Jornal Estado de Minas

CINEMA

Documentário de Susana Garcia mostra Paulo Gustavo muito além do humor


Susana Garcia fez um documentário simples, sem inovações no formato. Mas nem era o caso. O importante é a emocionante declaração de amor ao colega e grande amigo, a partir de cenas de bastidores do show “O filho da mãe”, presente de Paulo Gustavo para a mãe, Déa Lúcia.





O documentário “Filho da mãe – Um reencontro com Paulo Gustavo” estreia nesta sexta-feira (16/12), na plataforma Amazon Prime Video. Muita coisa o público já viu ou já conhece, como, por exemplo, o humor de Paulo Gustavo dentro e fora dos palcos.

Afinal, é fácil encontrar quem gargalhou com o longa “Minha mãe é uma peça” e suas sequências. Lançadas de 2013 a 2019, elas levaram 40 milhões de espectadores ao cinema.
 
Pouco mais de um ano depois da morte do ator, é bom rever cenas que mostram a genialidade do humor de Paulo Gustavo. Há algumas pérolas no filme, como os tempos do filho de Déa ainda criança, com cabelo liso na altura do ombro.





A ausência do ator ainda mexe com os amigos, cujos depoimentos reforçam a dor e a saudade que têm do companheiro de tantos trabalhos e aventuras.
 

 

Defensor da vacina

Mas, a cada cena, é inevitável associar a tragédia da morte de Paulo à lentidão da campanha de vacinação da COVID-19 no Brasil. O documentário mostra como ele era defensor da vacinação e como queria se imunizar a todo custo.
 
Temia, como tantos cidadãos, a contaminação pelo novo coronavírus e se protegia, seguindo as recomendações da ciência. Temia morrer de forma tão absurda, assim como a esmagadora maioria dos brasileiros.
 
Muito mais que grande artista, Paulo Gustavo foi o cidadão que, com bom humor e sem jamais assumir o posto de militante, fez do ofício um aliado na luta política. 

Sem forçar a barra, levou para dentro das casas a discussão de temas importantes, essenciais para a diversidade no Brasil. Casado com o mineiro Thales Bretas, Paulo era pai de Gael e Romeu.




 
Déa Lúcia conta que o filho parecia saber que morreria cedo, por isso fazia "tudo corrido" (foto: Amazon Prime Video/reprodução)
 

Ao longo de pouco mais de 90 minutos, Susana Garcia mostra a relação de amor e respeito de Paulo com os pais e a família, que fez de tudo para que ele alcançasse o sonho de ser ator. 

Sem a certeza de que o filho seria o grande sucesso em que se transformou, cada um fez o que podia para garantir recursos para os estudos dele.

Já formado, ajudaram até mesmo a pagar a produção de cenário. O pai, Júlio Márcio Monteiro de Barros, vendeu o carro para realizar o sonho de Paulo.

Paulo Gustavo não se esqueceu de ninguém. No auge do sucesso, continuou ajudando a quem pouco conhecia ou a ilustres desconhecidos.
 
Em meio à pandemia, o ator, preocupado com a situação dos profissionais que o acompanharam na turnê com dona Déa, providenciou o envio de recursos para eles. Emocionou-se ao receber agradecimentos de quem passava muitas dificuldadess.





No futuro, o filme será uma joia para Gael e Romeu, filhos dele. Para nós, fãs, fica o respeito e o lamento pela ausência de alguém que fez do riso um ato de resistência, como o próprio Paulo Gustavo dizia.

“FILHO DA MÃE – UM REENCONTRO COM PAULO GUSTAVO”

Documentário de Susana Garcia. Disponível na plataforma Amazon Prime Video.
 
Paulo Gustavo e Susana Garcia: amigos dentro e fora do set (foto: Ique Esteves/divulgação)
 

Alegre, carinhoso e observador

“A minha arte não pode ser para poucos, vou falar de assuntos sérios, mas entrando de forma suave na casa das pessoas”. A frase é do ator e humorista Paulo Gustavo (1978-2021), relembrada pela cineasta – e sua grande amiga – Susana Garcia, de 51 anos, que encontrou uma forma de trazer novamente o artista para o público brasileiro por meio do filme que estreia nesta sexta-feira (16/12).

A diretora conta que Paulo quis registrar o espetáculo que dividiu com a mãe e os bastidores daquela turnê. “Quando ele partiu, existia todo o material, ficamos pensando como fazer um registro à altura dele.”





A ideia era reformular o material de 130 horas, para apresentar ao público os pilares fundamentais da vida do amigo e trazer assuntos densos como a pandemia de COVID-19 e a pauta LGBTQIA+, além de emocionar e fazer o público rir. Então, é apresentado um Paulo Gustavo como muitos já imaginavam: alegre, carinhoso e amoroso com amigos e família.

Porém, o filme mostra também o lado vulnerável, preocupado e com pressa de viver, como afirma sua mãe. “O tempo todo ele falava em morte. Parece que ele sabia que isso ia acontecer, tudo era muito corrido e ele fazia tudo depressa”, revela Déa Lúcia.

Thales Bretas, marido de Paulo Gustavo, conta que o ator tinha medo de perder a mãe (foto: Amazon Prime Video/reprodução)
Thales Bretas, viúvo do artista, acrescenta que o maior medo do marido era ver a mãe morrer. “Ele chorava algumas noites comigo. E, nesse meio, resolveu fazer a homenagem. Pôde dar esse reconhecimento em vida.”





O médico, pai de Romeu e Gael, conta que Paulo Gustavo idealizou o material como uma série de 10 episódios. “Ele queria um mix de emoção e risadas, queria falar sobre a origem da Dona Hermínia. (Então) pegamos o material e transformamos em uma coisa mais impactante”, diz Thales.

O documentário também traz imagens inéditas da juventude do ator, contando com depoimentos de familiares e amigos próximos.

Júlio Márcio vendeu o carro para ajudar o filho a montar peça, antes da fama (foto: Amazon Prime Video/reprodução)
Ao longo do filme, é possível ver o sonho de se tornar cantor, a preocupação e cautela dele nos palcos, a admiração pela mãe e o amor pelo marido, filhos e amigos – e o afeto de todos por Paulo Gustavo.

“Ele se tornou uma pessoa observadora, e um dia escreveu tudo da minha vida. Na minha família, a Dona Hermínia é um clã. Minha avó, minha mãe, eu e ele”, completa Déa Lúcia, em tom de brincadeira.

Para a diretora Susana Garcia, o documentário vem para matar saudades e reviver a memória do ator.

“O grande público está acostumado a ver Paulo em cena, e ali temos o sabor de uma intimidade revelada. Romeu e Gael vão assistir ao documentário daqui a alguns anos porque eles vão ouvir falar do pai, mas não vão ter a vivência. (Esse) foi o último grande espetáculo da vida dele”, afirma a diretora. (Mariana Arrudas – Folhapress)