Jornal Estado de Minas

CINEMA

Clichês sobre o racismo derrotam o filme de guerra 'Irmãos de honra'



Em que pese o fato de tentar alcançar efeito dramático a bordo da discussão sobre o racismo, o longa “Irmãos de honra”, que estreia nesta quinta-feira (8/12) em BH, não escapa de ser mero pastiche. Mesmo apoiado no que poderia ser seu esteio, o filme patina no clichê. 





Classificado como épico de guerra, o longa é ambientado no início dos anos 1950, durante o conflito entre as Coreias do Norte e do Sul. Baseado na realidade, é focado em Jesse Brown (Jonathan Majors, ator em franca ascensão em Hollywood) e Tom Hudner (Glen Powell), pilotos aceitos em um esquadrão de elite para treinamento.

Hudner é soldado impecável, e Brown piloto talentoso, que se tornaria o primeiro afro-americano a voar em combate pela Marinha dos Estados Unidos.
 
Com cenas de manobras aéreas ousadas, a comparação com “Top Gun – Ases indomáveis”, estrelado por Tom Cruise (e com Glen Powell no elenco), se torna inevitável.
 



A primeira metade do longa se atém aos treinamentos e momentos de lazer e descontração dos integrantes do esquadrão. A sensação de “já vi isso antes” é onipresente. Paralelamente, o espectador é apresentado à família unida e amorosa de Jesse, de quem, após alguma tensão, Hudner se aproxima.





De forma nada sutil, o filme expõe que o piloto negro é, desde sempre, vítima de racismo – como se no contexto em que se passa a trama isso necessitasse ser explicitado.

Razão e intuição

Num dado momento, quando os dois pilotos precisam sair do país rumo ao combate, a esposa de Jesse pede ao amigo branco que cuide do marido, já que a distância impedirá que ela própria cuide.

Aí “Irmãos de honra” começa a descambar para o tratamento estereotipado que Hollywood historicamente dispensa à abordagem do racismo. Ao lugar do preto que tem ao lado o branco que “entende” o flagelo do preconceito e irá protegê-lo, some-se a ideia, que o longa reitera em diversos momentos, de que Hubner é a razão e Jesse, a intuição.

Assim, o que sobra é a tentativa malfadada de tirar o filme do lugar-comum por meio da discussão superficial sobre o racismo, que patina no ramerrão. Vale dizer que o diretor, JD Dillard é negro. Fica a impressão de que ou ele não teve margem para explorar a questão de forma mais contundente ou simplesmente optou por seguir a cartilha caduca do cinema norte-americano.





Spike Lee, Jordan Peele, Ava DuVernay e Ryan Coogler são exemplos de diretores cujas obras – seja na seara do drama, da aventura ou do terror – evidenciam que narrativas pasteurizadas como a de “Irmão de honra” já podem ser deixadas para trás.

Vitrine para Majors

No final das contas, o filme pode servir apenas como mais uma vitrine – pouco expressiva – para Jonathan Majors. Ele começou a despontar em 2018, no elenco de “Destacamento Blood”, produção de Spike Lee para a Netflix.
 
Ano passado, participou da série “Loki” (Disney+) e se destacou como uma das revelações da Fase 4 do MCU (Universo Cinematográfico da Marvel) na pele de Kang, o Conquistador.

Kang será o antagonista em “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania”, novo filme estrelado por Paul Rudd, que inaugura a fase 5 da Marvel em fevereiro de 2023.

“IRMÃOS DE HONRA”

(EUA, 2022, 138 min., de JD Dillard, com Jonathan Majors, Glen Powell, Joe Jonas) – 
• Estreia hoje nas salas das redes Cinemark e Cineart.