Jornal Estado de Minas

LUTO NA MÚSICA

O dia em que dividi o camarim com Erasmo; leia relato de jornalista do EM


Embora fosse fã de carteirinha e já tivesse entrevistado Erasmo Carlos algumas vezes, somente fui conhecê-lo pessoalmente em meados dos anos 1990. 

Na época, eu era integrante da Banda Boca de Sino, especializada em clássicos da Jovem Guarda, e fomos convidados para abrir um show dele na extinta Olympia. 





Era uma casa de shows localizada no Edifício JK e onde se apresentavam os grandes astros da música que apareciam por aqui. Chegando lá, fomos para o camarim e demos de cara com o Tremendão. 

Depois das apresentações de praxe, ele, sempre muito atencioso e gentil, quis saber tudo sobre a banda. Lembro-me de ter levado duas garrafas de uísque. Quando as coloquei na mesa, ele sorriu, virou-se para mim e disse: “Vamos tomar isso tudo?”. Claro, respondi. 
 
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E ficamos ali conversando, cantando e bebendo, esbanjando alegria. Entramos e fizemos um show, excluindo, naturalmente, as músicas que ele iria cantar naquela noite. 

Quando voltamos ao camarim, lá estava ele, assim como nós, meio altinho. Lembro-me que brinquei com ele, dizendo: Você não pode beber mais. Ele perguntou por quê. Respondi: Levanta, por favor. 

O Gigante Gentil, enorme, levantou-se e então eu disse: Veja como você já está alto. Ele sorriu daquela piada antiga e sem graça. Era um cavalheiro. Em seguida, foi para o palco e fez um show maravilhoso, como sempre. 





Voltou ao camarim e continuamos as conversas e os risos intermináveis naquela noite memorável. Passados alguns anos, continuei fazendo minhas reportagens com ele e ficávamos conversando um tempão durante as nossas entrevistas. 
 
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Tanto que o empresário dele, na época, me deixava sempre por último. Reclamei com ele, que respondeu: “Te coloquei por último porque vocês não param de conversar e tem um monte de gente ainda para entrevistá-lo. Então as minhas entrevistas passaram a ser sempre por volta das 19h. 

E a gente falava sobre tudo, principalmente música, é claro. E sua memória me impressionava, porque ele lembrava com detalhes daquele show no Olympia e me perguntava sobre fulano, beltrano, sicrano, ou alguma situação engraçada ocorrida lá. 

Sempre respondia: Não sei nem o que comi no almoço, Erasmo, como vou lembrar? Ele ria até da minha resposta. Recentemente, quando esteve em BH, fazendo show no Palácio das Artes, fui até lá. 

Fica a saudade de um grande cara, um músico espetacular. Vá em paz, Gigante Gentil!