(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas CINEMA

Festival de Brasília consagra o documentário "A invenção do outro"

Título sobre expedição na Amazônia em busca de índios isolados levou o Candango de melhor filme e outros três; ficção "Mato seco em chamas" recebeu sete troféus


21/11/2022 19:59 - atualizado 21/11/2022 19:59

Índios korubo observam em tela de câmera imagens de si mesmos captadas por cineasta
"A invenção do outro" acompanha expedição realizada pela Funai em 2019, sob o comando do indigenista Bruno Pereira, assassinado em junho passado, no Vale do Javari (foto: Dibubuia/Divulgação)

“A invenção do outro”, longa-metragem documental dirigido por Bruno Jorge, venceu a 55ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O filme levou também os troféus Candango de melhor fotografia e melhor montagem, ambas assinadas pelo diretor, e melhor edição de som (Bruno Jorge e Bruno Palazzo). 

“Escasso”, da Encruza, foi o vencedor do prêmio de melhor curta-metragem. O melhor longa segundo o júri popular foi “Rumo”, de Bruno Victor e Marcus Azevedo, que levou também o Prêmio Especial do Júri, que trata dos desdobramentos da política afirmativa de cotas raciais nas universidades brasileiras.

A cerimônia de premiação foi realizada na noite do último domingo (20/11). Após o resultado, Bruno Jorge afirmou que “ganhar esse prêmio é um abraço e uma forma de reconhecimento. Porém, o mais importante é que isso ajuda, de certa forma, que o filme possa circular e dialogar com outras plateias. Essa é grande consequência disso tudo”. 

Último filme a ser exibido na Mostra Competitiva Nacional, na noite de sábado, “A invenção do outro” acompanha expedição realizada pela Funai em 2019 na floresta amazônica, com o objetivo de localizar índios isolados da etnia Korubo. A expedição foi comandada por Bruno Pereira, indigenista assassinado no Vale do Javari, em junho passado, junto com o repórter britânico Dom Phillips. A viúva de Bruno Pereira, Beatriz Mattos, acompanhou a sessão.

Sobre as condições de filmagem na floresta, Bruno Jorge afirmou, em entrevista anterior à vitória de seu filme: “Estávamos todos em perigo e o tempo todo, ninguém, que ali estivesse, não sabia disso. Na floresta a morte é, talvez, algo mais íntimo, dela se fala e frequenta de diversas formas. Seis colaboradores da Funai já haviam sido mortos em tentativas de contato anteriores com os korubos, o último por uma bordunada por trás enquanto filmava. Para além disso, havia as outras ameaças da selva, como invasores, animais e acidentes. O medo é uma premissa de sobrevivência, não há outra forma de permanecer por lá muito tempo sem fazer uso dela. Em compensação, a chave mental é não deixar esse medo te paralisar. O jogo é esse”.

O outro grande premiado da noite foi “Mato seco em chamas”, de Adirley Queirós e Joana Pimenta, que ficou com os troféus de melhor direção, melhor roteiro, melhor atriz (dividido entre Lea Alves e Joana Darc), melhor atriz coadjuvante (Andreia Vieira), melhor ator coadjuvante (o coro de motoqueiros), melhor trilha sonora e melhor direção de arte.

Pessoas circulam de moto por viela enlameada em cena de %u201CMato seco em chamas%u201D
Dirigido por Adirley Queirós e Joana Pimenta, "Mato seco em chamas" concentrou, junto com "A invenção do outro", 11 dos 13 troféus distribuídos pelo júri oficial (foto: joana pimenta/divulgação)

Representatividade

Lea Alves falou da emoção de ganhar o prêmio de melhor atriz com sua primeira atuação profissional, e principalmente o significado da vitória, no dia 20 de novembro: “Estou representando as mulheres, que têm força, as mulheres negras, no dia da Consciência Negra, e o Sol Nascente, Ceilândia, em si”.

“Mato seco em chamas” é uma distopia ambientada numa Ceilândia e num Brasil dominados pela extrema direita. O filme acompanha três mulheres (Chitara, Léa e Andrea) que recolhem petróleo de oleodutos e o refinam até que se torne gasolina. O trio se transforma nas Gasolineiras das Kebradas, que, montadas em motos, agitam as ruas da cidade no entorno da capital federal.


Política

Em entrevista antes do início do festival, Adirley Queirós, que já havia apresenado o filme em diversas mostras internacionais, afirmou que “política, em filme, tem sempre. Está no modelo de produção, na forma como a gente faz filmes. É extremamente político ter as pessoas com quem trabalhamos no espaço em que a gente trabalha, no local em que filmamos. O político está aí mais que no teor político-partidário. Há a política de território também. Ceilândia é transformada no imaginário das pessoas. Fazemos, principalmente, política de cinema, mesmo porque se fazemos com dinheiro do Estado, é importante retornar essa política em forma de economia e de distribuição de renda”.

Carlos Francisco recebeu o Candango de melhor ator, por sua atuação no longa mineiro “Canção ao longe”, de Clarissa Campolina. Apenas esse e o Prêmio Especial do Júri (para “Rumo”) foram para títulos diferentes de “A invenção do outro” e “Mato seco em chamas”.

Em entrevista prévia à premiação, o mestre em artes visuais Marcus Azevedo, codiretor de “Rumo”, afirmou sobre o mecanismo de cotas: “A grande vitória é ver as mudanças que elas proporcionaram na estrutura da universidade, ao se deparar com esse contingente de estudantes negros e todo o debate que eles trouxeram. A luta pela inclusão de autores negros nas ementas dos cursos, fazer com que muitos professores tenham que se abrir para pesquisas com recorte racial, tudo se tornou ganho importante para a universidade, após as cotas”.

A noite de premiação, comandada pelas atrizes Bárbara Colen e Dandara Pagu, foi transmitida ao vivo pelo canal do Festival de Brasília no YouTube. Depois de uma semana intensa, a primeira edição presencial do Festival desde 2020 ressaltou a importância e a emoção da interação.

Iniciado no último dia 14/11, a edição 2022 do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro teve seis longas e 12 curtas em competição. Os títulos foram selecionados a partir de 213 longas e 937 curtas inscritos, sob a curadoria geral de Sara Rocha. 

O júri oficial da competição de longas foi formado pela diretora Alice Lanari, a multiartista Ana Flávia Cavalcanti, a diretora Anna Muylaert, o crítico e professor Juliano Gomes e o diretor Sérgio de Carvalho. 

TROFÉU CANDANGO

Confira como foi a premiação do 55 Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

» Melhor Longa-metragem pelo Júri Oficial: “A invenção do outro”,  de Bruno Jorge

» Melhor Longa-metragem pelo Júri Popular: “Rumo”, de Bruno Victor e Marcus Azevedo 

» Melhor Direção: Adirley Queirós e Joana Pimenta, por “Mato seco em chamas”

» Melhor Atriz: Lea Alves e Joana Darc, por “Mato seco em chamas”

» Melhor Atriz Coadjuvante: Andreia Vieira, por “Mato seco em chamas”

» Melhor Ator:Carlos Francisco, por “Canção ao longe”, de Clarissa Campolina

» Melhor Ator Coadjuvante: Para o coro de motoqueiros de “Mato seco em chamas”

» Melhor Roteiro: Adirley Queirós e Joana Pimenta, por “Mato seco em chamas”

» Melhor Fotografia: Bruno Jorge, por “A invenção do outro”

» Melhor Direção de Arte: Denise Vieira, por “Mato seco em chamas”

» Melhor Trilha Sonora: Muleka 100 Kalcinha, por “Mato seco em chamas”

» Melhor Edição de Som: Bruno Palazzo e Bruno Jorge, por “A invenção do outro”

» Melhor Montagem: Bruno Jorge, por A invenção do outro”

» Prêmio Especial do Júri: “Rumo”, de Bruno Victor e Marcus Azevedo


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)