"Nossa, eu acho que ele (o escritor Saint-Exupéry) ia gostar, ia achar muito legal ver o Pequeno Príncipe dele branco, com cabelo amarelo, agora com um black power, negro", diz Levi Asaf antes de entrar no palco. O menino, de 9 anos de olhos brilhantes e sorriso maroto, é o primeiro ator negro a interpretar no teatro brasileiro o mítico personagem do grande clássico da literatura infantil, em musical que está em cartaz desde o final de setembro no teatro Villa Lobos, em São Paulo.
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"Ele se sente realizado por ser o primeiro protagonista negro, porque Levi sofreu muito racismo na escola dele. Os comentários mais leves são cabelo de bucha, cabelo de bombril", revela sua mãe, Rosane Luiz Eloi. E ver seu filho no palco a deixa "muito orgulhosa".
"Em 2019, eu tive um câncer, ele estava com 6 anos. Lutei muito para vencer o câncer e ao ver ele combatendo mesmo e indo para cima me fortalece (...) Espero que ele fortaleça cada vez mais crianças negras como ele que precisam de mais oportunidades", acrescenta.
No Brasil, onde se comemorou ontem (2011) o Dia da Consciência Negra, o racismo estrutural segue bastante enraizado na sociedade. Mais da metade da população é preta ou parda, mas os brancos continuam muito mais representados em cargos de responsabilidade nas empresas, na política ou na mídia.
INCLUSÃO
Os jovens espectadores desta montagem do “Pequeno Príncipe” que valoriza a diversidade ficam muito felizes em ver um pouco mais de representatividade no teatro.
"Se você assistir a filmes antigos, ou até mesmo mais recentes, você não vai ver muitas pessoas negras. Uma ou duas pessoas no filme. Agora, um menino de 9 anos interpretar o papel principal de um conto clássico... é importante demais, sabe?", comenta Alex Imoto Mendes, de 11 anos.
"Acho que muitas crianças se identificaram, eu vi muitas crianças como os olhinhos brilhando, e isso é muito importante, porque é uma coisa que a gente não tinha há algum tempo, quando eu era criança, por exemplo", concorda Naira Ribeiro, de 33 anos, diretora de compras de uma empresa em São Paulo.
Para Daniela Cury, diretora-associada nesta peça cuja direção-geral é assinada por Fernanda Chamma, "a diversidade do elenco "é um dos aspectos mais importantes em um espetáculo no "nível de Broadway".
POESIA
O cenário traz um toque de poesia, com estrelas que ganham vida e se transformam em dançarinos, planetas laranjas, mergulhando os espectadores em um mundo de fantasia que lembra um filme de Georges Méliès.
Este é o primeiro papel de destaque no teatro para Levi Asaf, que já atuou em ficções para Netflix e Globoplay, posa para fotos e faz comerciais como modelo desde 2018.
"Passei no teste de elenco do 'Pequeno Príncipe' no dia do meu aniversário, foi um ótimo presente!", conta, abrindo um sorriso.