Um olhar para a casa, aquela que é de tanta gente, mas é também a de cada um. É essa a premissa de “Fundação”, primeira exposição individual da carioca Ana Hortides em Belo Horizonte. Com abertura nesta terça-feira (6/12), na Piccola Galleria da Casa Fiat de Cultura, a mostra reúne pinturas, esculturas e objetos nascidos a partir de materiais simples que fazem parte do ambiente doméstico brasileiro.
A trajetória artística de Ana parte de sua própria história. “Meu contato com a arte contemporânea se deu por meio de cursos livres no Parque Lage. Comecei trabalhando com foto- grafia muito artesanal, em que eu produzia as próprias câmeras. Depois, passei a imagens de arquivo, negativos e, através dos álbuns de família, fui chegando à casa. Daí passei a trabalhar a memória pessoal, tanto a particular (da própria artista) quando a pública.”
Açúcar e vidro
Já que produzia tudo sozinha, a partir de 2013, a artista começou a pesquisar o ambiente doméstico para trabalhos escultóricos. A primeira série surgiu a partir de cubinhos de açúcar – mais tarde, passou a trabalhar com madeira (de rodapés, por exemplo) e vidro.
Os trabalhos que serão vistos em BH são de produção recente, a partir de 2020. Ana cresceu na Zona Oeste do Rio de Janeiro. “À medida que meus avós maternos foram tendo filhos, eles construíam a casa ao mesmo tempo. Então, os materiais que trabalho hoje vêm dessa relação do subúrbio, em que as casas estão sempre em obras.”
Caquinhos, capachos, cimento queimado, concreto, tudo isso foi levado para o formato escultórico. “As esculturas dos últimos dois anos pegam a ideia do piso de caquinhos, assim como a dos pisos baratos, como o vermelhão, quando se mistura uma cor no cimento.”
Ana levou tais materiais para as telas. “Não queria pintar uma tela de vermelho, por exemplo. Queria fazer a massa do piso e jogá-la na tela. Dessa maneira, o material barato, do desprestígio, está sobre uma tela que é o suporte tradicional e de mais valor nas artes.”
Arte com sabão de coco
A mostra traz ainda peças produzidas a partir de material de limpeza. Há duas camas feitas com barra de sabão de coco. “O próprio material define a escala do trabalho”, comenta Ana, a respeito do tamanho diminuto das peças.
Sacos de lixo viraram bandeiras. Na época da pandemia, Ana começou a trabalhar a partir de materiais que tinha em casa. “A ideia era falar do trabalho em meio ao confinamento.”
Em sua quinta edição, o Programa de Seleção da Piccola Galleria recebeu 194 inscrições de todo o país. Os seis artistas selecionados foram escolhidos por comissão formada pelo curador Marcus Lontra e pelos professores Rita Lage e Sebastião Miguel. As exposições do programa valem para o biênio 2022-2023.
“FUNDAÇÃO”
Exposição de Ana Hortides. Piccola Galleria da Casa Fiat de Cultura, Praça da Liberdade, 10, Funcionários. Abertura nesta terça (6/12), às 10h. Na quarta (7/12), às 19h, bate-papo com a artista no canal do YouTube da Casa Fiat. Ingressos gratuitos, com inscrição pelo Sympla. A mostra fica em cartaz até 29 de janeiro. O espaço funciona na terça, das 10h às 21h; de quarta a sexta, das 10h às 19h; aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h. Entrada franca