Jornal Estado de Minas

ARTES VISUAIS

Exposição coletiva de 14 ceramistas homenageia Drummond e o Modernismo


Desconstruir o utilitarismo da cerâmica e mostrar a poesia deste fazer artístico. Com esta proposta, a exposição coletiva “Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo” será aberta nesta quarta-feira (9/11), na Gilda Queiroz Galeria de Arte, em BH, onde ficará em cartaz até 10 de dezembro.




 
Com curadoria de Simone Von Rondon, a mostra aproxima poesia e artes plásticas no contexto das comemorações de 100 anos da Semana de Arte Moderna e dos 120 anos do nascimento de Carlos Drummond de Andrade. O mineiro é autor do poema que dá título à exposição.
 
“Se o Modernismo paulista esteve mais voltado para as artes plásticas, no mineiro sobressaiu-se a literatura”, afirma Simone Von Rondon. A curadora diz que o poema de Drummond é “pesado e angustiante”, mas carregado de ideias e sentimentos que as obras da mostra buscam expressar.

Minério, serras e paisagens

Peças em cerâmica e argila formam o conjunto assinado por 14 autores, influenciado pelo solo de Minas Gerais e seus minérios, assim como por serras e paisagens do estado. “É uma expressão da cultura local mineira”, diz Simone. “Traz o que de melhor Minas Gerais tem na cultura, na literatura.”

A curadora chama a atenção para a arte “como busca por superação, cura, alegria, por sair do convencional”. Cada artista traz uma experiência pessoal a respeito da cerâmica.

“Cerâmica remete a algo muito primitivo: pegar o barro e fazer utensílios”, diz Simone Von Rondon, chamando a atenção para a metáfora embutida nesse processo, desde o mito do homem feito de barro, passando por todos os mitos que permeiam a relação do homem com a terra, o que se intensifica em Minas Gerais.”





“Noventa por cento de ferro nas calçadas/ Oitenta por cento de ferro nas almas”, dizem os versos de Drummond, lembra a curadora. “Esse ferro parece fazer parte da nossa personalidade, a cerâmica remete a isso”, observa.
 
 

Simone Von Rondon cita também o simbolismo da cerâmica, marcando o diferencial entre o ser humano e o animal, “pois o homem fabrica os seus próprios objetos.”

A exposição coletiva reúne trabalhos de Ângela Costa, Bernadette Santiago, Denis Medeiros, Djenane Vera, Diva Dias, Eliane Maia, Enilda Felício Araújo, Jane Resek, Lídia Miquelão, Magaly Cabral, Marlucia Temponi, Pat Velloso, Regina Paula Mota e Renan Florindo.
 
“Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo” é a última da série de mostras que marcou o retorno das atividades presenciais da galeria Gilda Queiroz, após o fechamento imposto pela pandemia da COVID-19.





Em 2023, anuncia a curadora, a galeria vai buscar o intercâmbio com espaços e artistas no exterior, buscando maior inserção da arte mineira no mundo.

“TENHO APENAS DUAS MÃOS E O SENTIMENTO DO MUNDO”

Cerâmica. Coletiva com trabalhos de 14 artistas. Abertura nesta quarta-feira (9/11), às 19h. Gilda Queiroz Galeria de Arte. Rua Manaus, 52, sala 303, Bairro Santa Efigênia. Até 10 de dezembro. O espaço funciona de segunda a sexta-feira, das 14h às 19h.
 
* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria