Se amar “o perdido” – maneira como Drummond se referiu à memória – deixava confuso o coração do poeta, o mesmo não ocorre com os formandos do curso de artes visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em uma espécie de “rito de passagem” para deixar a vida de estudante e se transformar efetivamente em artista, esses jovens ganharam exposição coletiva de suas obras. Os trabalhos, que se baseiam justamente nas lembranças, integram a mostra “Memorian”, em cartaz até 9 de janeiro, no Centro Cultural da UFMG.
Os visitantes poderão conferir gratuitamente intervenções de Lígia Persichini, Ariely Cristane, Giovanna Almeida Cunha, Wander Rocha, Guilherme Lourenço, Rafaella Sallum, Flávia Santiago, Rosana Oliveira, Mariane Olimpio, Caule, Júlia Abdalla e Vanessa Borges.
“Temos pinturas, instalação de objetos, escultura em pedra, fotografias, desenhos e gravuras. É uma exposição muito ampla”, ressalta Rachel Cecília, professora de história da arte na Escola de Belas Artes da UFMG e coordenadora do Projeto Piscinão, iniciativa da universidade que, desde 2021, ajuda os alunos na montagem da mostra.
Ela explica que a participação não é atividade obrigatória do curso, e sim uma forma de dar oportunidade para que os formandos (independentemente da “especialização” escolhida) possam expor seu trabalho. São submetidas as criações que eles desenvolveram para o trabalho de conclusão de curso (TCC). Assim, cada artista expõe uma única obra.
Contudo, “a ideia de uma obra não significa uma unidade, e sim uma constelação de imagens que refletem o que eles estão tentando produzir enquanto trabalho, porque, em alguns casos, o artista está levando vários objetos que formam uma totalidade”, destaca a professora.
Depois de reunidos todos os trabalhos, Rachel se encontra com os expositores e monitores do Projeto Piscinão – neste ano, desempenham essa função as alunas Laura Dias, Lorena Oliveira e Rosa Dornas –para pensarem no tema da mostra.
“Quando você faz uma exposição com curadoria, é uma situação bem diferente. Você escolhe uma temática e começa a buscar as pessoas e as obras que você tem interesse. No caso dessa exposição, não. Temos um grupo de estudantes e fazemos a exposição a partir daquilo que eles têm”, destaca.
PANDEMIA
Essa etapa – que costuma ser a mais difícil, conforme destaca a professora – foi fácil de ser feita neste ano porque todos os trabalhos submetidos abordavam a memória, seja coletiva ou individual.
“Eu acho que isso tem a ver com pandemia, com essa coisa de ter ficado todo mundo trancado dentro de casa. Aí tem toda a questão de estar em um ambiente privado, com relações muito privadas e tendo que lidar consigo mesmo”, diz.
A percepção de Rachel faz sentido quando se analisa alguns dos trabalhos que integram “Memorian”. A pintura "5 da manhã", de Guilherme Lourenço, por exemplo, evidencia isso ao registrar uma senhora preparando o café na cozinha de casa.
Outro trabalho que segue essa mesma linha é o de Rafaella Sallum. Ao retratar, com certo toque de nostalgia, paisagens marítimas e antiguidades, a artista busca “preencher o vazio da saudade”, conforme apontou no texto curatorial.
TÉCNICAS
“Memorian”, no entanto, não se limita à pintura. Lígia Persichini decidiu costurar – literalmente – suas memórias com técnicas de bordado e papel artesanal. Giovanna Almeida Cunha fez intervenções escritas em fotografias antigas, unindo, assim, passado e presente. E Flávia Santiago se apropriou de registros criminais antigos para falar do diagnóstico tardio de pacientes psiquiátricos homens.
“Nessa exposição, é muito mais o artista se entendendo enquanto artista do que pensando no que deve fazer para participar de determinada mostra. Assim, cada um desses trabalhos têm muito mais a ver com como cada estudante – que está se transformando em artista – está lidando com o universo de arte que temos em Belo Horizonte e no Brasil, em geral”, observa Rachel.
Além dos trabalhos citados, também integram a exposição obras concebidas a partir de diferentes materiais, como pedras, papéis e cerâmica.
MEMORIAN
• Exposição dos formandos do curso de artes visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
• Até 9 de janeiro, de terça a sexta-feira, das 9h às 20h; sábados, domingos e feriados, das 9h às 17h, no Centro Cultural UFMG (Av. Santos Dumont, 174 – Centro). Entrada franca.
• Informações: (31) 3409-8290.
• Até 9 de janeiro, de terça a sexta-feira, das 9h às 20h; sábados, domingos e feriados, das 9h às 17h, no Centro Cultural UFMG (Av. Santos Dumont, 174 – Centro). Entrada franca.
• Informações: (31) 3409-8290.