Jornal Estado de Minas

ARTES CÊNICAS

Guto Muniz inaugura 'ônibus-galeria' na programação do FIT-BH 2022



"Quando a Cia. Sonho e Drama Folias Banana fez sua estreia na capital mineira, com o espetáculo “Antígona”, em 1987, um jovem fotógrafo, ainda em início de carreira, foi assistir ao espetáculo sem pretensões de fazer registro algum. A ousadia da montagem encantou o rapaz a ponto de, no dia seguinte, ele ir à companhia pedir permissão para fazer fotos na apresentação seguinte. 





A montagem da Cia. Sonho e Drama Folias Banana era uma adaptação do texto original de Sófocles (497 a.C./406a.C) e o homônimo de Brecht (1898-1956). No palco, movimentos de luta e corpos nus davam a tônica da abordagem adotada pelo grupo mineiro. À época, era a primeira vez que o fotógrafo fazia esse tipo de registro – então estudante de publicidade, ele estava acostumado a fotografar dentro de estúdios.

“Antígona” foi tão marcante na vida do fotógrafo, que ele nunca mais deixou de registrar peças teatrais. No começo, trabalhava por conta própria. Com o tempo, passou a ser contratado pelos grupos e se tornou conhecido no meio. 

Hoje com 56 anos, Guto Muniz ostenta um currículo invejável – fotografou 300 peças brasileiras, 300 internacionais e ainda fez mais de 1 mil registros de artistas e grupos de teatro de Minas Gerais.
 
Seu trabalho como fotógrafo de cena fez com que ele fosse um dos homenageados desta edição do Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte (FIT-BH), ao lado dos escritores Ailton Krenak e Conceição Evaristo, do diretor e dramaturgo João das Neves (1935-2018) e do cenógrafo Raul Belém Machado (1942-2012).

Nove homenageados

Aberto no último sábado (5/11), o FIT-BH 2022 será realizado até a próxima sexta-feira (11/11). A programação inclui exposição itinerante com fotos de Muniz. “É uma mostra que homenageia nove companhias que estão comemorando alguma data redonda, por exemplo, 10, 15, 20 anos”, diz o fotógrafo.





As companhias homenageadas são Giramundo, com 50 anos; Oficcina Multimédia, 45; Grupo Galpão, 40; Armatrux, 30; Maldita Cia de Investigação Teatral, 20; Caras Pintadas, 15; Grupo Oriundo, 15; Grupo Pigmalião Escultura Que Mexe, 15; e Toda Deseo, 10 anos.

As centenas de imagens captadas por Muniz estão sendo apresentadas por meio de videoinstalações dentro de um ônibus que ficará, a cada dia, em um dos locais escolhidos para a realização dos espetáculos.

“São cinco vídeos diferentes em telas que estarão dentro do ônibus, além de seis tablets com o histórico dessas companhias. Todos os espetáculos desses grupos foram contemplados”, conta o fotógrafo.





Em conjunto com os curadores Andreia Duarte, Marcos Alexandre e Yara de Novaes, o fotógrafo pensou em fazer uma exposição ao ar livre, que fosse acessível ao maior número de pessoas possível.

“Mas, aí, nós pensamos que, independentemente de onde fosse montada, a exposição ficaria restrita ao público que passasse por aquele local”, diz. “Então nasceu a ideia de fazer dentro de um ônibus, que pudesse a cada dia ir até um dos locais onde estiver acontecendo uma intervenção.”

Roteiro valoriza a itinerância

A proposta é que o ônibus fique, ao menos, em dois lugares por dia.
 
Entre os locais escolhidos para a realização das intervenções, estão os teatros do Sesc Palladium, Palácio das Artes e Viaduto Santa Tereza, no Centro; Teatro Raul Belém Machado, no Alípio de Melo, na Região da Pampulha; centros culturais de Venda Nova, na Região Norte, e do bairro Padre Eustáquio, na Região Noroeste; Kilombo Manzo e Praça do Cardoso, ambos no Aglomerado da Serra, na Região Centro-Sul; além das sedes dos grupos Pierrot Lunar e Galpão Cine Horto, na Região Leste, e ZAP 18, na Região da Pampulha.





Com mais de 35 anos de carreira, Muniz não tem planos de parar de trabalhar. “Percebi que meus projetos estão todos ligados à memória e que eles servem como documentação histórica. Então, isso (ter a possibilidade de fazer um registro histórico) é o que me dá energia e ânimo para continuar fotografando”, afirma.

Tratar a foto como documentação histórica, de fato, é uma das maiores preocupações de Muniz. Exatamente por isso, em 2012, ele lançou o portal Foco in Cena, acervo com mais de 2 mil registros de espetáculos e grupos de teatro nacionais e internacionais.

A plataforma, além de disponibilizar as fotos das peças, traz informações como ficha técnica, ano de estreia e sinopse. 

“Deu bastante trabalho fazer esse site”, conta Muniz. “Acabou que, durante a pandemia, quando ficamos cerca de dois anos parados, eu consegui organizar muita coisa do acervo. Mesmo assim, ainda tem muita coisa para entrar.”





Hoje, Muniz olha para sua trajetória e se orgulha em dizer que contribuiu para o registro histórico das artes cênicas em Belo Horizonte. No entanto, isso teve um preço: “Gostaria de assistir e ter assistido mais peças como mero espectador.”

FIT-BH

Até 11 de novembro em diversos locais da cidade. Ingressos à venda pelo Sympla e Eventim. Informações e programação completa: http://portalbelohorizonte.com.br/fit