Jornal Estado de Minas

LUTO NA MÚSICA

Caetano e Gil se emocionam ao comentar morte de Gal


Caetano e Gil participaram, na tarde desta quarta-feira (9/11), ao vivo, do programa "Estúdio 1", da GloboNews, apresentado por Andréa Sadi, para homenagear Gal Costa. Um dos principais autores de temas para a intérprete, Caetano falou desse processo. "Eu compus muitas canções. Ela apenas me avisava que estava fazendo disco e eu fazia as músicas", contou, antes de recitar "Minha voz, minha vida" e chorar.



Gil se recordou do início de tudo, quando, estimulados pela bossa nova e pela arte de João Gilberto, ele, Caetano, Gal e Bethânia despontaram para a vida artística. "Ela apareceu quando eu também apareci, Caetano apareceu, nós todos aparecemos para todos nós. Acabamos nos encontrando todos em torno daquele encantamento pela música nova do Brasil".

O compositor de "Refazenda" e "Tempo rei" também comentou sobre a música que fez para Gal, intitulada "Viagem passageira": "Ela se queixou que eu não tinha feito uma música para ela, para o disco anterior. Ela já estava tão habituada a ter canções nossas, minha e do Caetano, para os trabalhos dela".

"Fiz essa coisa sobre esse sentido passageiro da vida, a mochila de vivências que a gente carrega nas costas. Ela cantou com sentimento mesmo, profundo, que é o tema da canção", disse o cantor, em prantos. "Ela era como ela cantava mesmo. Muito doce, sempre leve, não tinha peso", completou.



Na entrevista, sem conter a emoção, Gil sublinhou esse traço da personalidade de Gal. "Tudo nela era doçura, era suavidade, e as memórias imediatas que me vêm são essas. Do lado abrasivo da personalidade dela, não tenho muitas memórias não. Uma vez ou outra ela ficava mais exaltada, mas propriamente vociferando, com queixas extremas com relação a qualquer coisa, isso ela não tinha não. Era sempre muito suave, muito doce", disse.

Caetano assomou que "Gal era doce e bárbara, naturalmente, mas ela era quase que permanentemente doce", dando a deixa para que a dupla fosse instada a falar do período dos Doces Bárbaros, nos anos 1970.

"Foi Bethânia que inventou de a gente fazer um trabalho em grupo. Ela tinha tido essa intuição. Gil e Gal estavam até com coisas preparadas, apresentações, e suspenderam para atender. Chico Buarque é quem diz que Bethânia e Milton Nascimento a gente sempre obedece", disse Caetano.

Ele se lembrou de quando Gil apresentou "Esotérico", ressaltando que considera a música uma das coisas mais lindas do mundo. "Em música, Gil é o nosso mestre, é 'o cara' da nossa turma, e nenhum de nós tem dúvidas disso", elogiou.



"Ele fez esotérico para Bethânia e Gal cantarem juntas, a duas vozes, esboçou a segunda voz, que Gal faria, e gravou. Gal aprendeu até rapidamente. A gente combinava de cantar em conjunto, mas Bethânia não muda a divisão que vem intuitivamente, então fica um junto que não é totalmente junto. Gal ficava sorrindo, mas fazendo a segunda voz com perfeição", disse Caetano. Ao final do programa, Andréa Sadi disse que era uma honra e um orgulho viver no tempo desses artistas, e os entrevistadores no estúdio aplaudiram.

Amigo de longa data de Gal Costa, Roberto Carlos ainda levou um tempo para lamentar publicamente a morte da cantora. Ele não escondeu ter ficado arrasado com a notícia que recebeu de sua equipe. "Sinto demais pela Gal. Uma tristeza muito grande. Gal maravilhosa sempre", escreveu o Rei.

Católico fervoroso, o cantor e compositor fez questão de amenizar o sofrimento dos amigos, família e fãs com uma mensagem religiosa: "Nosso Deus de bondade a proteja e a abençoe. Amém", publicou na legenda de uma foto em que os dois aparecem juntos. Maria Bethânia também muito próxima de Gal lamentou a perda da amiga. "Em choque, triste demais, difícil demais".

"Eu te amo e vou te amar para sempre. As saudades serão eternas". Foi assim que Milton Nascimento se despediu da grande amiga Gal Costa. O cantor, que mora em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, e atualmente está em turnê de encerramento de carreira, relembrou em vídeo um dueto com a baiana na música de sua autoria, "Paula e Bebeto". (com Folhapress)