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Estado de Minas CIDADANIA

Confira a agenda cultural em BH deste Dia Nacional da Consciência Negra

Neste domingo (20/11), a luta antirracista será tema de oficinas, sessão de cinema, rodas de conversa e cortejo afro em vários espaços da capital mineira


20/11/2022 04:00 - atualizado 19/11/2022 02:29

Pintora negra Bella Nía está sentada e olha para mandala nas cores azul, branco e verde
A artista plástica Bella Nía ressalta que as pessoas ignoram a multiplicidade das manifestações culturais da África (foto: Laís Santos/divulgação)

Quando Zumbi dos Palmares foi assassinado por expedição portuguesa, em 20 de novembro de 1695, o então governador da capitania de Pernambuco, onde se encontrava o Quilombo dos Palmares, entre os atuais estados de Alagoas e Pernambuco, mandou que a cabeça do líder negro fosse arrancada, salgada e exposta no centro do Recife.

“Determinei que pusessem sua cabeça em um poste no lugar mais público desta praça, para satisfazer os ofendidos e justamente queixosos e atemorizar os negros que supersticiosamente julgavam Zumbi um imortal”, escreveu o governador Caetano de Melo Castro ao rei de Portugal, Pedro II.

A carta dá a dimensão do que Zumbi dos Palmares representava em vida. Morto, ele se tornou o imortal que os brancos temiam, símbolo da luta dos escravizados brasileiros. Tanto é que a data de sua morte se transformou no Dia Nacional da Consciência Negra, em detrimento do 13 de maio, quando a escravatura foi abolida no país.
 
A data de hoje é uma forma de lembrar a dívida histórica que o país tem com os negros. Em três séculos e meio, o Brasil recebeu, sozinho, 40% dos 12,5 milhões de escravizados mandados à força da África para a América, de acordo com dados da Slave Voyages.

Pintura e capoeira

Em Belo Horizonte, o Dia da Nacional da Consciência Negra será celebrado por meio de vários eventos. O CCBB promove, neste domingo (20/11), a oficina de pintura “Resgatando a arte feminina africana”, ministrada pela artista plástica negra Bella Nía, e roda de capoeira com o Coletivo Cultural Angola de Ouro.

“A África é um continente, não um único país”, ressalta Bella, lembrando que há esta confusão no senso comum, fazendo com que se ignorem as particularidades de cada país africano.

“Quando penso em arte africana, primeiro estou pensando no corpo preto. Num corpo africano que se manifesta de diversas formas. Seja na dança – existem diversas danças em cada sociedade africana – quanto no canto e na pintura”, explica a artista.

Em muitas culturas africanas, as mulheres são as principais responsáveis pelo desenvolvimento da pintura, informa Bella Nía.

“Em algumas sociedades, quando há nascimento de alguma criança ou morte dos mais velhos, as mulheres levam esses acontecimentos para a pintura. Produções muito vivas contam uma história e estão conectadas com a comunidade inteira”, explica.
 
Cineasta Zózimo Bulbul sorri e tem o rosto entre as mãos, com os braços cruzados e as palmas voltadas para fora
Obra do cineasta Zózimo Bulbul (1937-2013) será lembrada, com a exibição do filme "Abolição" no MIS Santa Tereza (foto: Reprodução)
 

Neocolonialismo cultural

Bella, que estudou na Escola Guignard da Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg), não hesita em dizer que a mentalidade colonialista está presente nos dias atuais. O neocolonialismo faz com que as pessoas considerem inferior tudo o que é originário, afirma.

“Em minha trajetória como estudante, sempre me incomodei ao perceber que a arte é vista sob olhar muito eurocêntrico (no ambiente acadêmico). Quando a gente fala em história da arte, estamos falando de uma história da trajetória dos pintores europeus”, ressalta.

“Não que isso não seja importante para a história da arte como um todo. Mas a exclusão da criação africana leva essa arte para o lugar de artesanato, e não de produção artística e cultural, o que, para mim, é uma grande manifestação racista.”

Buscando promover a “descolonização”, centros culturais e entidades públicas e privadas oferecem programação especial neste Dia Nacional da Consciência Negra.
 
Integrantes da Cia. Baobá dançam no palco, usando roupas coloridas que remetem à África
Cia. Baobá, especializada em dança afro, vai se apresentar no Palácio da Liberdade (foto: Cia. Baobá/divulgação)
 

Cortejo no Palácio da Liberdade

O projeto Afromineiridades: Diversidade e Cultura Negra em Minas Gerais oferece atividades em diversos espaços do Circuito Cultural Praça da Liberdade, por iniciativa da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais e do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha).

Às 9h, haverá oficina de percussão e ritmos afro com o grupo mineiro Filhos de Zambi, na sede do Iepha. Às 10h, no Palácio da Liberdade, haverá cortejo cênico-musical comandado por Junia Bertolino e Cia. Baobá.

No BDMG Cultural, feira de artesanato afro-mineiro contará com produções de criadores vindos de Berilo e Caraí, cidades do Vale do Jequitinhonha; de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte; e da Comunidade Quilombola e Apanhadora e Sempre-vivas Raiz, localizada na Serra do Espinhaço, ao Norte do estado.

Na fachada do Espaço do Conhecimento UFMG, estará em cartaz, a partir das 18h30, a mostra “Patrimônio em festa: 200 anos da Festa do Rosário de Chapada do Norte”, que remete à tradicional celebração afro-brasileira realizada naquela cidade do Vale do Jequitinhonha.

A Secretaria Municipal de Cultura também preparou programação especial este domingo. Às 11h, o Museu Histórico Abílio Barreto oferece visitas mediadas especiais e a roda de conversa “A origem da cidade de Belo Horizonte e seu passado afrodescendente”.
 
Três mulheres negras observam outra mulher fazer limpeza de pele em cliente com o rosto coberto de gaze
Curta "A luta das Auras" será exibido à tarde, no MIS Santa Tereza (foto: Iza Campos/divulgação)
 

Cinema em Santa Tereza

No MIS Cine Santa Tereza, haverá, às 16h30 e às 18h30, respectivamente, exibição dos documentários “A luta das Auras” (2022), de Marina Araújo, sobre a violência a que mulheres negras, mães e trabalhadoras pobres são submetidas por conta de sua condição social, e “Abolição” (1988), do diretor Zózimo Bulbul (1937-2013), sobre a vida do negro no Brasil da década de 1980.

Às 10h deste domingo, o painel “Como podemos contribuir para uma sociedade antirracista?”, com mesas-redondas, rodas de capoeira e blocos de carnaval, será promovido pela ONG Kolping Padre Teodoro da Vila Belém, localizada no Bairro São Salvador, na Região Noroeste de BH.

“O Dia da Consciência Negra é um movimento necessário, pois o racismo existe até hoje. Caso não existisse, a gente não precisaria ter um dia da consciência”, destaca a artista plástica Bella Nía.

Bella faz uma ressalva: “Muitas pessoas que trabalham com a cultura de matriz africana só conseguem ser convidadas para fazer oficinas, apresentar danças e outros espetáculos no Dia da Consciência Negra. Ou seja, em todo o resto do ano, não se tem este olhar para a produção artística de matriz africana. É extremamente importante cultuar a data. Mas por que não expandi-la para o restante do ano?”.

Outras atividades serão realizadas ao longo deste mês em espaços culturais da capital. A mobilização se dá nos 14 centros culturais da cidade, Arquivo Público de Belo Horizonte, Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado, Escola Livre de Artes Arena da Cultura, Teatro Marília, Espaço Cênico Yoshifumi Yagi/Teatro Raul Belém Machado, Museu Histórico Abílio Barreto e Museu da Moda de Belo Horizonte. A programação completa pode ser conferida nas redes sociais de cada espaço.
 
Tamara Franklin olha para a câmera com expressão desafiadora
Tamara Franklin faz palestra na ONG Kolping Padre Toledo (foto: Acervo pessoal)
 

PROGRAMAÇÃO

CCBB

>> 14h – Oficina de pintura “Resgatando a arte feminina africana”, com Bella Nía
>> 17h – Roda de capoeira, com Coletivo Cultural Angola de Ouro
• Praça da Liberdade, 450, Funcionários

ESPAÇO DO CONHECIMENTO UFMG

>> 18h30 – Exibição de “Patrimônio em festa: 200 anos da Festa do Rosário da Chapada do Norte”
• Praça da Liberdade, 700, Funcionários

BDMG CULTURAL

>> 10h às 15h – Feira de artesanato afro-mineiro
• Rua Bernardo Guimarães, 1.600, Lourdes

SEDE DO IEPHA

>> 9h – Oficina de percussão, com Filhos de Zambi
• Praça da Liberdade, 470, Funcionários

PALÁCIO DA LIBERDADE

>> 10h – Júnia Bertolino e Cia. Baobá, apresentação e cortejo
• Praça da Liberdade, Funcionários

MUSEU HISTÓRICO ABÍLIO BARRETO

>> 11h – Roda de conversa “A origem da cidade de Belo Horizonte e seu passado afrodescendente” e visitas mediadas
• Avenida Prudente de Morais, 202, Cidade Jardim

MIS SANTA TEREZA

>> 16h30 – Documentário “A luta das Auras”, de Marina Araújo
>> 18h30 – Filme “Abolição”, de Zózimo Bulbul
• Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza

CENTRO CULTURAL LIBERALINO DE OLIVEIRA

>> 9h às 22h – Laços da Ancestralidade. Encontro de terreiros, guardas, grupos de capoeira e de samba
• Av. Antônio Carlos, 821, dentro do Mercado da Lagoinha

CENTRO CULTURAL USINA DA CULTURA

10h às 18h –  Encontro de saberes de capoeira, com Mestre Niltinho
• Rua Dom Cabral, 765, Ipiranga

CENTRO DE REFERÊNCIA LAGOA DO NADO

>> 13h30 às 16h – Projeto Uai Soul Marquinho, com Marco Rosa
• Rua Ministro Hermenegildo de Barros, 904, Itapoã

KOLPING PADRE TOLEDO

>> 10h – Palestra “Educação antirracista – O que é? Como fazer?”, com Cristina Tadielo, Tatiana Pauline Fernandes e Zaira Jesus Pereira, da Casa das Pretas
>> 11h – Palestra “Antirracismo e famílias interraciais”, com Rafael Gregório e Júnia Soares da Silva
>> 12h – Palestra “Rimada”, com Tamara Franklin
>> 14h30 – Roda de capoeira, com Grupo de Cultura Mineira
>> 15h30 – Bloco Transborda
>> 16h30 – Bloco da Língua
• Rua Barbosa, 355, Bairro São Salvador









 


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