Fruto dos esforços da Fundação Clóvis Salgado para desenvolver tradição operística genuinamente brasileira e conectada com o mundo atual,“Viramundo – Uma ópera contemporânea”, que estreou no final do ano passado, volta ao cartaz no Grande Teatro do Palácio das Artes.
Inspirado no livro “O grande mentecapto”, de Fernando Sabino (1923-2004), lançado em 1979, o espetáculo resulta da criação de libretos e composições elaborados por diversos artistas durante o Ateliê de Criação: Dramaturgia e Processos Criativos da Academia de Ópera, realizado em 2021.
A iniciativa contou com a curadoria do maestro Gabriel Rhein-Schirato – diretor musical e regente do espetáculo – e da encenadora Livia Sabag, além da orientação do poeta e letrista Geraldo Carneiro, que acompanhou a criação dos cinco libretos que compõem a montagem. A direção cênica ficou a cargo de Rita Clemente.
Durante o Ateliê de Criação, os dramaturgos Ricardo Severo, Djalma Thürler, Julliano Mendes, Luiz Eduardo Frin e Bruna Tameirão – selecionados a partir de 105 inscritos – escreveram, respectivamente, os libretos “As três mortes de Geraldo Viramundo”, “Não gosto de corpo acostumado”, “Viramundo, viraflor”, “Circunvagantes” e “O julgamento”.
Os textos foram musicados por André Mehmari, Denise Garcia, Antonio Ribeiro, Maurício de Bonis e Thais Montanari, que também participaram do Ateliê. A proposta foi dar um panorama de diferentes tendências musicais para a ópera contemporânea.
Com Orquestra Sinfônica, Coral Lírico de Minas Gerais e solistas convidados, o espetáculo reúne cinco histórias independentes, cada qual dentro de seu universo artístico, formando um só programa operístico com narração e sem intervalo. Há apenas breves “respiros” entre uma e outra para troca de músicos e figurinos.
Libretos conectados
Rita Clemente, que estreou na direção de ópera, destaca que a encenação conecta os cinco libretos de maneira a formar um todo. Este ano, ela passou a contar com a assistência do experiente diretor de ópera Ronaldo Zero.
“As cinco histórias se relacionam, a princípio, pela livre inspiração que os autores tiveram em ‘O grande mentecapto’. Há elementos contextuais parecidos, próprios da ficção de Sabino, e também uma semântica de encenação, uma linguagem em que alguns vocabulários reincidem em cena, ligados à gestualidade, ao movimento e a trajetórias no espaço. A montagem está ligada pela iconografia, que perpassa as cinco obras”, pontua.
O espetáculo contempla tanto pessoas ávidas por novidades, propostas contemporâneas e pela discussão atual sobre o mercado de ópera quanto o público tradicional, amante da voz, afirma o maestro Gabriel Rhein-Schirato.
Rita Clemente, diz que o passado é respeitado, mas sem perder de vista a perspectiva de contemporaneidade.
“Procuramos receber o passado com os vocabulários e o repertório que ele nos traz, mas sem abrir mão do olhar vivo, atual, pensante, em movimento, que podemos chamar de contemporâneo”, aponta.
A diretora salienta que “Viramundo – Uma ópera contemporânea” traz discurso cênico aberto, com a gênese cultural de Minas Gerais expressa pela obra de Sabino, mas a abordagem transcende regionalismos. A encenação acolhe diferentes facetas dos libretos de forma expandida, misturando épocas e criando ambientes para que a montagem possa instaurar interlocuções.
“VIRAMUNDO – UMA ÓPERA CONTEMPORÂNEA”
Com Orquestra Sinfônica, Coral Lírico de Minas de Gerais e solistas convidados. Nesta quarta (21/12) e quinta-feira (22/12), às 20h, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia). Informações: (31) 3236-7400.