"Quando a Cia. Sonho e Drama Folias Banana fez sua estreia na capital mineira, com o espetáculo “Antígona”, em 1987, um jovem fotógrafo, ainda em início de carreira, foi assistir ao espetáculo sem pretensões de fazer registro algum. A ousadia da montagem encantou o rapaz a ponto de, no dia seguinte, ele ir à companhia pedir permissão para fazer fotos na apresentação seguinte.
A montagem da Cia. Sonho e Drama Folias Banana era uma adaptação do texto original de Sófocles (497 a.C./406a.C) e o homônimo de Brecht (1898-1956). No palco, movimentos de luta e corpos nus davam a tônica da abordagem adotada pelo grupo mineiro. À época, era a primeira vez que o fotógrafo fazia esse tipo de registro – então estudante de publicidade, ele estava acostumado a fotografar dentro de estúdios.
“Antígona” foi tão marcante na vida do fotógrafo, que ele nunca mais deixou de registrar peças teatrais. No começo, trabalhava por conta própria. Com o tempo, passou a ser contratado pelos grupos e se tornou conhecido no meio.
Hoje com 56 anos, Guto Muniz ostenta um currículo invejável – fotografou 300 peças brasileiras, 300 internacionais e ainda fez mais de 1 mil registros de artistas e grupos de teatro de Minas Gerais.
Nove homenageados
Aberto no último sábado (5/11), o FIT-BH 2022 será realizado até a próxima sexta-feira (11/11). A programação inclui exposição itinerante com fotos de Muniz. “É uma mostra que homenageia nove companhias que estão comemorando alguma data redonda, por exemplo, 10, 15, 20 anos”, diz o fotógrafo.
As companhias homenageadas são Giramundo, com 50 anos; Oficcina Multimédia, 45; Grupo Galpão, 40; Armatrux, 30; Maldita Cia de Investigação Teatral, 20; Caras Pintadas, 15; Grupo Oriundo, 15; Grupo Pigmalião Escultura Que Mexe, 15; e Toda Deseo, 10 anos.
As centenas de imagens captadas por Muniz estão sendo apresentadas por meio de videoinstalações dentro de um ônibus que ficará, a cada dia, em um dos locais escolhidos para a realização dos espetáculos.
“São cinco vídeos diferentes em telas que estarão dentro do ônibus, além de seis tablets com o histórico dessas companhias. Todos os espetáculos desses grupos foram contemplados”, conta o fotógrafo.
Em conjunto com os curadores Andreia Duarte, Marcos Alexandre e Yara de Novaes, o fotógrafo pensou em fazer uma exposição ao ar livre, que fosse acessível ao maior número de pessoas possível.
“Mas, aí, nós pensamos que, independentemente de onde fosse montada, a exposição ficaria restrita ao público que passasse por aquele local”, diz. “Então nasceu a ideia de fazer dentro de um ônibus, que pudesse a cada dia ir até um dos locais onde estiver acontecendo uma intervenção.”
Roteiro valoriza a itinerância
A proposta é que o ônibus fique, ao menos, em dois lugares por dia.
Entre os locais escolhidos para a realização das intervenções, estão os teatros do Sesc Palladium, Palácio das Artes e Viaduto Santa Tereza, no Centro; Teatro Raul Belém Machado, no Alípio de Melo, na Região da Pampulha; centros culturais de Venda Nova, na Região Norte, e do bairro Padre Eustáquio, na Região Noroeste; Kilombo Manzo e Praça do Cardoso, ambos no Aglomerado da Serra, na Região Centro-Sul; além das sedes dos grupos Pierrot Lunar e Galpão Cine Horto, na Região Leste, e ZAP 18, na Região da Pampulha.
Com mais de 35 anos de carreira, Muniz não tem planos de parar de trabalhar. “Percebi que meus projetos estão todos ligados à memória e que eles servem como documentação histórica. Então, isso (ter a possibilidade de fazer um registro histórico) é o que me dá energia e ânimo para continuar fotografando”, afirma.
Tratar a foto como documentação histórica, de fato, é uma das maiores preocupações de Muniz. Exatamente por isso, em 2012, ele lançou o portal Foco in Cena, acervo com mais de 2 mil registros de espetáculos e grupos de teatro nacionais e internacionais.
A plataforma, além de disponibilizar as fotos das peças, traz informações como ficha técnica, ano de estreia e sinopse.
“Deu bastante trabalho fazer esse site”, conta Muniz. “Acabou que, durante a pandemia, quando ficamos cerca de dois anos parados, eu consegui organizar muita coisa do acervo. Mesmo assim, ainda tem muita coisa para entrar.”
Hoje, Muniz olha para sua trajetória e se orgulha em dizer que contribuiu para o registro histórico das artes cênicas em Belo Horizonte. No entanto, isso teve um preço: “Gostaria de assistir e ter assistido mais peças como mero espectador.”
FIT-BH
Até 11 de novembro em diversos locais da cidade. Ingressos à venda pelo Sympla e Eventim. Informações e programação completa: http://portalbelohorizonte.com.br/fit