Oitavo espetáculo do Cirque du Soleil em temporada no Brasil – o terceiro que não vem a Belo Horizonte –, “Bazzar”, que estreia nesta quinta-feira (8/12), no Parque Olímpico do Rio de Janeiro, tem sotaque mineiro. Fred Selva, de 31 anos, faz parte da banda responsável pela trilha sonora ao vivo da montagem.
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Percussão e vibrafone
A música o levou à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde se dedicou ao estudo da percussão, sua grande paixão. Formado, foi para Buenos Aires, na Argentina, onde descobriu o vibrafone e começou a trabalhar com música eletrônica.
De volta a Belo Horizonte, dedicou-se à carreira musical e à produção de álbuns de outros artistas. O circo foi ficando cada vez mais de lado.
Quando era criança, diante dos DVDs do Cirque du Soleil que ganhava de presente da família, Fred pensava: “Um dia, pô, quem sabe chego lá?”. Antes de “Bazzar”, o único show ao vivo da companhia que ele viu foi “Quidam”, em São Paulo e em Belo Horizonte. “Era fã. Assisti tanto que até hoje sei o show de cor.”
A vida foi acontecendo e Fred esqueceu a ideia de um dia pisar naquele palco. Graças a uma amiga, a percussionista Natália Mendes, ele ficou sabendo, no início do ano, da seleção de músicos para integrar a banda de “Bazzar”.
Conforme as exigências da companhia, enviou “um monte de vídeos” tocando percussão, tocando músicas do repertório de “Bazzar” e “montando uma sessão como se fosse um show”.
Fez o para casa direitinho. Bem-humorado, revela que foram muitas as tentativas para o vídeo, no qual falava dele e de sua experiência. “Tenho horas gravadas dizendo 'hello, my name is', até conseguir chegar ao vídeo certo.”
Diferentemente de todos os artistas contratados pelo Cirque, Fred não foi a Montreal assinar contrato, fazer o figurino e aprender a maquiagem. “Mas tive de mandar todas as medidas de meu corpo”, conta. A partir do OK da companhia canadense, sua vida virou de cabeça para baixo.
“Foi uma loucura. Antes de vir (para o grupo), precisei acertar os projetos previstos para o segundo semestre deste ano. Fiz no corre de um mês as produções de discos marcadas para julho e agosto. Precisei também de um substituto para o Teatro Mágico, banda de Osasco, interior de São Paulo.”
A experiência no Cirque está sendo a melhor de sua vida, mas ele reconhece: o dia a dia é uma doideira. No fim de julho, já estava trabalhando e com a estreia, em São Paulo, encarou a rotina de oito a 10 shows por semana.
Doideira que ele tira de letra, aliás. E se diverte. Em São Paulo, a trupe se divide em dois hotéis, mas a convivência é diária. “Ficamos o dia todo juntos. Lá no Cirque, almoçamos juntos, ensaiamos cada um no seu horário, batemos papo, tiramos uns cochilos. Quando as pessoas perguntam como é a vida em São Paulo, não sei. Às vezes, acho que não estou em São Paulo”, brinca. E garante: nos dias livres da temporada carioca, ele e os companheiros ficarão esparramados na praia.
O mineiro diz que todo o esforço vale a pena. “O fato de trabalhar com pessoas de várias partes do mundo é muito legal pelas experiências musicais e pessoais. Ficamos tão próximos que parece que nos conhecemos há uns 15 anos. Trocamos muitas figurinhas.”
Em um dia de folga, Fred levou dois companheiros da banda à Rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, conhecida pelas dezenas de lojas de instrumentos musicais. Fred deu aos amigos dois pandeiros e, volta e meia, ensina percussão a eles.
“Descobri que a turnê ainda não começou para mim. São Paulo é uma cidade a que venho sempre, mas eles saíram do país deles”, observou em entrevista por telefone, na última semana da turnê paulistana.
Família no backstage
Entre tantas emoções, a maior ocorreu no dia em que a família foi vê-lo no Cirque, em São Paulo. “Fiquei muito emocionado com meu pai assistindo na plateia e no backstage. Afinal de contas, se não fosse meu pai...”
“Bazzar” tem duas horas, com intervalo. A temporada carioca vai de hoje ao próximo dia 30.