Jornal Estado de Minas

ARTES CÊNICAS

Galpão apresenta leitura dramática de 'Um conto de Natal', no Memorial Vale


A capacidade do romancista inglês Charles Dickens (1812-1870) de falar de temas profundos com simplicidade e clareza sempre encantou o ator e diretor Eduardo Moreira. “Oliver Twist” e “The Pickwick papers” fascinaram o integrante do Grupo Galpão, mas “Um conto de Natal” despertou nele o desejo de adaptar Dickens para o teatro.





“Todas as obras de Dickens têm uma gama de personagens cativantes que tocam muito as pessoas. A questão social está muito presente. É a literatura muito próxima do povo”, afirma Moreira. A adaptação foi realizada no ano passado, quando a trupe apresentou a leitura dramática do texto na Biblioteca Pública de Minas Gerais.

Thriller e drama

Nesta quinta-feira (22/12), o grupo se reúne para nova leitura, no Memorial Minas Gerais Vale, com entrada franca. Transitando entre uma espécie de thriller psicológico e drama, “Um conto de Natal” começa com a morte de Jacob Marley, parceiro do homem de negócios Ebenezer Scrooge, avarento e odiado por todos.

A morte de Marley não comove o sócio. Porém, tudo muda quando o espírito dele o visita na noite de Natal. Carregando correntes enroladas pelo corpo, o fantasma revela que, por se preocupar apenas com os lucros, acabou esquecendo valores fundamentais como caridade, misericórdia, tolerância, paciência e bondade. Por isso, não encontrou a paz eterna.





“Estou aqui, esta noite, para lhe avisar que você ainda tem uma chance de escapar do meu terrível destino”, diz a criatura a Scrooge. Anuncia, então, que três espíritos vão visitá-lo.

O primeiro leva o avarento ao passado, às noites de Natal da infância e da juventude. Ele detesta Natal, mas relembra o carinho da irmã caçula, que morreu ainda moça, e o baile oferecido por seu antigo patrão.

O segundo fantasma leva Scrooge até a noite de Natal do presente, nas casas do sobrinho e de um de seus funcionários, tão maltratado por ele. Feliz por comemorar a data com a família, o empregado faz até um brinde pela vida do patrão.





A terceira assombração conduz Scrooge ao futuro. Ele havia acabado de morrer e ninguém considerava sua morte como perda. Profundamente tocado com as revelações, ele muda seu comportamento, dá novo direcionamento à vida e redescobre o Natal.

Autocrítica e redenção

“O texto tem essa coisa muito bonita que é a redenção humana. Dickens atinge pessoas de todas as idades e camadas sociais, mostrando a capacidade do ser humano de se superar, de se tornar uma pessoa melhor”, observa Eduardo Moreira.

O ator faz um paralelo entre a missão dos fantasmas e o papel do artista na sociedade contemporânea. “Acredito muito na possibilidade da arte de tocar as pessoas e transformar o mundo. A gente, inclusive, se move muito por este sentimento”, afirma, referindo-se ao Grupo Galpão.





A missão de emocionar as pessoas faz com que o grupo se mantenha vivo há 40 anos – a data foi comemorada neste 2022 com turnês nacionais e homenagens, como aquela recebida no Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte (FIT-BH).

“É um percurso vitorioso. A própria permanência e manutenção do grupo num país como o Brasil, onde as coisas são muito efêmeras, é um feito extraordinário”, ressalta Eduardo. Também é uma vitória o Galpão conseguir se manter com seu intenso trabalho de pesquisa de linguagens, aponta.
 
O processo de recriação e reinvenção é constante. O grupo entende que o trabalho coletivo é maior e mais importante do que o de cada integrante.

“Claro que as individualidades são importantes. É preciso que elas estejam contempladas e satisfeitas. Mas existe um trabalho maior do que todos nós, individualmente. Não é uma equação muito fácil de ser resolvida, não”, brinca.





A leitura dramática de “Um conto de Natal” encerra a agenda deste ano do Galpão. Em 2023, o grupo retoma “Nós”, peça de 2016 escrita por Eduardo e Marcio Abreu, e planeja estrear espetáculo em parceria com a cantora Cida Moreira.

“UM CONTO DE NATAL”

Com Grupo Galpão. Texto: Charles Dickens. Adaptação e direção: Eduardo Moreira. Nesta quinta-feira (22/12), às 19h30, no Memorial Minas Gerais Vale (Praça da Liberdade, 640, Funcionários). Entrada franca. Informações no Instagram(@memorial.vale)