Jornal Estado de Minas

ARTES CÊNICAS

Estreia de Mateus Solano como diretor tem casa cheia no Instituto Hahaha


Horas antes da estreia de “Um ponto azul”, a sede do Instituto Hahaha estava um caos: maquinista pendurado na escada fazendo os últimos ajustes no cenário, produtores, figurinistas e iluminadores passando de lá para cá, os atores Gyuliana Duarte e Eliseu Custódio se maquiando como palhaços para dar entrevista para a TV.





“Estamos numa rotina frenética”, comentou Mateus Solano, na tarde de sexta-feira (16/12). Ele estreia como diretor de teatro neste espetáculo em cartaz em BH.

“Dirigir, realmente, não é minha função”, diz, contando que aceitou o convite de Gyuliana, com quem estudou na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), porque o tema da peça tem tudo a ver com ele.
 
O espetáculo segue em cartaz com apresentações gratuitas neste sábado (17/12) e domingo (18/12), no Bairro Santa Tereza.

Terra no hospital

Dra. Xuleta (Gyuliana Duarte), besteirologista com “um metro e meio de belezura”, conforme faz questão de ressaltar, e Dr. Custódio (Eliseu Custódio), médico um tanto quanto quixotesco, têm a missão de cuidar do planeta Terra, paciente em estado terminal.





“Xuleta nunca tratou alguém assim. Mas, depois, fica encantada pela beleza do paciente e, ao mesmo tempo, assustada com o estado grave com que ele entra no hospital”, conta Gyuliana.

A crise ambiental é o tema de “Um ponto azul”. E o quixotesco Dr. Custódio vem a calhar para paciente tão prejudicado pela ação do ser humano.

“Ele traz outras formas de existir e estar no mundo. Trata-se da imaginação e da criatividade. Quando você estimula a imaginação, você estimula nas pessoas possibilidades de ver caminhos e trilhas diferentes das já estabelecidas. Essa é a relação do Dr. Custódio com o Dom Quixote”, explica o ator Eliseu Custódio.

A peça foi concebida há dois anos, antes da pandemia, por Gyuliana. Ela e Custódio criaram o Instituto Hahaha em 2012, cujos palhaços levam alegria aos hospitais.

“O espetáculo surgiu a partir da reflexão sobre o nosso trabalho no ambiente hospitalar. Nós lidamos diretamente com a doença. Então, vieram muitas reflexões sobre a vida e a morte. Foi assim que pensei em colocar o planeta Terra na maca”, revela a atriz.





A pandemia estimulou Gyuliana a levar sua ideia para o palco, pois o novo coronavírus é a representação fiel da doença do planeta. O roteiro é assinado por Nereu Afonso, que foi colega dela na ONG Doutores da Alegria.

Mateus Solano “topou na hora” o convite para dirigir a montagem, conta a atriz. Há anos ele adota rotina totalmente orientada pela preservação ambiental. Reutiliza água da chuva, usa painéis solares e faz do lixo orgânico adubo natural. Inclusive, o ator desistiu de participar de comerciais porque a marca que queria contratá-lo ia de encontro a esses princípios.

Dirigir “Um ponto azul” foi um desafio. Morando no Rio de Janeiro, Mateus começou a ensaiar Gyuliana e Eliseu por videochamada. Em seguida, passou a vir a Belo Horizonte para encontros presenciais. Em uma dessas vindas, a maior parte da equipe pegou COVID. Os trabalhos tiveram de voltar a ser feitos a distância.





Os atores aprovaram a direção de Solano. Revelam que foram além do roteiro. Por recomendação dele, leram “Homo Integralis: Uma nova história possível para a humanidade”, de Fernanda Cortez, e “Manual para super-heróis: O início da revolução sustentável”, de Laila Zaid.

“Foi um desafio bem intenso. É, realmente, uma coisa nova. Estou só colocando o pezinho na água”, diverte-se Solano.

“Costumo brincar que, no meio do ensaio, ficava aquele silêncio e eu falava: gente, por que está esse silêncio todo?. Aí eu me tocava que quem deveria falar era eu. Deveria dar ali a direção para as pessoas, para a luz, para o som, para o figurino, para o cenário”, afirma. “O diretor é um maestro”, compara.

Sessão extra

A julgar pelo interesse do público, “Um ponto azul” acertou. Na sexta-feira da estreia os ingressos já haviam se esgotado, fazendo com que fossem abertas sessões extras neste sábado (17/12).
 
“Queremos rodar o país com o espetáculo para dar uma chacoalhada no nosso Brasilzão”, conclui Gyuliana Duarte.

“UM PONTO AZUL”

Texto: Nereu Afonso. Direção: Mateus Solano. Com Gyuliana Duarte e Eliseu Custódio. Neste sábado (17/12), às 19h e às 21h; domingo (18/12), às 19h. Instituto Hahaha (Rua Estrela do Sul, 126, Santa Tereza). Entrada franca, mediante retirada de ingressos no Sympla ou na portaria. Informações: (31) 3889-9643