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Estado de Minas ARTES VISUAIS

Museu em Madri se transforma em bunker para obras de arte ucranianas

Thyssen-Bornemisza organiza a exposição "No olho do furacão", com 70 peças vindas do país sob invasão russa, com o objetivo de protegê-las de ataques a bomba


29/11/2022 04:00 - atualizado 28/11/2022 23:47

Uma jornalista observa de pé a tela 'Portrait', de Kostiantyn Yeleva, em visita guiada para a imprensa à exposição 'No olho do furacão', em Madri
As obras que estarão abertas à visitação em Madri a partir de hoje foram retiradas neste mês de Kiev; a imprensa foi convidada para visita guiada à exposição antes da abertura a todo o público (foto: Oscar Del Pozo/AFP)

Escapando das bombas russas, cerca de 70 obras de arte foram retiradas da Ucrânia para serem expostas no museu Thyssen-Bornemisza, em Madri, e assim mantê-las a salvo de uma guerra que deixou enormes danos ao patrimônio cultural ucraniano.

As obras, muitas delas poucas vezes vistas fora da Ucrânia, compõem a exposição "No olho do furacão: Vanguarda na Ucrânia, 1900-1930", em cartaz no Thyssen a partir desta terça-feira (29/11), até abril de 2023. De junho a setembro do ano que vem, a mostra ficará no museu Ludwig, na cidade alemã de Colônia.

Esta exposição dará uma "visão do que a Rússia está tentando destruir com a guerra" e mostrará "o quanto a Ucrânia está unida à Europa", afirmou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, em uma mensagem gravada exibida durante a apresentação da exposição no museu madrilenho. 

Um assistente da galeria Thyssen, de pé, ao lado de tela da exposição 'No olho do furacão', em Madri
A mostra "No olho do furacão: Vanguarda na Ucrânia, 1900-1930" ficará em cartaz em Madri até abril de 2023 e depois seguirá para Colônia, na Alemanha (foto: Oscar Del Pozo/AFP)

Operação delicada

Após semanas de preparação para a delicada operação, as pinturas, uma seleção que vai da arte figurativa ao realismo socialista, passando pelo cubismo e pelo construtivismo, de artistas como Oleksandr Bohomazov, Vasyl Yermilov e Anatol Petrytskyi, foram retiradas de Kiev em meados deste mês, em meio aos intensos bombardeios russos.

A capital ucraniana foi alvo de um bombardeio no mesmo dia em que os caminhões com as pinturas, vindas principalmente do Museu Nacional de Arte Ucraniana, foram carregados.

"Estávamos em contato constante com os motoristas, eles nos atualizavam a cada 10 minutos se tudo corria bem, até chegarem à fronteira, que encontraram fechada porque, momentos antes, um míssil que matou duas pessoas tinha atingido a Polônia”, relatou Francesca Thyssen-Bornemisza, da organização da exposição no museu de Madri.

"Demoraram 12 horas, mas (os caminhões) conseguiram atravessar a fronteira" e seguiram viagem para a Espanha, acrescentou a promotora da iniciativa Museums for Ukraine, que reúne museus, curadores e fundações para dar visibilidade à arte ucraniana durante a invasão russa.

Jornalistas circulam entre as obras da exposição 'No olho do furacão', em Madri
As telas selecionadas raramente foram vistas fora da Ucrânia e vão da arte figurativa ao realismo socialista, passando pelo cubismo e pelo construtivismo (foto: Oscar Del Pozo/AFP)

Luta pela cultura

A exposição no Thyssen é uma das várias iniciativas para salvar a arte ucraniana da destruição da guerra.

"O patrimônio cultural costuma sofrer danos colaterais nas guerras, mas, às vezes, é especificamente atacado por ser a essência da identidade dos países", alertou Krista Pikkat, diretora cultural da Unesco, a agência cultural da ONU que contabilizou danos a mais de 200 locais culturais na Ucrânia, entre eles museus.

Além de proteger as obras, a exposição no Thyssen busca "mostrar a diversidade cultural e artística da Ucrânia, pela qual os ucranianos estão lutando tão bravamente neste momento", disse Katia Denysova, uma das curadoras da mostra.

A exposição está organizada cronologicamente, desde a década de 1910, quando o país fazia parte do Império Russo, passando pela década de 1920, quando viveu um auge cultural e passou a fazer parte da União Soviética, até a década de 1930, quando vários artistas morreram nos expurgos stalinistas e o realismo soviético tornou-se o único estilo artístico permitido, explicou Denysova.

"É importante continuar falando da guerra, mas com este projeto queremos mostrar que a Ucrânia tem muito mais para oferecer."


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