Jornal Estado de Minas

DISCO

Francis Hime está só (e muito bem acompanhado) em 'Estuário das canções'


O cantor, compositor e pianista Francis Hime lança o álbum autoral “Estuário das canções” (Biscoito Fino), com 12 faixas instrumentais inéditas. Duas delas são dedicadas a amigos dele que fizeram história na música brasileira: o violonista fluminense Raphael Rabello (1962-1995) e o compositor, arranjador e pianista carioca Luiz Eça (1936-1992). Outro tema foi inspirado na cantora Olívia Hime, mulher de Francis.





“Comecei a gravar este disco no ano passado. Alguns temas até já havia feito há algum tempo. Outros fui criando praticamente do zero, este ano. Gravei tudo no estúdio da Biscoito Fino, que tem um piano Steinway maravilhoso, no qual gosto de ficar tocando, às vezes até de madrugada”, conta Francis.

O clima intimista traduz a ligação do compositor, de 83 anos, com a natureza e com os amigos. “O verde é muito importante pra mim. Moro em uma casa cercada de árvores, então os títulos das músicas refletem muito isso: ‘Bucólica’, ‘Alvorada’, ‘Um rio’, ‘Riachinho’ e ‘Alameda’”, comenta.

Raphael Rabello, que se foi cedo, aos 32 anos, vítima de complicações pulmonares, era um dos violonistas mais talentosos do Brasil. “Raphael era um querido amigo que me incentivava muito a compor”, diz Francis, contando que começou a escrever essa música há tempos, mas só a concluiu este ano. “Era um esboço temático do qual ele gostava muito. Raphael sempre dizia: ‘Francis, por favor, conclui esse tema aí!’.”




Mestre Luizinho

A última faixa é dedicada a Luiz Eça. Fundador do Tamba Trio e um dos músicos mais influentes do Brasil, ele foi destaque da primeira fase da bossa nova. “Meu mestre informal. Ia para a casa dele, ficava fazendo arranjos e ele me dando muitas dicas de orquestração”, diz Francis.

Já “Para Olívia” é da lavra mais recente. “Compus este ano e dei de presente para ela, que é minha amada, minha parceira de vida e de música.”

O novo projeto reúne canções, seresta, valsas, baladas e temas com pegada mais jazzística. “É um disco de piano solo. Exponho o tema e depois faço modulações, arranjos bastante movimentados e sofisticados”, explica Hime. “Há leve inclinação para o clássico, o erudito, além de canções mais singelas. É um disco bem variado, no sentido de gêneros.”
 
Ao comentar as faixas, ele afirma que “Alvorada” “mergulha em universo mais ambicioso, que remete a construções sinfônicas”; já a valsa “Itaipava” se inspira na cidade serrana fluminense que é o refúgio dos Hime.





O clima de “Alameda” lembra passeios em pequenos bosques, “sem preocupações com tempo ou espaço, quase como caminhar pelo Jardim Botânico”, diz o autor. “E Riachinho’ é uma espécie de prima-irmã de ‘Alameda’.”

Novo disco vem aí

Shows de lançamento estão nos planos de Francis. Recentemente, ele se apresentou na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, com participação do violoncelista gaúcho Hugo Pilger.
 
“Vou fazer outro também em São Paulo. De repente, quem sabe em Belo Horizonte? Além de tocar, vou cantar algumas músicas conhecidas, misturando um pouco. Será a junção das mais conhecidas com as novas, instrumentais.”





Sucesso, aliás, é o que não falta no repertório de Francis Hime, um dos parceiros mais fiéis de Chico Buarque (“Meu caro amigo”, “Vai passar”, “Atrás da porta”, “Quadrilha”, “Passaredo”, “E se”, “Pivete” e “Trocando em miúdos”).

O pianista carioca compôs também com Edu Lobo (“O sim pelo não”) e Vinicius de Moraes (“Sem mais adeus”, “Valsa dueto” e “Tempo da flor”), entre outros autores.

Novidades vêm por aí. Em fevereiro, Francis Hime vai gravar outro disco. “Já estou com tudo na manga, com várias parcerias novas. Tem a Zélia Duncan, o Moacyr Luz e o Zé Renato”, adianta.
 
(foto: Biscoito Fino/divulgação)
 

“ESTUÁRIO DAS CANÇÕES”

• Disco de Francis Hime
• 12 faixas
• Biscoito Fino
• Disponível nas plataformas digitais