Miradas distintas e ao mesmo tempo convergentes sobre o ambiente literário de Belo Horizonte guiam duas publicações – as revistas “Marimbondo” e “Chama” – que serão lançadas, respectivamente, nesta sexta-feira (25/11) e no sábado (26/11), na Livraria Quixote.
Criada pelas jornalistas Carol Macedo e Júlia Moysés em 2012, a “Marimbondo” chega à sua sexta edição. Já a “Chama”, surgida em 2016, por iniciativa da também jornalista Flávia Denise, está na terceira edição. Ambas reúnem textos diversos tanto de suas editoras quanto de autores convidados ou pessoas que se apresentam dispostas a contribuir.
O novo número da “Marimbondo” traz como eixo temático as interações possíveis entre a literatura e a cidade. “Quando a gente fala dessa interação, podemos pensar numa literatura que pertence à cidade, que é produzida pela cidade ou que versa sobre a cidade. Pedimos aos colaboradores que contemplassem esses três sentidos ou outros tantos que quisessem propor”, diz Carol.
Outros olhares
A editora observa que o processo de produção da “Marimbondo” é singular, na medida em que a revista nasce enquanto vai sendo feita. “A gente pode chegar com um tema, uma abordagem, mas, nas conversas, eventualmente surgem outras questões, outras pautas, e, às vezes, o jornalista convidado pode entregar uma coisa que vai por outro caminho”, aponta.
Cada edição tem um ponto de partida, segundo Carol, para que se tente, em alguma medida, fazer uma espécie de cartografia do tema proposto. Ela ressalva, no entanto, que existe a intenção de não focar em uma única direção. “Temos um primeiro esqueleto, mas, a partir dos encontros, os olhares diversos são verdadeiramente somados”, afirma.
Como de costume, a sexta edição da “Marimbondo” também conta com editores convidados – no caso, Renato Negrão, poeta e artista da palavra e da imagem, e Pedro Kalil, doutor em teoria da literatura e literatura comparada (UFMG), professor e escritor. “Juntos, compartilhamos reflexões sobre literatura e sobre a cidade, nossas inquietações e perguntas sobre o que vimos, lemos e ouvimos nos últimos tempos”, destaca a editora.
Ela considera que, ao longo desses 10 anos de publicação, a “Marimbondo” conseguiu manter os dois pilares propostos logo no momento de sua concepção. Um deles é a abordagem dos temas levantados de forma alentada, com um tempo próprio, que possibilita a reflexão e o aprofundamento.
O outro pilar é a interseção de editorias. “Às vezes a gente quer falar de alguma manifestação cultural e isso envolve economia, política, direito à cidade, então pensamos nesses atravessamentos”, diz. Segundo a editora, no próximo ano, outros dois números da revista virão à luz, orientados pelos temas arquitetura e boemia.
Convocação pública
Diferentemente da “Marimbondo”, a revista “Chama” chega a um assunto prevalente a partir dos textos enviados. Flávia Denise explica que é feita uma convocação pública nos meios literários de Belo Horizonte, para que as pessoas apresentem textos sobre os assuntos que bem entenderem. A seleção do que entra na publicação é que estabelece sua temática.
“A gente faz a leitura, vê quais textos estão legais para publicar e identifica nesse conjunto quais abordagens estão emergindo. É um modo de fazer que dá muito mais trabalho, porque a gente tem que entender o fio condutor dos textos, mas isso nos dá uma amplitude maior de possibilidades”, pontua.
Para esta edição, a curadoria da “Chama” recebeu mais de 250 propostas e, desse conjunto, 20 foram selecionadas. Anticapitalismo e estranhamento foram os temas prevalentes, expressos sob diferentes formas. Eles comportam, segundo a editora, olhares sobre os últimos anos vividos no Brasil e no mundo, marcados por pandemia, guerra, crise financeira, avanço da extrema direita e situação de crise climática, entre outros.
Vitrine literária
Flávia Denise acredita que a revista vem cumprindo o propósito para o qual foi criada, que é dar visibilidade para a pujante produção literária de Belo Horizonte, que tem se tornado mais visível ao longo dos últimos anos, mas ainda carece de canais de escoamento. “Hoje eu entendo que a cidade tem uma cena literária muito rica e diversa, mas que ainda está um pouco escondida”, diz.
Ela aponta que a criação da “Chama” foi “uma coisa meio interesseira”, que ia ao encontro de seu desejo de ler autores da capital que tivessem contato com a sua realidade. “Eu tinha a vontade de que as pessoas pudessem publicar. A revista literária tem um caráter experimental, é o espaço para contar histórias, e a ideia era oferecer espaço para que isso se realizasse”, afirma.
“MARIMBONDO” E “CHAMA”
Lançamento das revistas literárias, respectivamente nesta sexta-feira (25/11), das 18h às 21h, e sábado (26/11), a partir das 13h, na livraria Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi).