Ambrósio parou de tocar. E será também no Sesc, mas no Vila Mariana, que vai voltar à ativa até domingo (6/11). Em dezembro, será a vez das unidades Jundiaí, Sorocaba e Itaquera receberem a apresentação.

Nos ensaios, os músicos vêm tentando recuperar a liga no palco. “Em três dias, já tínhamos selecionado as músicas. Existe uma memória corporal, foram 12 anos e 500 e poucos shows juntos”, fala Helder Vasconcelos, que toca fole de oito baixos, uma espécie de acordeom.

“É um show muito físico. A dança, as máscaras, o que herdamos da cultura de rua, tudo vai estar no palco”, afirma o percussionista Sérgio Cassiano.

Vão fazer parte das apresentações, que depois de São Paulo viajam ao Recife, as faixas “Pé de calçada”, “Se Zé Limeira sambasse maracatu”, “Pescador”, “Coqueiros” e “Fuá na casa de Cabral”, num pot-pourri dos três discos, todos relançados recentemente em vinil, marcando não apenas o retorno do grupo, mas um aceno aos fãs moderninhos.

Sem afobação

Siba, porém, afirma que ainda não existe qualquer conversa para que o reencontro extrapole o saudosismo e dê à luz o quarto álbum, com inéditas. “A gente está bem cauteloso. O objetivo é trazer o nome da banda de volta, tocar juntos mais uma vez. Não queremos gerar expectativas.”

Mas o sambinha “Lembrança de Folha Seca”, faixa do disco “Terceiro samba”, o último da banda, traz um recado para o próprio grupo e para fãs curiosos para ouvir o que Mestre Ambrósio ainda pode criar. Lá pelas tantas, diz a letra: “Se a estrada é tão longa/ não adianta se cansar”.   


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