Pianistas da mesma geração, o paulista Cristian Budu, de 34 anos, e o mineiro Gustavo Carvalho, de 41, apresentam trajetórias coincidentes. Ambos têm formação internacional e atuação como solistas junto a orquestras de vários lugares do mundo. Mas foi no interior de Minas Gerais que eles se aproximaram e formaram um duo.
Nesta quarta-feira (7/12), Budu e Carvalho se apresentam no Palácio das Artes encerrando a edição deste ano da série Estrelas do Piano, programa do Festival Internacional de Piano. Vão executar, pela primeira vez juntos, repertório com peças de Mozart e Prokofiev.
“Existem várias obras escritas e pensadas para dois pianos, do período barroco aos dias atuais. E há casos daquelas que são transcrições”, comenta Carvalho. O repertório reúne os dois exemplos. “Mesmo que o período de vida de Mozart (1756-1791) e Prokofiev (1891-1953) tenha dois séculos de intervalo, são compositores muito paralelos. Eles guardam universo próprio bastante hermético, têm senso de humor único”, continua.
Da ópera ao balé
Os dois selecionaram “obras que transitam entre o universo operístico e o repertório de balé”, acrescenta Carvalho. A noite vai começar com a abertura de “A flauta mágica” – “a ópera mais conhecida de Mozart, aqui em transcrição para dois pianos de Busoni” –, segue com a “Sinfonia nº 1 em ré maior” e “Clássica” op. 25, de Prokofiev (com transcrição de Rikuyo Terashima), que o pianista considera obra “emblemática do neoclassicismo”.
A segunda parte do concerto terá a “Sonata para dois pianos em ré maior K. 448”, de Mozart, a única peça da noite escrita para dois pianos, e vai terminar com o balé “Cinderella”, de Prokofiev.
“É música belíssima do final da Segunda Guerra Mundial, bastante acessível ao público. Ela mostra a liberdade de um compositor que, em 1944, conseguiu se abstrair de toda a realidade e se inspirar em um conto de fadas. E isso Mozart fez o tempo todo: ele saía da própria realidade, da situação de penúria em que vivia”, arremata Carvalho.
O pianista é também fundador e diretor artístico do Artes Vertentes – Festival Internacional de Artes de Tiradentes, que completou sua primeira década em 2022. Foi justamente na cidade histórica – Carvalho vive entre Tiradentes e o Rio de Janeiro – que o duo com Budu estreou. A edição de 2020 do evento, em plena pandemia, foi realizada de forma virtual.
“Cristian foi um dos convidados. Apesar de não ter público nos concertos, o momento foi de intensa troca entre os artistas. Foi um encontro muito feliz, tive a impressão de que havia alma musical gêmea com quem eu estava dialogando.”
Budu confirma a impressão. “A beleza do diálogo da construção em conjunto vem da riqueza da diversidade de cada mundo que se delineia. Meu encontro com o Gustavo estimula a fantasia. O caminho dessa busca é muito abstrato, não vem da proposta de fazer as coisas simplesmente do mesmo jeito.”
Disco com Orquestra Ouro Preto
A parceria vai render um álbum. No ano passado, também no Palácio das Artes, mas sem público, os dois pianistas se uniram à Orquestra Ouro Preto para gravar obras de Mozart e Haydn. O disco está previsto para 2023.
A exemplo de Carvalho, Budu também fincou o pé em uma cidade histórica mineira. Hoje vivendo entre Belo Horizonte e a França, neste ano ele passou a dirigir o núcleo de piano da Escola Saramenha de Artes e Ofícios, ligada ao centro de produção de cerâmica nos arredores de Ouro Preto. Criou o Festival de Piano de Ouro Preto, que inclusive enviou dois bolsistas para o Artes Vertentes, realizado em Tiradentes em novembro.
“Mesmo tendo passado por outros lugares do mundo, eu sonhava em me estabelecer em Minas, que traz grandes tesouros escondidos. (Após a mudança) Descobri que estava certo. Aqui há tradição muito antiga, está fora do eixo, mas tem muito potencial de crescimento”, finaliza Budu.
CRISTIAN BUDU E GUSTAVO CARVALHO
Nesta quarta-feira (7/12), às 20h, no Palácio das Artes. Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada). À venda em https://www.eventim.com.br/artist/duo-budu-carvalho