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Estado de Minas PERFIL

Enrique Díaz, o Timbó de Mar do sertão, joga em todas: TV, cinema e teatro

Ator diz que sua carreira é 'gama aberta de possibilidades'. Ele já interpretou pantaneiro, aristocrata, sertanejo, cangaceiro e presidiário


04/12/2022 04:00 - atualizado 02/12/2022 23:33

Enrique Díaz ao lado de um jumento em cena da novela Mar do sertão
O nordestino Timbó enfrenta a seca na novela "Mar do sertão" (foto: Ronald Santos Cruz/Globo)


Enrique Díaz sempre foi muito ativo. Cinema, televisão, teatro – o ator sempre esteve em todos esses lugares. Aliás, em mais de um ao mesmo tempo, cumpre dizer. Agora, conta que entrou na fase “deixa a vida me levar”.

Ele interpreta o Timbó de “Mar do sertão”, novela das 18h da Globo. O sertanejo humilde, que há décadas enfrenta a seca, caiu nas graças do público. Afinal, Timbó é o retrato de milhares de brasileiros que vivem no Nordeste.

“Este personagem sempre foi anunciado para mim como um personagem muito bom. Ele está lá na dramaturgia representando uma personalidade muito forte da cultura brasileira”, observa Díaz, em entrevista por videochamada ao Estado de Minas.

João Grilo

“Timbó é muito potente na linhagem histórica de personagens pícaros, malandros, brasileiros, que, ao mesmo tempo, são inocentes e de bom espírito. Ele tem a força da tradição dos repentistas, cordelistas, comediantes populares e também a influência das narrativas medievais da Espanha. Ao mesmo tempo, tem semelhança com o João Grilo, do (Ariano) Suassuna”, explica, referindo-se ao protagonista do clássico “O auto da Compadecida”.

Timbó é apenas um dos vários personagens do ator que carregam a marca da cultura brasileira. Díaz já viveu cangaceiro (no filme “O auto da Compadecida”, de Guel Arraes), pantaneiro (na segunda versão da novela “Pantanal”, na Globo), presidiário (no filme “Carandiru”, de Hector Babenco), faz-tudo (em “Amor de mãe”, folhetim da Globo) e aristocrata esnobe (na série “O mecanismo”, da Netflix).

“Gosto dessa gama aberta de possibilidades”, ressalta. “E gosto também de alternar, sempre que possível.”
 
Ator Enrique Diáz está deitado na cama, doente, e Luiz Carlos Vasconcelos como o médico com o respirador na mão em cena na enfermaria no filme Carandiru
Enrique Díaz, como o presidiário Gilson, e Luiz Carlos Vasconcelos, como o médico que atende detentos em Carandiru (foto: Universal Pictures)
 

Os trabalhos dele evidenciam o desejo de estar sempre em movimento. No final da década de 1980, Enrique criou seu próprio grupo de teatro. A Companhia dos Atores tinha Drica Moraes entre os integrantes.

Na mesma época, Díaz criou e integrou o Coletivo Improviso. Paralelamente ao trabalho no palco, começou a se aproximar mais do cinema e da televisão.

Inicialmente, houve certa resistência em fazer TV. Puro preconceito, reconhece. Em suas reflexões sobre a carreira, recorreu à tática que aprendeu em sessões de análise comportamental.

“Pensei: bom, se estou querendo rejeitar aquilo, o que tem de desejo ali? Seja daquele mundo, em termos do interesse que aquilo produz, seja do espaço que aquilo ocupa, seja pelo poder que aquilo tem. Tudo isso acaba movendo a gente de alguma maneira, entende?”.

De fato, moveu. Díaz baixou a guarda. Nos anos 1990, lá estava ele na primeira versão de “Pantanal” (Manchete), interpretando Chico Marruá. Em seguida, participou de episódio da minissérie “Desejo” (Globo, 1990) e não parou mais. Vieram “Anos rebeldes” (1992), “Você decide” (1992), “Irmãos Coragem” (1995) e, mais recentemente, “Onde nascem os fortes” (2018), “Amor de mãe” (2019), o remake de “Pantanal” (2022) e “Mar do sertão” (2022).

Também fez os filmes “Como nascem os anjos” (1996), de Murilo Salles; “As três Marias” (2002), de Aluisio Abranches; “Redentor” (2004), de Cláudio Torres; “Mato sem cachorro” (2013), de Pedro Amorim; além dos já citados “O auto da Compadecida” (2000) e “Carandiru” (2003).

Díaz ficou à frente da Companhia dos Atores até 2012. Saiu por se sentir mais confortável atuando. “Eu já vinha de um movimento de querer dirigir menos. Quando saí da companhia, era um sinal, uma intuição, mostrando que eu não estava tão confortável em um lugar institucionalizado, no qual era o diretor e fazia projetos”, afirma.

Enrique Diaz no palco em cena da peça Cine Monstro
Enrique Díaz na peça "Cine Monstro" (foto: Guto Muniz/divulgação)

Teatro Poeira

Porém, este ano, ele cedeu ao pedido das amigas Marieta Severo e Andréa Beltrão. Marcando a reabertura do Teatro Poeira, no Rio de Janeiro, depois de dois anos fechado em decorrência da pandemia, as duas sócias do espaço convidaram Díaz para dirigir a peça “O espectador”, que estreou em setembro.

“Quando me chamaram, fiquei hiperfeliz, mas já estava no movimento de dirigir menos. Aí, a solução foi falar com o Marcinho Abreu e a gente acabou dirigindo juntos”, conta.

Tendo agora apenas as gravações de “Mar do sertão” – que consomem muito tempo e energia, destaca –, ele já pensa em novos projetos. “Talvez um mestrado ou um doutorado, ainda não sei”, afirma.

E, assim, a vida leva Enrique Díaz.


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