Heitor Villa-Lobos (1887-1959) compôs mais obras sobre o universo infantil do que qualquer outro compositor na história. A opinião é da pianista Simone Leitão, que faz a afirmativa com conhecimento de causa. Sua tese de doutorado, defendida em 2009 na Universidade de Miami, foi sobre “Momoprecoce” (1929), composta por Villa-Lobos a pedido da pianista Magda Tagliaferro.
Neste sábado (5/11), Simone faz sua estreia como solista junto à Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, executando precisamente essa peça, sob a regência do maestro José Soares. O concerto integra o programa Fora de Série, realizado aos sábados.
Neste ano, a série é inspirada nas letras do alfabeto. No programa de hoje, “De Vaughan Williams a Wagner”, também serão apresentados a abertura de “As vespas” (1909), em celebração aos 150 anos de nascimento do compositor britânico, e três momentos sinfônicos da ópera “O crepúsculo dos deuses” (1872-1874), do alemão: “Viagem de Siegfried”, “Canção das damas do Reno” e “Morte e funeral de Siegfried”.
Encomenda
Em 1919, Villa-Lobos compôs “O carnaval das crianças brasileiras”, conjunto de oito peças para piano. Uma década mais tarde, vivendo em Paris, recebeu de Tagliaferro a encomenda de um concerto para piano. Pegou a obra anterior e a orquestrou, sob forte influência de Stravinsky. Em 1930, Tagliaferro estreou “Momoprecoce” na capital francesa, sob a regência do maestro Enrique Fernández Arbós.
“As pessoas ficam muito na obra tropical de Villa-Lobos, mas ele, em mais de 100 obras, descreveu o universo infantil. Como não conseguiu ter filhos, suas obras têm uma coisa autobiográfica, com ele se mostrando como criança”, comenta Simone. Para ela, o compositor não descreveu somente a fantasia de cada criança, “mas também o humor das crianças brasileiras”.
Simone comenta que, em “Momoprecoce”, o pianista tem que utilizar diferentes técnicas para descrever os sete personagens imaginados nesta fantasia. “Na primeira parte é um cavalinho, depois aparece um chicote e você tem que fazer o som de um chicote no piano. Há também uma gaitinha, e o piano fica fazendo o som de uma criança experimentando uma gaita”, conta ela.
Para a pianista, o grand finale ocorre quando Villa-Lobos “pede um tambor de criança no meio de uma orquestração profissional”. Para a solista, isso é difícil para uma orquestra, já que “ele foi escrito de uma forma em que não será tocado todo certinho”.
Simone vê “Momoprecoce” como uma “conversa entre orquestra e piano”. “A orquestra sempre apresenta o próximo personagem, que será interpretado pelo piano. Com isso, ele descreve, de forma muito feliz, como eram as crianças brasileiras de 100 anos atrás.”
Canal didático no YouTube
Nascida em Caratinga, com uma trajetória internacional e, desde o início da pandemia, vivendo em Tiradentes, Simone mantém ativo seu canal no YouTube (simoneleitaoofficial), em que apresenta, de forma didática, a obra de grandes compositores.
Em 2014, participou do documentário “Pare, olhe, escute”, de Kátia Lund, que a acompanhou junto a uma orquestra formada por jovens músicos de Barra Mansa, no interior fluminense.
ORQUESTRA FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS
Regência: José Soares. Solista: Simone Leitão. Neste sábado (5/11), às 18h, na Sala Minas Gerais – Rua Tenente Brito Melo, 1.090, Barro Preto. Ingressos: de R$ 50 a R$ 167 (valores referentes à inteira). À venda no local e no site filarmonica.art.br