Jornal Estado de Minas

DANÇA

De volta a BH, "Tchibum" mergulha na ironia para fazer crítica social


Montado no início de 2015 e apresentado em Belo Horizonte apenas uma vez, o espetáculo “Tchibum”, da Paraopeba Cia de Dança, retorna à capital após passar por Alemanha, Portugal e República Tcheca, além de outras cidades brasileiras. Concebido por Alan Keller, coreógrafo da escola do Teatro Bolshoi no Brasil, a montagem trabalha a dualidade entre o drama e o lúdico e como o brasileiro e o europeu encaram esses dois estados de espírito.





Para Keller, a compreensão do espetáculo por parte do público nacional e estrangeiro é a mesma. A recepção, entretanto, difere naquilo em que cada um foca mais. Enquanto o brasileiro se apega ao ludismo do show, o europeu se concentra na parte dramática.

Nascido do sentimento provocado pelo atentado à revista Charlie Hedbo, em Paris, em paralelo à crise hídrica vivida na metade da década passada, “Tchibum” reflete sobre como o brasileiro passou a banalizar tragédias, enquanto os franceses sentiram o luto de forma coletiva, em 2015.

A abordagem dos temas sociais acontece de forma satírica e caricata, potencializando sua força poética, política e estética e resultando em uma obra miscigenada entre Brasil e França. Uma mistura de feijoada com cassoulet, que, a seu ver, deu muito certo.





No palco, oito dançarinos emulam a brincadeira feita por crianças em uma piscina de plástico vista por Keller ao sobrevoar as favelas do Rio de Janeiro antes de pousar no Galeão.

“O que o público vai assistir é um zoom, um exagero, uma sátira. Igual a um jornal satírico faz ao dar um zoom. As expressões são mais ampliadas, os gestos são mais ampliados, no sentido de parecer que a piscina fica menor ainda. Quando eu amplio o gesto, a sensação é de que vai tudo dar errado. É um aperto, como nós brasileiros sempre estamos, e a obra nos leva a refletir sobre isso e sobre como a gente deve observar a arte como caminho de consciência”, reflete Alan Keller.

Música francesa

Transitando entre os dois países, a trilha do espetáculo é toda francesa, elaborada por meio de uma pesquisa musical, com algumas obras já conhecidas do público. Já a dança, os gestos, o figurino – de Luiz Dias –, e a cenografia são todos brasileiros, em uma mistura e contraponto, ao mesmo tempo.





A mistura também acontece entre o interior e a capital. De Paraopeba, na microrregião de Sete Lagoas, a companhia conta com dançarinos das duas cidades, e também de Matozinhos, ao realizar trabalhos de arte-educação para projetos sociais de formação entre 30 e 100 crianças. Para Keller, que é de Três Marias, viveu em Paraopeba e agora mora em Sete Lagoas, é sempre bom para a população do interior receber artistas da capital.

“Então a gente quer muito que o público belo-horizontino prestigie e valorize os artistas do interior também”, finaliza.

"TCHIBUM"
Direção, Concepção e Coreografia: Alan Keller. Elenco: Caio Santos, Gabriela Edmundo, Gabriela Fernandes, Hully Nunes, Lucianna Figueiredo, Matheus Loures, Maysa Ankara, Nadson Mascarenhas e Rick Alled. Participação especial: Erika Rosendo. Teatro FUNARTE Rua Januária, 68 - Centro, Belo Horizonte. Sexta, Sábado e Domingo (18, 19 e 20/11), às 20h. Ingressos: 20,00 (inteira) e 10,00 
(meia-entrada), adquiridos antecipadamente pelo sympla ou na portaria no dia do evento. https://www.sympla.com.br/evento/tchibum-paraopeba-cia-de-danca/1739617

* Estagiário sob supervisão do editor Álvaro Duarte