Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Milton Nascimento dá adeus aos palcos durante show apoteótico no Mineirão


Uma noite histórica, um encontro motivado por uma despedida, atravessado por fortes emoções de ambos os lados, no palco e na plateia. Foi assim o show de encerramento da turnê "A última sessão de música", que marcou o adeus de Milton Nascimento dos palcos, na noite deste domingo (13/11).





Às 17h, já havia movimentação intensa de pessoas e veículos no entorno do Mineirão. Dentro do estádio, Zé Ibarra aqueceu o público a partir das 18h, abrindo os trabalhos com "Dos cruces", no formato voz e violão. 

Ibarra lembrou Gal Costa, falou da tristeza da perda e cantou, ao piano, "Minha voz, minha vida". Emendou com "O bem do mar", de Dorival Caymmi. Pediu desculpas por desafinar, "por causa da emoção".

Ao final da abertura, foi exibido nos telões que ladeavam o palco o registro de Milton e Gal cantando "Paula e Bebeto" juntos em estúdio e, em seguida, uma foto dos dois abraçados, tendo "Pérola negra", de Luiz Melodia, na voz da cantora, como trilha. Seguiram-se outros temas de Gal, como "Dê um rolê", "Barato total", "Objeto sim, objeto não", entre outras.





O público deu um show à parte agitando os celulares com a lanterna acesa e bastões verdes fluorescentes no ar.
 
Fãs de Bituca não seguraram as lágrimas de emoção (foto: Túlio Santos/EM/D.A. Press)
 

Às 19h, Milton foi anunciado, com o nome dos integrantes da banda e de toda a equipe técnica. Na plateia, era possível flagrar o nível de emoção, entre o riso largo e o choro estampado nos fãs.

Em vídeo exibido nos telões, Milton se apresenta, diz que gosta mesmo é de ser chamado de Bituca, fala de suas parcerias no Brasil e no mundo e da despedida dos palcos, "da música, jamais". Ele completou 80 anos em outubro.

Às 19h05, as cortinas se abriram. Milton estava sentado no centro do palco, empunhando uma sanfona. A levada percussiva, do projeto "Tambores de Minas", precedeu os acordes do instrumento de infância que Milton, visivelmente emocionado, tinha em mãos, executando "Ponta de areia" como tema de abertura.



Zé Ibarra fez o show de abertura da noite (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Homenagem para Gal

O público aplaudiu e gritou "Bituca". Tentando conter as lágrimas, ele disse: "Este show é dedicado à minha querida Gal Costa". Depois, com voz firme, brindou o público com "Canção do sal". Um solo curto de baixo introduziu "Morro velho".

"Agora sou eu", disse Milton, espirituosamente, depois que lhe tiraram o manto que compunha o figurino de Ronaldo Fraga e puseram em sua cabeça a característica boina tão colada à sua imagem.

Disse que as três músicas anteriores foram gravadas pelo grande amor de sua vida, Elis Regina. Depois cantou "Outono" e "Amor de índio". Na sequência, foi a vez de "Vera Cruz", cantada por Zé Ibarra.




 
Milton retomou o protagonismo com "Pai grande". Diante dos gritos da plateia de "Bituca, eu te amo", ele devolveu com um "eu também amo vocês".
 
Beto Guedes, Milton Nascimento e Lô Borges cantam no Mineirão, 50 anos depois do lançamento de 'Clube da Esquina' (foto: Túlio Santos/EM/D.A. Press)

A banda do Clube

Subiram ao palco, para delírio do público, Toninho Horta, Wagner Tiso, Lô Borges e Beto Guedes. Juntos, cantaram "Para Lennon e McCartney". Antes da música, Milton falou da recente escolha do disco "Clube da Esquina" como o melhor do Brasil, o que justificava o encontro. Todos aqueles convidados participaram do álbum.

Seguiu-se uma calorosa ovação. Ao final, os acordes da guitarra de Toninho introduziram "Um girassol da cor do seu cabelo", ainda com os sócios do Clube em cena. O tema levantou a plateia, que pulava como pipoca na pista.
 
Toninho Horta tocou na despedida de Bituca (foto: Túlio Santos/EM/D.A. Press)
 

Os convidados deixaram o palco antes de Milton cantar, com potência vocal, "Cais". Depois veio "Tudo o que você queria ser". Em seguida, foi a vez de Wilson Lopes ganhar os holofotes com um solo pungente, que precedeu a interpretação também pungente de Zé Ibarra para "San Vicente".





"Viver este momento depois de 60 anos de carreira é a prova de que os sonhos não envelheceram", disse Milton ao retomar o microfone com "Clube da esquina nº 2". Novamente, os bastões verdes iluminaram a plateia.

Milton disse, depois, que faria a música que compôs para sua mãe, e pôs à prova o poderio de sua banda com a execução vigorosa de "Lília".

Baile na pista

O clima seguiu agitado com "Nada será como antes". Milton e sua banda executaram, em seguida, o tema que dá nome à turnê, "A última sessão de música" – a cargo do piano solo. "Fé cega, faça amolada" deu sequência ao baile com o público cantando junto, em coro, e dançando muito.

Sem pausa, Milton emendou "Paula e Bebeto". "Agora vamos fazer uma pequena homenagem a Mercedes Sosa", disse, para que Zé Ibarra introduzisse "Volver a los 17", com o reforço pontual da voz de Milton.





Em seguida, convidou o "grande e velho amigo" Samuel Rosa, que agradeceu a Milton “por existir”. De guitarra em punho, cantou "O trem azul" em dueto com Milton, alternando estrofes.

Wilson Lopes introduziu "Cálix bento", que o público cantou agitando o corpo na levada congadeira, que também sustentou "Peixinhos do mar", encadeando com "Cuitelinho", com Milton puxando os erres do sotaque caipira.

"Cio da terra" veio na sequência, suavizando a levada, com Milton mais uma vez transbordando o esplendor de sua voz. Dedicou ao público, que disse guardar, cada um, do lado esquerdo do peito, "Canção da América".
 
Seguiu com "Caçador de mim", contando com o reforço vocal de Zé Ibarra e do coro da plateia. Depois, lembrou que começou cantando na noite e fez "Nos bailes da vida". Mais uma vez, os celulares com lanternas acesas iluminaram o estádio.





Depois foi a vez da instrumental "Tema de Tostão". Outro convidado da noite, Nelson Ângelo subiu ao palco para fazer "Fazenda". "Bola de meia, bola de gude" pôs o público para dançar novamente.
 
Público deu show à parte no encerramento da turnê "A última sessão de música", no Mineirão (foto: Túlio Santos/EM/D.A. Press)
 

O choro de Bituca

Ao dizer que o show estava chegando ao fim, Milton apresentou a banda, e foi "apresentado" por Zé Ibarra: "Milton Bituca Nascimento", o que fez o público gritar a plenos pulmões o apelido do ídolo, que não conteve o choro.

Mesmo com a voz um pouco embargada, ele cantou com vigor "Maria Maria".

Um festival de fogos de artifício saídos da cobertura do estádio amplificou o clima apoteótico do fim da apresentação. Milton, então, sorriu.





A plateia, obviamente, pediu bis. E teve. Quando a cortina se reabriu, Milton estava acompanhado apenas de Tiso ao piano, e fizeram "Coração de estudante".

Aos poucos, o restante da banda foi retornando. "Viva a democracia!", disse Milton, ao fim da execução, deixando que o público se manifestasse efusivamente. 

Com Toninho Horta novamente no palco, soltando uma introdução junto com Wilson Lopes, Zé Ibarra convocou o público para cantar "Travessia". 

A partir da segunda estrofe, o autor da canção soltou a voz. Toninho somou também a sua à execução do clássico. 

Declaração de amor a Fernando Brant

Depois, ele cantou "Encontros e despedidas", outro clássico. No meio da música, disse: "Fernando Brant, onde você estiver, eu te amo". 

Ao final, chamou ao palco toda a sua equipe, a começar pelo filho e produtor Augusto, que o amparou para que se levantasse. E foi com todos, no palco e na plateia, gritando "Bituca" que a noite histórica e memorável chegou ao fim.