Susana Garcia fez um documentário simples, sem inovações no formato. Mas nem era o caso. O importante é a emocionante declaração de amor ao colega e grande amigo, a partir de cenas de bastidores do show “O filho da mãe”, presente de Paulo Gustavo para a mãe, Déa Lúcia.
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Pouco mais de um ano depois da morte do ator, é bom rever cenas que mostram a genialidade do humor de Paulo Gustavo. Há algumas pérolas no filme, como os tempos do filho de Déa ainda criança, com cabelo liso na altura do ombro.
A ausência do ator ainda mexe com os amigos, cujos depoimentos reforçam a dor e a saudade que têm do companheiro de tantos trabalhos e aventuras.
Defensor da vacina
Mas, a cada cena, é inevitável associar a tragédia da morte de Paulo à lentidão da campanha de vacinação da COVID-19 no Brasil. O documentário mostra como ele era defensor da vacinação e como queria se imunizar a todo custo.
Temia, como tantos cidadãos, a contaminação pelo novo coronavírus e se protegia, seguindo as recomendações da ciência. Temia morrer de forma tão absurda, assim como a esmagadora maioria dos brasileiros.
Muito mais que grande artista, Paulo Gustavo foi o cidadão que, com bom humor e sem jamais assumir o posto de militante, fez do ofício um aliado na luta política.
Sem forçar a barra, levou para dentro das casas a discussão de temas importantes, essenciais para a diversidade no Brasil. Casado com o mineiro Thales Bretas, Paulo era pai de Gael e Romeu.
Ao longo de pouco mais de 90 minutos, Susana Garcia mostra a relação de amor e respeito de Paulo com os pais e a família, que fez de tudo para que ele alcançasse o sonho de ser ator.
Sem a certeza de que o filho seria o grande sucesso em que se transformou, cada um fez o que podia para garantir recursos para os estudos dele.
Já formado, ajudaram até mesmo a pagar a produção de cenário. O pai, Júlio Márcio Monteiro de Barros, vendeu o carro para realizar o sonho de Paulo.
Paulo Gustavo não se esqueceu de ninguém. No auge do sucesso, continuou ajudando a quem pouco conhecia ou a ilustres desconhecidos.
Em meio à pandemia, o ator, preocupado com a situação dos profissionais que o acompanharam na turnê com dona Déa, providenciou o envio de recursos para eles. Emocionou-se ao receber agradecimentos de quem passava muitas dificuldadess.
No futuro, o filme será uma joia para Gael e Romeu, filhos dele. Para nós, fãs, fica o respeito e o lamento pela ausência de alguém que fez do riso um ato de resistência, como o próprio Paulo Gustavo dizia.
“FILHO DA MÃE – UM REENCONTRO COM PAULO GUSTAVO”
Documentário de Susana Garcia. Disponível na plataforma Amazon Prime Video.
Alegre, carinhoso e observador
“A minha arte não pode ser para poucos, vou falar de assuntos sérios, mas entrando de forma suave na casa das pessoas”. A frase é do ator e humorista Paulo Gustavo (1978-2021), relembrada pela cineasta – e sua grande amiga – Susana Garcia, de 51 anos, que encontrou uma forma de trazer novamente o artista para o público brasileiro por meio do filme que estreia nesta sexta-feira (16/12).
A diretora conta que Paulo quis registrar o espetáculo que dividiu com a mãe e os bastidores daquela turnê. “Quando ele partiu, existia todo o material, ficamos pensando como fazer um registro à altura dele.”
A ideia era reformular o material de 130 horas, para apresentar ao público os pilares fundamentais da vida do amigo e trazer assuntos densos como a pandemia de COVID-19 e a pauta LGBTQIA+, além de emocionar e fazer o público rir. Então, é apresentado um Paulo Gustavo como muitos já imaginavam: alegre, carinhoso e amoroso com amigos e família.
Porém, o filme mostra também o lado vulnerável, preocupado e com pressa de viver, como afirma sua mãe. “O tempo todo ele falava em morte. Parece que ele sabia que isso ia acontecer, tudo era muito corrido e ele fazia tudo depressa”, revela Déa Lúcia.
Thales Bretas, viúvo do artista, acrescenta que o maior medo do marido era ver a mãe morrer. “Ele chorava algumas noites comigo. E, nesse meio, resolveu fazer a homenagem. Pôde dar esse reconhecimento em vida.”
O médico, pai de Romeu e Gael, conta que Paulo Gustavo idealizou o material como uma série de 10 episódios. “Ele queria um mix de emoção e risadas, queria falar sobre a origem da Dona Hermínia. (Então) pegamos o material e transformamos em uma coisa mais impactante”, diz Thales.
O documentário também traz imagens inéditas da juventude do ator, contando com depoimentos de familiares e amigos próximos.
Ao longo do filme, é possível ver o sonho de se tornar cantor, a preocupação e cautela dele nos palcos, a admiração pela mãe e o amor pelo marido, filhos e amigos – e o afeto de todos por Paulo Gustavo.
“Ele se tornou uma pessoa observadora, e um dia escreveu tudo da minha vida. Na minha família, a Dona Hermínia é um clã. Minha avó, minha mãe, eu e ele”, completa Déa Lúcia, em tom de brincadeira.
Para a diretora Susana Garcia, o documentário vem para matar saudades e reviver a memória do ator.
“O grande público está acostumado a ver Paulo em cena, e ali temos o sabor de uma intimidade revelada. Romeu e Gael vão assistir ao documentário daqui a alguns anos porque eles vão ouvir falar do pai, mas não vão ter a vivência. (Esse) foi o último grande espetáculo da vida dele”, afirma a diretora. (Mariana Arrudas – Folhapress)