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Gente é o prato principal de 'O urso', o drama gastronômico da Star +


É tanta comida na TV e no streaming – alta, média, baixa gastronomia, para todos os apetites – que tamanha fartura pode, muito facilmente, provocar indigestão. Mas não há nada como “O urso”, série do canal FX que chegou ao Brasil pela plataforma Star+. Aqui, a gastronomia é apenas um ingrediente para falar das relações humanas de forma amorosa, estressante e muito engenhosa.





Pouco vista até agora, ela ganhou mais visibilidade nesta semana graças a duas indicações ao Globo de Ouro: melhor série de comédia e melhor ator para Jeremy Allen White.
 
Em essência, “O urso” (“The bear”) acompanha a clássica história do filho pródigo. No caso, ele é Carmen “Carmy” Berzatto (White), jovem e premiado chef de Nova York que volta para Chicago, sua cidade natal, para administrar a lanchonete da família. O retorno se dá após uma tragédia: o irmão Michael (Jon Bernthal) se suicidou, deixando-lhe o The Original Beef como herança.

Do glamour à ruína

Ninguém entende por que Carmy, chamado de Bear pela irmã, não vende o local. Ele era chef do mais importante restaurante dos Estados Unidos. Por que diabos se enfiaria num local à beira da ruína que vende comida sem qualquer atrativo?

Pior: a herança vem acompanhada da equipe de Michael. E a relação entre esse grupo de pessoas, a “família”, ainda que não haja relação de parentesco entre eles, é a base da produção.





A “família” é para lá de diversa: o gerente, até a chegada de Carmy, é o melhor amigo de Michael, Richie (Ebon Moss-Bachrach), basicamente um idiota; o padeiro Marcus (Lionel Boyce) é doce e lento; e a difícil Tina (Liza Colón-Zayas) finge não entender inglês sempre que lhe dão uma ordem.

Carmy faz uma só contratação: Sydney (Ayo Edebiri), recém-formada em gastronomia, que sabe a importância do trabalho do chef. Ela logo se torna seu braço direito, mas passa maus pedaços para tentar entrar no clima da equipe.

Um aviso a quem está chegando agora: a série, criada por Christopher Storer, exige alguma paciência (e calma) do telespectador nos episódios iniciais. A dinâmica entre os personagens é muito intensa – tudo é resolvido entre gritos e palavrões. A câmera, sempre próxima, é tensa, explorando cada meandro da diminuta cozinha onde se dão as interações.





“O urso” vem fazendo muito sucesso mundo afora, com críticas para lá de positivas.

Em meio à dor da perda do irmão – e dos traumas que guarda, apresentados em pequenas doses –, Carmy tem de lidar com falta de dinheiro, dívidas e a nota C da vigilância sanitária. Mesmo trabalhando com equipe tão medíocre, ele resolve levar adiante o sistema de brigadas usado pela alta gastronomia para tentar alguma eficiência na cozinha.

Culpa e aprendizado

Aprendemos, junto da própria equipe, por que certos sabores e técnicas funcionam melhor para determinadas situações. Em meio aos caos, somos apresentados às histórias de cada personagem. E todos aprendem alguma coisa – como Carmy, personagem torturado pela culpa. Algo que só será revelado na parte final.

Com oito episódios de meia hora, “O urso” também foge do padrão “tudo ao mesmo tempo” do streaming. É série para ser degustada aos poucos – mesmo que carregue na acidez, consegue ter alguns momentos de doçura.

“O URSO”

. A série, com oito episódios, está disponível no Star