Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Renato Teixeira e Oswaldo Montenegro trazem cantoria e boa prosa a BH

“Mais do que o encontro de dois artistas, é o encontro de dois fãs dos trabalhos um do outro” - assim Oswaldo Montenegro define o show em que divide o palco com Renato Teixeira. O espetáculo que reúne os “baladistas brasileiros”, nas palavras de Teixeira, volta a Belo Horizonte, após a primeira passagem, em 2019, em única apresentação no Grande Teatro do Palácio das Artes, neste domingo (27/11).





Acompanhados por banda, eles executam músicas em dueto e individualmente, dando voz às próprias canções e às do parceiro. O repertório do show “A emoção de um encontro” inclui “Bandolins”, “Tocando em frente”, “A lista”, “Amanheceu, peguei a viola”, “Lua e flor” e “Romaria”, entre outros sucessos.

“Um falou as músicas de que mais gostava do outro e a gente botou ali”, diz Montenegro, sobre a seleção do roteiro musical. Os dois são amigos há muitos anos e sempre nutriram o desejo de fazer algo juntos. O estopim para que o projeto da apresentação conjunta se concretizasse foi a composição de sua autoria dedicada ao companheiro, batizada, sem rodeios ou filigranas poéticas, como “Pro Renato Teixeira”.
 
 

Caipira 

“Gravamos a música juntos, com um clipe que botamos na internet. A gente achou muito simpático o resultado, aqueles dois de cabelo branco, parecendo dupla caipira, que a gente batizou de Husky e Siberiano. Achamos que finalmente tinha chegado a hora”, diz Oswaldo Montenegro, ao comentar o embrião do espetáculo. Ele não poupa elogios ao colega: “Além de grande poeta, o Renato é uma pessoa muito fácil de lidar, dono de sabedoria rara.”





A afinidade da dupla e a admiração mútua ficam evidentes quando um fala a respeito do trabalho do outro. Renato Teixeira credita grande parte do sucesso do show à experiência do parceiro na direção de espetáculos teatrais e musicais.

“Oswaldo tem domínio sobre a dinâmica de espetáculo, é afeito a isso, já dirigiu muitas montagens cênicas. Então, o resultado agradou muito, o show é  bonito e foi muito bem recebido por onde passou”, aponta.
 

 

Ingrediente afetivo

Ciente do talento do amigo, Renato preferiu delegar a ele a condução do que acontece no palco. “Falei: ‘Monta o show, cuida de tudo’. A única coisa que botei foi o nome, ‘A emoção do encontro’, porque tem um ingrediente afetivo grande nisso aí. Oswaldo é um grande diretor de teatro, então montou o show todinho. Quanto mais a gente se apresenta, mais vejo o quanto tudo foi acertado. Compreendo muito a cabeça dele, e ele a minha”, revela.




 
 

“A emoção de um encontro” estreou em fevereiro de 2019, no Rio de Janeiro. Rodou o país, hibernou a partir da chegada da pandemia e a turnê foi retomada em março deste ano, em Pernambuco. Montenegro se diz especialmente feliz de poder voltar a circular com o amigo depois do longo período sem contato presencial com o público.

“A estrada ganhou um sabor melhor ainda. Passei a vida inteira na estrada, então esse hiato de dois anos foi perigoso, foi grave, foi doloroso para mim. Voltar a fazer shows é recuperar o oxigênio”, afirma Oswaldo Montenegro.

Nesse percurso, pouca coisa mudou na estrutura e no roteiro do espetáculo. Na maior parte do tempo, eles cantam em dupla.

 Há breves momentos solo de um e de outro, interpretando as próprias composições. Apenas nessa parte alguma música é, eventualmente, substituída por outra. “O repertório que fazemos juntos,  90% do show, esse permanece o mesmo”, diz Oswaldo Montenegro.





“Agora, o que muda é o papo que a gente tem com o público, isso muda sempre. A gente conversa muito com quem está ali. Em cada apresentação, a prosa pode ir para um lado diferente. É show ao vivo, no sentido estrito da palavra, com grande interação entre palco e plateia.”
 
 

FIC 

O primeiro encontro entre os dois artistas remonta ao início dos anos 1970, quando eles participaram do Festival Internacional da Canção (FIC), promovido pela Rede Globo. Montenegro tinha 15 anos, conseguiu classificar sua música e partiu de Brasília para o Rio de Janeiro, a fim de participar do evento.

“Minha música, além de juvenil, era muito ruim, e sempre fui muito tímido socialmente. Então, fui para o festival e fiquei diante de todas aquelas feras, que só conhecia por capa de disco. Não conseguia chegar perto de ninguém, e ninguém me dava bola, porque eu era só um garoto ali, encostado na parede. Renato foi a única pessoa daquela multidão que me tratou com muito carinho, perguntou se estava bem, do que eu precisava”, relembra.





A partir daquele momento, Oswaldo decidiu ser amigo daquela figura já consagrada que o amparou – “profecia”, conforme diz, que se concretizou algum tempo depois.
 
 

Menino no Rio

Teixeira, por sua vez, conta que ao perceber “aquele menino” ali, meio isolado, num festival competitivo que reunia nomes como Fagner, Hermeto Pascoal e Mutantes, foi conversar com ele.

“A partir dali, acompanhei de perto a carreira de Oswaldo, vi seu crescimento e sua afirmação como um artista importante. Sempre torcendo muito, porque ele é uma pessoa maravilhosa, um amigo queridíssimo por quem tenho muito respeito”, relata.

Ao comentar o que mais o cativa na obra do artista que viu despontar, Teixeira diz apenas que é “o todo, a maneira como ele trabalha a música”. É também de maneira um tanto genérica que fala a respeito do que considera pontos de contato entre sua obra e a do companheiro de palco.




 

 

Além do fato de serem “dois baladistas brasileiros”, Teixeira ressalta que as origens ligadas à MPB formatada a partir dos anos 1960 e à música regional os aproxima.

“São convergências que unem todos os compositores. Costumo dizer que existe um único compositor fracionado em muitos, cada um fazendo um pedacinho da grande música. Toda a geração surgida a partir das décadas de 1960 e 1970 trabalha mais ou menos com os mesmos códigos”, diz.

Montenegro, por sua vez, é mais preciso (e poético) ao descrever o que a música de Renato Teixeira representa. “Ela remete ao Brasil que vale a pena, ao Brasil do qual a gente se orgulha, ao Brasil profundo, ao Brasil que é sofisticado sem ser complicado, ao Brasil que é simples sem ser vulgar. É uma gema de ouro que a gente tem que carregar com muito cuidado, e mostrar para todo mundo: Olha que bonito que o Brasil pode ser”.



Momento solo

Além da turnê “A emoção de um encontro”, Oswaldo Montenegro tem circulado, a partir da flexibilização das medidas restritivas de combate à pandemia, com seu próprio espetáculo, “Lembrei de nós”, com datas em mais de 150 cidades, segundo ele.

“Também estou criando muito conteúdo audiovisual para os meus canais, YouTube, Instagram e Facebook, lançando uma canção nova a cada dois meses”, pontua.

Já Renato Teixeira pretende estabelecer cada vez mais parcerias para incrementar sua produção. Diz que nos últimos tempos criou temas a quatro mãos com Antônio Adolfo, Fagner e Toquinho, entre outros, por acreditar que diálogos assim podem redimensionar e arejar a música popular brasileira no século 21.

“Minha ideia é que essa produção seja distribuída para o maior número de cantores possível, no intuito de trazer um pouco daquele ambiente musical de parceria e coletividade que gerou a MPB como a conhecemos hoje. Não existe isso de eu daqui e você de lá. O regionalismo já passou, é um departamento do nacional, e é o nacional que precisa soar”, ressalta.



Monocultura

Renato explica que seu desejo é a integração, com vistas à diversificação cada vez maior, em oposição a monoculturas que regem a indústria musical. Ele conta que vem se guiando por questões como “o que oferecer ao público” ou “quais respostas esperar”.

“Trata-se de equacionar tudo isso e se projetar através dessas perguntas, para que a música brasileira não fique como está, estagnada no corner”, diz.

O compositor defende o “choque de ativação” para reorganizar a música popular brasileira. 

“Ao longo das últimas décadas, nosso cancioneiro chegou a um nível muito difícil de ser atingido novamente. Mas, com esse conceito, acho possível regenerar a qualidade da música feita no Brasil, que já foi, como estou dizendo, muito boa, exemplar, e não merece ficar presa a dois ou três acordes que só servem ao mercado”, diz.

“A EMOÇÃO DE UM ENCONTRO”

Show de Oswaldo Montenegro e Renato Teixeira. Neste domingo (27/11), às 20h, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Plateia 1: R$ 240 (inteira) e R$ 120 (meia-entrada). Plateia 2: R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia). Plateia superior: R$ 160 (inteira) e R$ 80 (meia). Ingressos à venda na bilheteria e na plataforma Eventim. Informações: (31) 3236-7400.