Quando se projetam as bases do pensamento anarquista – com visão de uma sociedade colaborativa, desligada de traços hierárquicos e conchavos políticos –, nomes como Proudhon, Piotr Kropotkin e Emma Goldman se revelam inevitáveis. Diretor de “Um homem de ação”, destaque recente na plataforma Netflix, Javier Ruiz Caldera desvia um tanto dessa rota conceitual, trazendo para o primeiro plano um nome de efetiva ação, ao longo de décadas, no cenário espanhol: Lucio Urtubia, operário empenhado em lutar pela equidade social.
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Visto por muitos como uma espécie de Robin Hood, Urtubia, no filme, engatinha em conceitos anárquicos que passa a defender ao longo da trama. Enredo que atravessa 30 anos e dá muito trabalho ao montador Alberto de Toro.
Depois de tratar de experimentos nazistas, na ala da mais pura ficção, em “Valley of the dead” (2020), e explorar comédias ligadas a casamentos e a jocoso super-herói, o diretor Javier Ruiz Caldera convence, nesta nova produção, com esmerada reconstituição e a presença do carismático Juan José Ballesta na pele do protagonista.
O encontro do operário com o emblemático guerrilheiro urbano Quico Sabaté (Miki Esparbé) muda por completo o destino do jovem que, em seu primeiro assalto a banco, se urina de desespero.
Curioso que uma das coprodutoras do longa junto à Netflix, seja batizada como A pulga e o Elefante, justo uma ilustração (comparativa a Davi e Golias) descrita no roteiro da produção.
A chuva de milhões de dólares que circularam entre 1980 e 1982 desestabilizou o poderoso First National City Bank, com sede do outro lado do oceano, pela ação de Urtubia e do grupo de apoio de suas ousadas falsificações – numa gráfica que difundiu travelers checks ilegais, em operação desastrosa para os gigantes do mercado na era pré-cartões de crédito e meios monetários virtuais.
Junto a Urtubia (morto em julho de 2020), atuavam Asturiano (Luis Callejo) e Petite Jeanne (Monica Lamberti).
A lacuna nas evidências e provas que pesem contra o protagonista trazem um bom jogo de gato e rato desenvolvido a partir da atuação do inspetor Costello (Alexandre Blazy), com relevância na trama.
Até Che Guevara, numa viagem a caminho da União Soviética, comparece no roteiro, em inesperada investida do protagonista que, entre outras dores, mantém tumultuosa relação com a estudante de biologia Anne (Liah O'Prey).
“UM HOMEM DE AÇÃO”
Espanha, 2022. Direção de Javier Ruiz Caldera. Com Juan José Ballesta, Luis Callejo, Monica Lamberti, Alexandre Blazy e Liah O'Prey. Disponível na plataforma Netflix.