Em 2002, quando a pauta ambiental não estava tão em moda como hoje em dia, o grupo mineiro de bonecos Giramundo já havia se adiantado, criando o Miniteatro Ecológico. O programa de educação ambiental conta com cinco espetáculos infantis, que abordam ludicamente os diferentes biomas do país e a ação predatória do homem.
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“O Miniteatro Ecológico foi criado com a peça ‘O aprendiz natural’, que levava temas genéricos a respeito da educação ambiental e dos problemas com o meio ambiente para o público infantil”, explica o dramaturgo Ulisses Tavares, diretor artístico do Giramundo.
Depois das apresentações de “O aprendiz natural”, a trupe chegou à conclusão de que seria necessário reforçar o projeto. “A gente viu a necessidade de aprofundar mais os temas de acordo com os desafios ambientais que temos no país. Assim, decidimos fazer espetáculos dedicados aos biomas do Brasil e também a seus problemas mais fortes”, diz Tavares.
Apesar do sucesso do Miniteatro Ecológico (as peças viraram livros e produções audiovisuais), em 2008 o Giramundo decidiu encerrar o programa, por causa de interrupções ocorridas nas leis de incentivo cultural.
Voltou agora por acreditar que o projeto se encaixa nos requisitos do edital Petrobras Cultural, que seleciona propostas com temas associados à valorização da cultura brasileira.
“Com isso, remontamos os espetáculos criados no início dos anos 2000. Reconfiguramos a cenografia e o figurino, restauramos os bonecos e recompusemos o elenco”, conta Ulisses.
Outro fator que estimulou o grupo a retomar as montagens foi o avanço das discussões ecológicas no debate público, além das atuais condições ambientais no Brasil, que, segundo o diretor e dramaturgo, “em vez de melhorar, pioraram”.
Biomas brasileiros em destaque
Cada peça do Miniteatro Ecológico tem como foco um bioma. Nas tramas, há sempre um personagem que não tem informação suficiente para lidar com o ambiente onde está inserido e outro que tem plena consciência do que é certo e errado, mas opta pela segunda opção.
O olhar e o pensamento mais claro vêm de seres mitológicos presentes em cada espetáculo. “Eles são os defensores do meio ambiente, representam o próprio ambiente e falam por ele na peça”, observa Tavares.
Em “O aprendiz natural”, por exemplo, quem está na trama é o Saci. “Mata Atlântica” conta com o Curupira. Mula-sem-cabeça é personagem de “Cerrado”, Mãe d'Água está em “Amazônia” e o Lobisomem em “Caatinga”.
Tavares revela que a fauna típica de cada bioma também se impõe como personagem. “Ela discorre em pequenos esquetes sobre seus problemas. É meio uma testemunha”, destaca.
Com tantas perspectivas e pontos de vista diferentes, cabe à criança chegar à própria conclusão. Na maior parte das vezes, os pequenos entendem a necessidade de um novo tipo de relacionamento entre a sociedade e o meio ambiente no Brasil, afirma o diretor e dramaturgo.
“O Giramundo tem o viés educativo no sangue, talvez pelo fato de ter sido formado por professores da universidade. A gente avalia que em vez de o país caminhar para melhorar a conscientização ambiental, o uso de recursos ambientais e a convivência de maneira geral, nos últimos anos entramos no turbilhão de mau uso e má interpretação das próprias leis ambientais. Isso está se tornando uma coisa muito perigosa”, adverte.
Incentivo cultural sob ataque
Ulisses Tavares se queixa dos ataques e “sabotagens” que leis e mecanismos de incentivo à cultura têm sofrido nos últimos anos, principalmente depois do início da pandemia.
“Esses mecanismos são extremamente importantes. Não podem deixar de acontecer ou sofrer impactos sucessivos, porque se trata da formação de público. É o meio que a gente tem de poder formar público crítico e questionador. Os mecanismos de incentivo cultural podem e devem ser sempre aprimorados, mas nunca rejeitados”, destaca.
Tavares ressalta que, ultimamente, artistas tiveram de lidar com a situação de maneira muito “engenhosa” e, em certo ponto, com bastante “improviso”.
“Por outro lado, a área cultural ganhou um olhar importante, um olhar mais otimista por parte das pessoas”, pondera. “Como muitos ficaram o tempo todo dentro de casa sem a possibilidade de sair, acabaram recorrendo aos livros, filmes, músicas e lives. Tudo isso aproximou novamente as pessoas do meio cultural, ficou evidente que ele é essencial. Apesar da falta de apoio, de um olhar mais generoso para a cultura, ela se refez pelo que é, pela importância que tem. Mesmo com toda a dureza que passamos, a gente recebe isso como um certo afago”, conclui.
MINITEATRO ECOLÓGICO
SÁBADO (10/12)
10h – “Caatinga”
DOMINGO (11/12)
9h – “Mata Atlântica”
11h – “Cerrado”
14h – “Amazônia”