Quando pensamos no início do rock nacional, nos vêm à mente os anos 1960: o programa “Jovem Guarda”, que estreou da TV Record em 1965, e o iê-iê-iê da dupla Roberto e Erasmo Carlos.
Porém, o jornalista Ricardo Bandeira avisa: o rock and roll chegou ao Brasil em 1955, bem antes disso, quando a cantora Nora Ney gravou “Rock around the clock”, do grupo Bill Haley and his Comets, para a versão brasileira da trilha sonora do filme homônimo.
Primeiros passos
“Baby... Rock! Histórias do rock’n’roll no Brasil de 1955 a 1965”, livro de estreia de Ricardo Bandeira, trata dos primeiros passos do gênero no Brasil, mostrando como ele se tornou ritmo do cancioneiro nacional. O lançamento está marcado para este sábado (12/11), das 11h às 14h, no Mercado Novo.
“Como o próprio título indica, este é um livro de histórias, no plural. Tive o objetivo de contar, a partir do texto jornalístico, histórias do rock’n’roll interessantes para se conhecer a evolução do gênero até a Jovem Guarda”, afirma Ricardo.
Jornalista há 30 anos – foi repórter do Estado de Minas –, Bandeira diz que este é um projeto à parte de sua trajetória profissional, nascido da paixão que nutre pelo rock.
O livro destaca tanto protagonistas quanto acontecimentos importantes para o desenvolvimento do gênero no Brasil. Bandeira detalha as trajetórias de Celly Campello, que conquistou o país com os hits “Estúpido cupido” e “Banho de lua”; Cauby Peixoto, com “Rock'n'roll em Copacabana”; Carlos Gonzaga, com “Diana”; e de Ronnie Cord, com “Rua Augusta”.
“Celly Campello foi a grande responsável pela popularização do rock no Brasil. Ela catapultou a universalidade do gênero no país, por meio das rádios e dos discos. No livro, a chamo de 'Elvis Presley de Saias', exatamente pela importância que ambos tiveram, guardadas as devidas proporções”, explica o autor de “Baby... Rock!”.
Além da trajetória de astros e estrelas da época, o livro destaca fatos que tiveram impacto na sociedade brasileira e contribuíram para firmar o gênero entre a juventude da época.
“No capítulo 2, recupero histórias sobre tumultos durante a exibição do filme 'Ao balanço das horas' (no original, 'Rock around the clock'). Na estreia, houve rebuliço causado pela agitação dos jovens que foram assistir ao longa, pois ele significava um tipo de licença para dançar e cantar dentro da sala do cinema”, relembra o autor.
O fato ocorreu em 1956, no Cine Paulista, na Rua Augusta, em São Paulo. De acordo com jornais da época, jovens proibidos pela polícia de dançar nas salas de exibição invadiram estabelecimentos comerciais e subiram em muros e para-choques de carros. Jânio Quadros, o governador na época, ordenou a detenção dos envolvidos. Resultado: o longa foi proibido para menores de 18 anos.
Bandeira afirma que o período pré-Jovem Guarda foi eclipsado por anos posteriores, quando o rock nacional se firmou como expressão cultural brasileira. Entretanto, argumenta, o período é de suma importância para se compreender o sucesso comercial do gênero nos anos 1970 e 1980.
“Este período de 10 anos é geralmente tratado nos livros e documentários como nota de rodapé. Por isso decidi levá-lo aos holofotes, ouvindo os protagonistas”, conta Ricardo.
Cauby roqueiro
O jornalista, que começou sua pesquisa em 2010, entrevistou figuras importantes para a história do rock nacional, como Cauby Peixoto, falecido em 2016, e o cantor e compositor Demétrius, que morreu em 2019.
“É um livro que interessa não apenas a quem gosta de rock, mas a quem gosta de música em geral, bem como de histórias”, diz Ricardo Bandeira.
“BABY... ROCK!”
Histórias do rock’n’roll no Brasil de 1955 a 1965
• De Ricardo Bandeira
• Editora Bushido
• 392 páginas
• Lançamento neste sábado (12/11), das 11h às 14h, na Vinilleria. Terceiro piso do Mercado Novo, Rua Rio Grande do Sul, 499, Centro.
* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria