Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Show 'Quatro estações' reúne filhos e netas de Beto Guedes



Foi numa conversa descontraída com o produtor Pedro Martins, entre uma cerveja e outra, que o músico Gabriel Guedes, filho de Beto Guedes, teve a ideia de fazer o show da família. Inicialmente, Pedro queria montar apresentação solo de Gabriel. Papo vai, papo vem, chegaram à conclusão de que seria mais interessante reunir o clã: Ian, Julia e Lira, respectivamente, irmão e filhas de Gabriel.




 
“A ideia é trazer as quatro gerações para a gente apresentar um mosaico de composição da família Guedes”, sintetizou Gabriel, de 44 anos. “Quatro estações” será realizado neste domingo (11/12) à noite, no Teatro de Câmara do Cine Theatro Brasil Vallourec.

Gabriel não se confundiu. Embora só duas gerações estejam no palco neste domingo, o repertório remete a Godofredo Guedes (1908-1983), pai de Beto, passa pelo “sócio-fundador” do Clube da Esquina, chega a netos e bisnetos do patriarca.
 
Gabriel e o avô, Godofredo Guedes, pintor e músico querido em Montes Claros (foto: Acervo pessoal)
 
 
Na semana passada, o "Estado de Minas" foi ao estúdio acompanhar o ensaio deles. Julia estava ausente, por questões de saúde. A abertura do show, claro, será com Godofredo Guedes. “Depois vamos estender para as músicas do meu pai, do Ian e músicas minhas. Tem a música da Julia também. Assim a gente vai mesclando nossas canções”, disse Gabriel.




 
A abertura é simbólica: “Belo Horizonte”, chorinho de Godofredo que Beto gravou em seu disco de estreia, “A página do relâmpago elétrico” (1977). Outra dele é “Noite sem luar”, lançada por Beto em 1981, no disco “Contos da lua vaga”. Essa música também foi gravada por Paulinho Pedra Azul e Wagner Tiso no álbum “Canções de Godofredo Guedes”, lançado em 2000.

Tributo ao Clube da Esquina

Em homenagem ao meio século do antológico “Clube da Esquina”, de Milton Nascimento e Lô Borges – do qual Beto participou ativamente –, os Guedes vão tocar “Eternas esquinas”, parceria de Gabriel Guedes e Gabriel Moura. A canção integra projeto paralelo do artista em homenagem a músicos mineiros.
 
Naquele dia, estava difícil definir o repertório do show. “Tem tanta coisa afetiva”, comentou Ian, de 41 anos. “A gente tenta homenagear o Clube de alguma forma, porque ele faz parte da nossa caminhada. Mas como o show terá uma hora e meia e são milhões de músicas para escolher, fica difícil decidir.”




 
Isso, aliás, não é problema. “A gente não está aprendendo as músicas do zero, já conhecemos desde sempre. A familiaridade com o repertório vem de anos”, explicou Lira, de 19.
 
 
 
Familiaridade, de fato, é a palavra que melhor define “Quatro estações”. Afinal de contas, todos ali são parentes. A direção musical é do próprio Gabriel e o figurino foi desenvolvido por Julia, filha dele, de 20 anos.
 
“Os arranca-rabos são inevitáveis”, brincou Gabriel. “A gente está numa fase mais madura do que antigamente. Temos um pouco mais de clareza”, disse, revelando que resolver as diferenças ficou mais tranquilo.




 
E as diferenças são grandes, a começar por estilos e referências de cada um. “Julia é mais intelectual. Ela tem vertente mais jazzística e, como a gente sempre escutou muito rock progressivo, ela tem essa coisa do rock na veia. É uma latência, uma visceralidade. A Lira já tem outra característica, a coisa natural do canto, a facilidade de cantar naturalmente”, explicou Gabriel.
 
“Ian tem pegada mais balada, mais folk. E eu comecei tocando rock, então tenho muito dessa coisa no sangue, a visceralidade. É um tipo de gozo musical diferente do jazz, que já tem gozo mais intelectual”, analisou Gabriel. “Todo mundo tem características um pouco diferentes, embora a gente sempre tenha escutado as músicas do meu pai e do Clube da Esquina.”

Fã de Bach

A praia de Gabriel é a música instrumental, embora tenha iniciado sua carreira no rock. “Sempre gostei muito de música erudita – aliás, não gosto muito desse termo. Principalmente Johann Sebastian Bach, ele é meu guru”, revelou.




 
A influência, talvez, tenha vindo de Godofredo, com quem Gabriel conviveu por um tempo. Grande parte das composições do avô é instrumental.
 
“Tenho uma lembrança viva dele saindo do quarto, tocando clarinete. Eu ficava olhando, admirado. Ele tinha ateliê em Montes Claros, onde pintava”, contou Gabriel. “Inclusive, sobrevivia dos quadros que pintava”, interrompeu Ian.
 
“Aqui em BH, conheci gente que tinha quadro dele. Quando cheguei lá, coincidentemente, vi o quadro e falei: isso é do meu bisavô”, emendou Lira, antes de cair na gargalhada.
 
Godofredo Guedes realmente influenciou toda a família. Certa ocasião, revelou ter encontrado na arte uma espécie de “higiene mental”, sensação que Gabriel, Ian, Julia e Lira compartilham no palco e pretendem dividir com o público, hoje à noite, em “Quatro estações”.

“QUATRO ESTAÇÕES”

Show de Gabriel, Ian, Julia e Lira Guedes. Neste domingo (11/12), às 20h, no Teatro de Câmara do Cine Theatro Brasil Vallourec (Praça Sete, Centro). Ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia-entrada). Vendas na bilheteria ou pelo site cinetheatrobrasil.com.br. Informações:
 (31) 3201-5211.