Das 20 categorias do tradicional Prêmio Jabuti, mais importante premiação da literatura brasileira, 13 foram vencidas por mulheres. A 64ª edição do evento, cuja cerimônia ocorreu em São Paulo, na noite de quinta-feira (24/11), elegeu como livro do ano “Também guardamos pedras aqui”, da paulista Luiza Romão, também primeira colocada na categoria poesia.
Outra categoria de peso, a de melhor romance, foi vencida pela pernambucana Micheliny Verunschk, autora de “O som do rugido da onça”. Dos 10 concorrentes, eram oito mulheres no páreo. A jornalista e escritora carioca Eliana Alves Cruz venceu na categoria contos, por “A vestida”.
Mineiras
Duas autoras belo-horizontinas foram premiadas: Ana Elisa Ribeiro, na categoria livro juvenil, por “Romieta e Julieu”, e Anna Cunha, por “Origem”, na categoria melhor ilustração. Lançado em 2021 pela editora RHJ, também de BH, “Romieta e Julieu – Tecnotragédia amorosa” coloca os clássicos personagens shakespearianos no mundo digital.No texto original, a tragédia dos jovens apaixonados se dá por uma falha de comunicação. Frei João não consegue fazer chegar a Romeu a carta falando do plano de Frei Lourenço, que teria dado a Julieta poção que a deixaria aparentemente morta. Como o herói não recebe a missiva, ao retornar a Verona encontra a amada inerte. Ao acreditá-la morta, em ato de desespero, ele se suicida. E Julieta, ao acordar e vê-lo sem vida, também se mata.
“A questão que embola a vida dos dois é a mensagem que não chega. Peguei esse elemento da história e o coloquei nos dias de hoje. Me deu muito trabalho para a tal mensagem não chegar, pois hoje as mensagens chegam até quando não queremos. Enfim, é uma história totalmente anacrônica e brinco com muitas coisas do nosso mundo, como a polarização”, comenta Ana Elisa.
Trazer um texto clássico para o mundo contemporâneo não é novidade para ela. Há dois anos, Ana Elisa lançou “O e-mail de Caminha”, que transcreve, por meio de e-mails e tuítes, a carta em que Pero Vaz de Caminha narra a chegada da frota de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, em 1500. Os dois títulos foram ilustrados pelos irmãos Marcelo e Marconi Drummond.
Professora do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-MG) e pesquisadora de tecnologia, Ana Elisa também publicou livros de contos, crônicas e poesia. Sobre o Jabuti, ela comenta que foi a São Paulo sem saber o que esperar. “Sou toda contida e fiquei me segurando, pois não sei quantas vezes na vida teria outra oportunidade. Na hora em que a apresentadora falou a primeira sílaba (da vencedora na categoria juvenil), não escutei mais nada.”
Concorrendo com pesos pesados como Fernando Morais, pelo primeiro volume de “Lula: Biografia”, e Fernando Henrique Cardoso, por suas memórias, Laurentino Gomes venceu mais uma vez o Jabuti na categoria melhor biografia e reportagem. “Escravidão – Volume 2” repetiu o feito que o primeiro tomo havia conquistado em 2020.
Nesta edição, o Jabuti homenageou a filósofa, escritora e educadora paulista Sueli Carneiro, figura de ponta do movimento negro. Ela é autora de “Mulher negra” (1985) e “Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil” (2011). “Sueli Carneiro é a justa tradução de autoras e autores que pararam de simplificar o Brasil”, afirmou o curador do prêmio, Marcos Marcionilo, em seu discurso.
Ao vivo
A cerimônia do Jabuti voltou a ocorrer presencialmente no Theatro Municipal de São Paulo, depois de duas edições realizadas virtualmente em decorrência da pandemia.A premiação ocorre em paralelo com a Flip, festa literária sediada em Paraty (RJ), que termina amanhã (27/11). A homenageada de lá é Maria Firmina dos Reis (1822-1917), mulher negra, a primeira a publicar um romance no Brasil.
(Com Folhapress)
(Com Folhapress)
JABUTI 2022
• Artes: “Apontamentos da arte africana e afro-brasileira contemporânea: políticas e poéticas”, de Célia Maria Antonacci (Invisíveis)
• Biografia e reportagem: “Escravidão – Volume II”, de Laurentino Gomes (Globo)
• Ciências humanas: “Enciclopédia negra”, de Jaime Lauriano, Flávio dos Santos Gomes, Lilia Moritz Schwarcz (Cia. das Letras)
• Ciências sociais: “Máfia, poder e antimáfia”, de Wálter Fanganiello Maierovitch (Unesp)
• Conto: “A vestida”, de Eliana Alves Cruz (Malê)
• Crônica: “A lua na caixa d'água”, de Marcelo Moutinho (Malê)
• Histórias em quadrinhos: “Escuta, formosa Márcia”, de Marcello Quintanilha (Veneta)
• Ilustração: “Origem”, para Anna Cunha (Maralto)
• Infantil: “Sonhozzz”, de Silvana Tavano e Daniel Kondo (Salamandra)
• Juvenil: “Romieta e Julieu”, de Ana Elisa Ribeiro (RHJ)
• Livro do ano: “Também guardamos pedras aqui”, de Luiza Romão (Nós)
• Poesia: “Também guardamos pedras aqui”, de Luiza Romão (Nós)
• Romance de entretenimento: “Olhos de pixel”, de Lucas Mota (Plutão Livros)
• Romance literário: “O som do rugido da onça”, de Micheliny Verunschk (Cia. das Letras)