“Isto daqui não é uma vilazinha, mas um país muito bonito. E aqui também é América, mas do Sul.” No meio da selva, entre a Colômbia e a Venezuela, é esta a resposta que uma americana recebe de uma colombiana. Logo temos alguma simpatia pela latina, pois este posicionamento imperialista dos americanos “de cima” sempre incomodou, para dizer o mínimo, os “de baixo”.
Mas a história é mais complicada que isso, já que a americana foi sequestrada. E está sendo levada de um lugar para outro por um grupo de guerrilheiros que não sabemos ao certo o que defendem. Esta é “Echo 3”, série de ação do AppleTV+. Rodada na Colômbia, com diálogos em inglês e espanhol, é um remake da produção israelense “Jornada de heróis” (Netflix).
O quarto dos 10 episódios estreia nesta sexta (2/12) – e a série vai ganhando nuances à medida em que a narrativa avança. Criada por Mark Boal, vencedor de dois Oscars por “Guerra ao terror”, traz um time conhecido tanto na frente quanto atrás das câmeras. Os episódios são dirigidos pelo próprio Boal, além do argentino Pablo Trapero e pela peruana Claudia Llosa.
Prince (Michiel Huisman) e Bambi (Luke Evans) são amigos das Forças Especiais, altamente treinados e com muita experiência em sair de situações extremas – geralmente em outros países, em embates que envolvem muitas armas. Prince vai se casar com a irmã de Bambi, Amber (Jessica Ann Collins). Os dois irmãos, muito unidos, vêm de uma família disfuncional e de um histórico de pouco dinheiro.
Missão
Já o universo de Prince é outro. Riquíssimo, é filho de um industrial com seus próprios laços militares. Seu pai, Eric Haas II (Bradley Whitford), aguarda o momento de o filho deixar a vida de ação para entrar para a política americana. No início da história, após um casamento de sonhos, a lua de mel de Prince e Amber é interrompida, porque ele tem que ir para uma missão no Afeganistão.Depois que os meninos passam por alguns perrengues do outro lado do mundo, na volta para casa descobrem que chegou a hora de Amber fazer as malas. Cientista, ela está pesquisando as propriedades dos alucinógenos no combate ao vício. E tudo dá errado – Amber é sequestrada e seus algozes logo desconfiam que ela não é somente uma civil. Acreditam que trabalhe para a CIA – e Prince e Bambi deixam os EUA e vão atrás dela na selva colombiana.
Grosso modo, parece mais uma série de ação com dois fortões que não economizam nos tiros, nos chutes e socos para alcançar seus objetivos. É, e não é. Ainda que a trama tenha muitas complicações, o que mais chama a atenção em “Echo 3” é o tratamento da narrativa, muito acima das produções do gênero.
A mão dos diretores é forte aqui. Trapero, um dos bons nomes do cinema argentino contemporâneo, já mostra sua carta de intenção no episódio piloto. Para início de conversa, ele não tem pressa – por que toda produção de ação parece que corre contra o tempo.
O cineasta, que já havia deixado sua marca no streaming com a ótima “ZeroZeroZero” (Prime Video), sabe explorar tanto o cenário de luxo do casamento de Amber e Prince quanto a arquitetura desregrada e multicolorida de Ciudad Bolívar, a maior favela de Bogotá. Quando a ação se transfere para a selva, ele consegue atingir altos níveis de tensão entre o grupo de sequestradores – mas dá tempo para que a câmera também explore a riqueza natural da região.
Na ação, há algumas incoerências e a barra é forçada mais de uma vez. Ao chegar à Colômbia, Prince e Bambi agem como Liam Neeson em seus filmes de ação – se acham acima da lei. E logo o homem recém-casado está em frente às câmeras criticando a tudo e a todos, do Exército colombiano à CIA.
Mas os deslizes devem ser colocados de lado. Como narrativa de ação, “Echo 3” se garante tanto pela direção segura e inventiva quanto por alguns coelhos na cartola que a trama traz mais à frente.
“ECHO 3”
• Série em 10 episódios. O quarto estreia nesta sexta (2/12), no AppleTV . Novos episódios sempre às sextas.