O artista plástico Ricardo Carvão Levy ocupa a Casa Belloni, em Belo Horizonte, com a Mostra 7/1 - Ricardo Carvão Levy - Sete Séries, Um Artista. Até 31 de março de 2023, a exposição apresenta esculturas de sete séries que lançam mão de luz e cor para criar efeitos improváveis. São obras selecionadas dentro de seu vasto acervo, na mostra que abre as atividades culturais no espaço instalado em um casarão histórico na Avenida João Pinheiro. "Sou um colecionador de formas inusitadas, que eu mesmo crio", se define o artista, que gosta de quebrar regras, estabelecidas por ele mesmo.
Ricardo nasceu em 1949, em Belém do Pará e, desde cedo, entrou em contato com a artes pré-colombiana - marajoara e tapajônica -, influência importante na construção de sua identidade criativa. Mudou-se em 1964 com a família para a capital mineira, onde iniciou sua trajetória na arte.
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Festival Baderna ensina a fazer receitas diferentes com taiobaKevin Costner, o guardião do westernMergulhe no cinema radical do diretor Robert Bresson, o guru de Godard"Quando visitei o Museu Nacional de Antropologia, ficava ali da hora em que abria até fechar. Chegava perto de uma obra e arrepiava até as canelas. Comecei a refletir sobre isso. Decidi não mais ir para o ambiente acadêmico. Escolhi o aprendizado sobre a forma, mas não de maneira convencional, e sim como alimento para o espírito."
SÍMBOLOS
Em 2022, Ricardo comemora 50 anos de dedicação a pesquisas tridimensionais e 40 anos da instalação de sua primeira obra pública, o "Monumento à paz", na Praça do Papa, em BH. Um de seus trabalhos mais celebrados, o monumento é comemorativo da visita do papa João Paulo II à cidade, ocorrida em 1980.
Na Praça da Liberdade, o monumento "Liberdade", de 1991, é outro marco. "Voo", no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, de 1984, "Monumento do milênio", no Belvedere, 2000, e o "Monumento à visão", no Mirante da Cidade, no Mangabeiras, de 2017, são mais exemplos.
Para 2022, as celebrações da trajetória de Ricardo Carvão Levy na arte serão marcadas ainda com a instalação de sua obra mais atual, o "Monumento à vida", no Hangar - Centro de Convenções da Amazônia, em sua terra natal, como um presente do governo do Pará à cidade.
"Gosto muito de desafios, de quebrar regras estabelecidas até por mim mesmo. Procuro diversificar, não me prender a rótulos ou a um determinado segmento. Não fazer nada que seja cristalizado", afirma.
EM HOMENAGEM À FORMA
Atualmente, Ricardo Carvão assina monumentos espalhados pelos quatro cantos, entre praças, galerias e museus, e perdeu as contas de quantas peças já fez, entre obras maiores e de dimensões mais reduzidas. O ponto de partida é enaltecer a energia do material através da forma.
Ele elabora um trabalho de cunho construtivista, com valorização das formas geométricas, submetendo-as a recortes e dobraduras. O acervo surpreende tanto em quantidade como em diversidade. Ricardo Carvão se considera um artista que diversifica material e/ou estilo e/ou técnica.
"Ora utilizo máquinas sofisticadas, corte a laser, ora o trabalho é rudimentar, sem energia elétrica, com alicate, formão, tesoura... Muitas vezes, atuo com aço, alumínio, cobre, e em outros momentos passo para materiais reutilizáveis, como uma lata amassada, um recipiente plástico, um tubo de PVC, restos de metalurgia, etc", cita.
Em relação a estilos, explora o abstrato com formas geométricas simplesmente, minimalistas, com apenas duas dobras, até peças cheias de detalhes, figurativas, com muitas soldas, muitos cortes. "Estudiosos que conheceram meu trabalho já disseram que parece 12 artistas em um só."
Estima-se que Ricardo Carvão seja um dos artistas brasileiros com o maior acervo conservado consigo mesmo. Boa parte das peças está reunida na residência do artista, em Belo Horizonte. Ali, o espaço, que carinhosamente chama Ninho, é uma atração em particular.
"Eu me considero um colecionador de esculturas - as minhas." O artista deposita, dia após dia, nas paredes, no teto, no chão, nos móveis, nos jardins, um caleidoscópio de possibilidades, formas, pesquisas, muitas vezes feitas com objetos cotidianos, como um simples ralador ou uma escova de dentes.
"Vivemos em um mundo conturbado, somos bombardeados todos os dias por notícias pesadas, de corrupção, violência, guerra. Procurei construir uma obra que fosse um bálsamo para tudo isso. Que propiciasse momentos de deleite, de paz, de boas energias e contemplação", diz.
Ricardo Carvão demonstra gratidão pelo que conseguiu concretizar e a satisfação de ver suas obras espalhadas por vários locais da cidade e fora dela. "Tudo fruto de um grande sonho, muita dedicação e perseverança. Para mim, a arte significa vida. É amor."
A CASA BELLONI
Localizada próximo à Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem, a Casa Belloni se instala em um imóvel edificado no ano de 1940, tombado pelo patrimônio histórico municipal, e se situa em uma das cercanias mais tradicionais da antiga Belo Horizonte.
Inicia as atividades em 2022 para enriquecer o Circuito Cultural da Praça da Liberdade. Fruto da confluência de ideias de seus fundadores, apaixonados por BH, o projeto surgiu com o propósito de oferecer ao público um espaço cultural para realização de eventos variados, resgatando as raízes da cidade.
Gastronomia e arquitetura são uma dobradinha que identifica o espaço, que lança mão da calorosa hospitalidade mineira. É uma casa que carrega memórias afetivas, idealizada a princípio para funcionar como um bistrô, capitaneado pelo chef Afrânio Apolinário. O objetivo foi estendido para fazer do local também um espaço para eventos e encontros culturais.
Íris Perigolo é responsável pela decoração dos ambientes que compõem a estrutura da mansão, em um diálogo harmonioso entre entre o tradicional e o moderno. Também faz parte da equipe Bárbara Belloni, cuja família empresta o sobrenome para batizar a casa.
Serviço:
Mostra 7/1 - Ricardo Carvão Levy
Dezembro de 2022 a março de 2023
Casa Belloni
Avenida João Pinheiro - 287 - Belo Horizonte
Informações e agendamento de visitas guiadas - 31 99943-8102