"Depois da pandemia, falar de amor fala muito também da vontade de as pessoas estarem próximas. Mesmo sabendo que os judeus não celebram o Natal como nós, acho que o grande tema é o amor"
Lincoln Andrade, maestro
Como durante a pandemia não houve a possibilidade de ser realizado presencialmente, somente agora o Ars Nova – Coral da UFMG, após dois anos de ausência, retorna com o já tradicional “Banquete de vozes do Natal”. A partir desta segunda (19/12), o grupo de canto coral realiza três apresentações, todas com entrada franca.
Uma dos mais importantes formações do gênero no estado, o Ars Nova, fundado há 63 anos, reúne 22 vozes para executar um repertório eclético, com músicas em seis línguas: alemão, espanhol, francês, inglês, português e hebraico. Regente do coral há cinco anos, o maestro Lincoln Andrade tem buscado, a cada edição, apresentar um conjunto diverso de canções, algumas fora do lugar-comum.
“Procuro sempre uma obra mais volumosa, em duração e importância, e em torno dela salpico composições com músicas menores. Como o Natal tem essa coisa de as pessoas saudarem em idiomas diferentes, procuro sempre uma diversidade.” Neste ano, a obra central do concerto será em hebraico: “Five hebrew love songs”, do compositor norte-americano Eric Whitacre.
“Depois da pandemia, falar de amor fala muito também da vontade de as pessoas estarem próximas. Mesmo sabendo que os judeus não celebram o Natal como nós, acho que o grande tema é o amor”, comenta Andrade.
Repertório
O grupo contou com um consultor da língua para fazer a tradução e ajudar na pronúncia. “As canções são lindas, e naturalmente dão opção para trabalhar a interpretação. Teremos acompanhamento de piano e violino solo. O Whitacre (um autor contemporâneo, de 52 anos) utiliza bem as características da música hebraica, com cortes e escalas bem típicas.”
O repertório abrange diferentes estilos e períodos da história da música. Os concertos serão abertos com “Virgen Sancta”, do compositor espanhol renascentista Francisco Guerrero. O tema é um villancico, forma poética musical típica da Península Ibérica dos séculos 15 ao 18. Na sequência, o grupo interpreta, em alemão, “Weihnachten”, moteto do compositor Felix Mendelssohn-Bartholdy, ativo no século 19.
Haverá espaço, é claro, para canções obrigatórias em qualquer concerto natalino. As apresentações serão encerradas com um medley, com arranjos de Andrade, para canções que o maestro ouvia na infância na voz de seu pai. Entre elas está o clássico dos clássicos “Silent night” – “Noite feliz” para nós –, do austríaco Franz Grüber, e a brasileiríssima “Boas festas”, de Assis Valente.
Coro refinado
A formação atual do Ars Nova conta com 12 vozes femininas e 10 masculinas. “Todos são alunos de canto e alguns são ex-alunos. Então, é um coro que tem um refinamento”, comenta o regente, que viu o Ars Nova pela primeira vez em 1976, aos 16 anos. “E nunca cantei nele, fui chegar como maestro”, acrescenta Andrade, professor de regência da Escola de Música da UFMG.
Desde sua entrada no coral, em 2017, houve mudança nas vozes femininas – as masculinas se mantiveram desde então. “No último ensaio fiz este levantamento. Foi nos contraltos que houve maior reciclagem, teve gente que saiu e hoje foi para o Coral Lírico (da Fundação Clóvis Salgado) para atuar como profissional. O Ars Nova entrega pessoas para o mercado de trabalho, está no processo de formação de cantores.”
A entrada pelo grupo se dá por meio de editais – o processo conta com audições. Ensaiando três vezes por semana no Conservatório UFMG, o Ars Nova encerra 2022 com 18 concertos, um bom número, já que o coral voltou a se apresentar para o público em março. O período da pandemia foi complicado, comenta Andrade, já que os cantores tiveram que usar máscaras. “A voz sai diferente, a articulação do texto também. Muitos reclamaram de falta de ar. Foi um desafio, mas não teve outro jeito.”
Outro desafio no período, e ainda em curso, foi a crise das universidades públicas, em decorrência do corte de verbas promovidos pelo governo federal.
“Houve momentos com contingenciamento de verba, dificuldades para pagar as bolsas (dos integrantes), mas tivemos um apoio absurdamente fantástico da Reitoria (da UFMG), que reconhece a importância do Ars Nova”, conclui Andrade.
REPERTÓRIO
“Virgen Sancta”
(Francisco Guerrero)
“Weihnachten”
(Felix Mendelssohn-Bartholdy)
“A hymn to the Virgin”
(Benjamin Britten)
“Five childhood lyrics”
(John Rutter)
“Quatre motets pour le temps de Noël”
(Francis Poulenc)
“Five hebrew love songs”
(Eric Whitacre)
Medley “Banquete de vozes” “Veni, veni”
(Emmanuel Melodia)
“Il est né le divin enfant”
(melodia francesa do século 13)
“Silent night/Noite feliz”
(Franz Grüber)
“Boas festas”
(Assis Valente)
BANQUETE DE VOZES DO NATAL
• Concertos com o Coral Ars Nova. Nesta segunda (19/12), às 19h30, no auditório da Reitoria da UFMG, câmpus Pampulha; quarta (21/12), às 19h30, no Museu Inimá de Paula (Rua da Bahia, 1.201 – Centro); e quinta (22/12), às 19h30, na Igreja da Boa Viagem (Rua Sergipe, 175 – Funcionários). Entrada franca