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Estado de Minas EXPOSIÇÃO

Bolinho, que adora uma rua, ganha ateliê aberto em galeria do Mercado Novo

O personagem colorido e alegre de Belo Horizonte vai surgir com novos visuais, criados ao vivo pela grafiteira Raquel Bolinho e convidados dela


20/12/2022 04:00 - atualizado 20/12/2022 01:26

Prédio inteiramente grafitado com Bolinho, personagem criado por Raquel Bolinho
Personagem criado pela grafiteira mineira Raquel Bolinho confere cor, alegria e leveza a prédios antes despercebidos em meio à paisagem urbana (foto: Bruno Figueiredo/divulgação)

Eles estão por toda Belo Horizonte. Bem-humorados, com cores fortes e quase sempre trazendo à tona notícias ou memes do momento. Os Bolinhos, grafites da mineira Raquel Bolinho, acostumados a frequentar viadutos e muros, “invadem” a galeria do Mercado Novo a partir desta terça-feira (20/12).

A segunda edição da “Mostra de arte do Bolinho – BH é quem?” fica em cartaz até sexta (23/12), trazendo também criações de MAC Julia, Efe Godoy, Valmir Jr. e Drones, que serão desenvolvidas ao vivo diante do público. O objetivo é ambientar o personagem no universo artístico de cada convidado.

Diferentemente do ano passado, quando Raquel convidou apenas grafiteiros para participar da mostra, agora é a vez de autores que lidam com outras linguagens.

“Valmir é tatuador e pinta telas. MAC Julia, embora faça grafite e pixos, é cantora. Efe é mais das artes plásticas. E o Drones trabalha com stencil (espécie de grafite vazado). A ideia não é fazer no meu estilo, e sim no estilo deles, encaixando o Bolinho no universo de cada um”, explica a artista.

A artista Raquel Bolinho ao lado de seu personagem, cupcake sorridente de corpo amarelo e chapéu verde
Raquel Bolinho, com ajuda dos convidados da exposição, quer ampliar o universo do personagem (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press/3/6/21)

'Gosto que ele seja bem atual, que converse com o que está acontecendo no mundo. Assim, o Bolinho se torna meio que uma charge, embora seja feito em grafite'

Raquel Bolinho, grafiteira e artista visual


Interação ao vivo e de surpresa

A maneira como cada convidado vai se relacionar com o Bolinho será decidida na hora. “A ideia é fazer uma espécie de ateliê aberto”, afirma Raquel.

A proposta de colocar artistas para pintar diante da plateia surgiu quando ela percebeu que muita gente não entende como funciona o grafite. “Já me perguntaram se faço os riscos na parede com lápis”, conta.

Melhor do que explicar é dar oportunidade ao público de acompanhar o passo a passo da produção. “Queremos que as pessoas vejam tudo: a gente chegando lá, discutindo se a pintura será feita na horizontal ou vertical, quais tintas e materiais serão utilizados, além das mudanças nos planos, que naturalmente vão acontecendo”, ressalta.

O aspecto didático, de certo modo, revela a veia professoral de Raquel. Antes de se dedicar à pintura urbana, ela se formou em letras na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi, inclusive, na época da graduação que tomou contato com o grafite.
 
Grafite do personagem Bolinho debaixo de viaduto em BH
Viadutos de Belo Horizonte dão "abrigo" aos Bolinhos (foto: Raquel Bolinho/divulgação)
 

Natural de Itabira, Raquel não estava acostumada com pinturas nas paredes de edifícios, viadutos e outros locais públicos. Só foi descobrir esta arte quando se mudou para a capital mineira, depois de passar no vestibular.

No caminho de casa para a universidade, conta que quase se debruçava na janela do coletivo para não perder nenhum detalhe dos grafites. O que é isso? Por que pintaram isso aqui? Será que a pessoa que pintou mora aqui por perto? – eram dúvidas que surgiam na cabeça da itabirana.

Apaixonada pela nova descoberta, a estudante de letras decidiu fazer igual. No entanto, seu trabalho deveria ter algum diferencial, a marca registrada dela. Foi assim que o Bolinho nasceu, em 2009.

“Sou uma pessoa muito gulosa, louca com doce. Para você ter ideia, é difícil um doce ficar intacto perto de mim. Não resisto. Como mesmo”, diverte-se. É por isso que a mordida acompanha todos os Bolinhos.

No site da artista estão catalogados os grafites que ela espalhou por Belo Horizonte. São194, em todas as regionais da cidade. Muitos trazem mensagens, como o “Bolinho Abra Sua Cabeça”, pintado na Rua Itapecerica, na Lagoinha, que critica o preconceito.

O “Bolinho #vem Pra Rua, que está no final da Avenida Antônio Carlos, no Bairro São Luiz, faz referência aos protestos de 2013.

Há referências à dramaturgia, como o “Bolinho Hamlet”, pintado na Avenida Cristiano Machado, no Bairro Nova Floresta. Esse cupcake de Raquel olha fixamente para o crânio em sua mão esquerda e diz: “Pintar ou não pintar? Eis a questão”.

Sherlock Holmes está presente na Rua Jacutinga, no Bairro Padre Eustáquio. Lá está pintado no muro o Bolinho caracterizado com a tradicional boina e o cachimbo do personagem de Arthur Conan Doyle (1859-1930).

“Gosto que ele seja bem atual, que converse com o que está acontecendo no mundo. Assim, o Bolinho se torna meio que uma charge, embora seja feito em grafite”, afirma a artista, lembrando que também pintou os Bolinhos “Malandramente”, “Baile de Favela” e “Tranquilo e Favorável”, que remetem, respectivamente, a hits dos músicos Dennis DJ e MC Nandinho (2016), MC João (2016) e MC Bin Laden (2017).

De Ajuda a Tiradentes

Os trabalhos de Raquel não estão apenas em Belo Horizonte. Rio de Janeiro, São Paulo, Itabira, Ipatinga, Monte Verde, Arraial d'Ajuda (BA) e Maraú (BA) são algumas das cidades por onde os Bolinhos “passearam”.

A última foi a histórica Tiradentes, no Campo das Vertentes. “Fui para o Festival de Gastronomia, mas levei tinta e spray na minha bolsa. Cheguei lá e pintei um Bolinho, depois pintei outro, mais outro e assim foi.”

Em suas viagens, Raquel leva bagagem nada convencional. Carrega sprays e tintas para o caso de surgirem oportunidades de pintar.

“Não consigo me desligar do Bolinho. Mas estou tentando me controlar, deixando de levar as tintas em algumas viagens. Porque já aconteceu muito de chegar à cidade e ficar só pintando, sem curtir e relaxar”, conta.

Canecas e objetos criados pela artista Raquel Bolinho
O Bolinho se desdobra em canecas e outros objetos (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

Loja de Natal

A grafiteira criou a própria marca e estampa os personagens em camisetas, canecas, cadernos, chaveiros, almofadas, bolsas e tênis, entre outros objetos. Esses produtos estarão na Loja de Natal que integra a 2ª “Mostra de arte do Bolinho – BH é quem?”.

“Isso veio da demanda que a gente tinha já há alguns anos”, conta. Anualmente, ela realizava o “Bazar do Bolinho”, que vendia tudo em apenas um dia. “Era uma loucura, porque recebíamos número muito grande de pessoas e tudo ficava muito confuso.”

Como já havia alugado o espaço no Mercado Novo para a mostra, Raquel pensou em levar para lá a loja de Natal. “O Mercado Novo tem se destacado, há movimento muito grande lá, e um movimento cultural muito intenso também”, afirma.

A parceria com a organização do espaço deu tão certo que Raquel foi chamada para pintar a escadaria do Mercado Novo.

O desenho? Será, claro, outro Bolinho bem-humorado, com cores fortes e alguma referência a memes ou notícias.

“MOSTRA DE ARTE DO BOLINHO – BH É QUEM?”

Exposição de Raquel Bolinho. Obras e performances dos convidados MAC Julia, Efe Godoy, Valmir Jr. e Drones. Desta terça (20/12) a sexta-feira (23/12), das 14h às 22h, na loja 3.191 do Mercado Novo (Avenida Olegário Maciel, 742, Centro). Entrada franca. Informações no Instagram (@querobolinho).


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