É bem provável que o francês Robert Bresson (1901-1999) se ofendesse caso alguém chamasse de cinema o que ele fazia. Na opinião do diretor, esse termo estava contaminado por produções comerciais de Hollywood, “meros teatros fotográficos”, em suas palavras.
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“São quatro dos melhores filmes de Bresson, que resumem bem a carreira dele”, afirma Miranda. Bresson começou a carreira artística como pintor e fotógrafo. Chegou a fazer trabalhos nessas duas áreas, mas acabou desistindo e enveredou-se pelo cinema em 1933, com o curta “Les affaires publiques” (“Relações públicas”, em tradução livre).
Prisioneiro dos nazistas
O relativo sucesso do filme de estreia animou Bresson a produzir seu primeiro longa. No entanto, os nazistas invadiram a França, ele foi preso e mantido por um ano em campo de concentração. Em 1943, conseguiu lançar “Os anjos do pecado”, seu primeiro longa.“Bresson é 'diretor autor', na essência da palavra”, ressalta Miranda. “É um diretor que consegue imprimir sua visão de mundo nos próprios filmes, e faz isso de forma muito natural, seguindo métodos próprios”.
As técnicas a que Bresson mais recorria eram a direção mecânica, elipse e a “não atuação”, diz Miranda. “Ele tinha um trabalho muito diferente com os atores. Nem sequer os chamava de atores. Referia-se a eles como modelos ou ‘não atores’, porque não gostava da visão muito ligada ao teatro, em que o ator precisa necessariamente expressar muitas emoções”, explica.
A proximidade do cinema com o teatro incomodava Bresson. No livro “Notas sobre o cinematógrafo”, ele não poupou críticas ao formato comercial que os americanos desenvolveram para fazer filmes, chamando-o de “teatro bastardo”.
“O teatro fotográfico ou cinema quer que um cineasta ou diretor faça atores representarem e fotografe esses atores representando; em seguida, que ele alinhe as imagens. Teatro bastardo ao qual falta o que faz o teatro: presença material de atores vivos, ação direta do público sobre os atores”, escreveu o diretor francês.
“Figura muito crítica, seus filmes eram quase anticinema comercial, o que inspirou muito os diretores experimentais que pretendiam explorar formas diferentes do formato usual que estava posto pelo cinema americano”, ressalta Miranda.
Referência para a Nouvelle Vague
Um dos cineastas que Bresson influenciou foi Godard. O pioneiro da Nouvelle Vague dizia que assim como Dostoiévski é o principal nome da literatura russa e Mozart é o grande nome da música alemã, Bresson é o maior representante do cinema francês.“A forma como ele utiliza a montagem e faz os atores performarem é quase mecânica, parece que estão dizendo o texto sem emoção nenhuma, mas ele enfoca essa emoção através dos movimentos de câmera e dos gestos dos intérpretes”, destaca Miranda.
Outra característica de Bresson é a complexidade dos personagens, que, em quase todos os filmes dele, experimentam decadência moral e social, mas acabam se redimindo de alguma forma.
CICLO ROBERT BRESSON
Abertura nesta quarta-feira (14/12), às 18h30, com exibição de “Lancelot do lago”. Amanhã (15/12), “O dinheiro", às 15h; “O batedor de carteiras”, às 17h (sessão comentada); e “A grande testemunha”, às 19h30. Na sexta-feira (16/12), “Lancelot do lago”, às 15h; “O dinheiro”, às 17h; e “O demônio das onze horas”, às 19h30. Cine Humberto Mauro (Avenida. Afonso Pena, 1.537, Centro). Entrada franca. Programação completa: fcs.mg.gov.br.