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Estado de Minas STILLE NACHT

A pouco conhecida história de 'Noite Feliz', uma das mais famosas músicas de Natal

Criada por padre austríaco em parceria com organista Franz Gruber, música foi traduzida para mais de 300 idiomas, ganhou o mundo e até uma 'versão nazista' durante regime de Hitler na Alemanha.


25/12/2022 08:02 - atualizado 25/12/2022 13:04


Igreja em Salzburgo, na Áustria | Crédito: Stille Nacht - SalzburgerLand Tourismus GmbH/Tirol Werbung GmbH/Oberösterreich Tourismus GmbH/Tourismus Salzburg GmbH
A música foi tocada para o público pela primeira vez em uma igreja em Salzburgo, na Áustria (foto: Stille Nacht - SalzburgerLand Tourismus GmbH)

Este texto foi originalmente publicado em dezembro de 2018 e republicado após atualização.

Em 24 de dezembro de 1818, o padre austríaco Joseph Mohr pediu ao amigo organista Franz Xaver Gruber que compusesse a melodia para um poema escrito por ele dois anos antes. Nascia assim Stille Nacht, heilige Nacht, uma das mais famosas canções natalinas, traduzida para mais de 300 idiomas e conhecida em português como Noite Feliz.

Naquela noite, Mohr e Gruber executaram a música pela primeira vez durante o serviço da igreja de São Nicolau em Oberndorf bei Salzburg, na Áustria. Hoje, a canção é quase onipresente no Natal, figurando desde 2011 na lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

O poema foi criado em um período difícil para Salzburgo. O então principado eclesiástico independente sofreu diversas ocupações durante as Guerras Napoleônicas. Os conflitos trouxeram caos e fome - em especial no Ano Sem Verão de 1816, quando temperaturas extremamente baixas destruíram plantações na Europa e América do Norte.

Naquele mesmo ano, Salzburgo perdeu sua independência e foi incorporada à Áustria. "As palavras deste cântico foram escritas nestas circunstâncias. Elas expressam uma ânsia por redenção e paz", explica à BBC News Brasil Peter Husty, curador da exposição Silent Night 200 - The Story. The Message. The Present ("Noite Feliz 200 - A História. A Mensagem. O Presente", em tradução livre), no Museu de Salzburgo.


Franz Xaver Gruber | Crédito: Stille Nacht - SalzburgerLand Tourismus GmbH/Tirol Werbung GmbH/Oberösterreich Tourismus GmbH/Tourismus Salzburg GmbH
O organista Franz Xaver Gruber compôs a melodia da música (foto: Stille Nacht - SalzburgerLand Tourismus GmbH)

O contexto local não impediu que a canção se tornasse um sucesso em todo mundo. Primeiro a música se espalhou em um manuscrito na região dos autores. Depois, o construtor de órgão Carl Mauracher a levou para Zillertal, um vale em Tirol, onde era cantada por corais. Dali, se alastrou pela Alemanha, Europa e Estados Unidos.

"O Cristianismo levou essa música para o mundo com missionários (protestantes e católicos). Ela virou acessível em muitas línguas e dialetos, tonando-se global", afirma Thomas Hochradner, chefe do Departamento de Musicologia da Universidade Mozarteum, na Áustria, e idealizador da exposição Silent Night 200.

A exibição traz informações detalhadas sobre a canção - como o fato de que ela é cantada por 2 bilhões de pessoas no mundo -, além de objetos que ilustram o estilo de vida no tempo da composição, autógrafos de Mohr e Gruber, e o piano usado para tocar a música.

Uma infinidade de traduções e adaptações

A propagação de Stille Nacht em diversos idiomas resultou em traduções nada fiéis ao texto original. Muitas delas são, na verdade, adaptações. A versão em português, por exemplo, foi intitulada Noite Feliz, embora o título real seja algo como "Noite Silenciosa".


Jovens em frente à letra em exibição no museu de Salzburgo
O museu de Salzburgo exibe as cifras e letras originais da música (foto: Salzburg Museum)

A primeira estrofe também abriga a frase "pobrezinho nasceu em Belém", inexistente no poema austríaco. "As chamadas traduções são novas poesias que tentam manter a mensagem do texto, mas precisam levar em conta o ritmo e as rimas (da língua)", diz Hochradner.

Segundo Husty, geralmente as traduções buscam manter o sentido central da canção: o Natal como festa da redenção e sinal de paz. Mas nem sempre é o caso, como prova a Weihnachtsringsendung, a versão nazista do cântico.

O regime de Hitler tinha um problema óbvio com Natal: Jesus era judeu. E o antissemitismo estava no centro da existência da ditadura nazista. Por isso, sua equipe tentou remover todo o contexto religioso da celebração. Isso incluía reescrever canções natalinas sem referências a Deus, Cristo ou fé.

Na Alemanha nazista, o primeiro verso de Stille Nacht transformou-se em um louvor a Hitler. A letra dizia: "Tudo é calmo, tudo é esplendido / Apenas o Chanceler fica em guarda / O futuro da Alemanha para vigiar e proteger / Guiando nossa nação certamente."


Documento com cifra e letra da música é mantido no museu de Salzburgo
Documento com cifras e letras originais da música é exibido no museu de Salzburgo (foto: Salzburg Museum)

A música também não escapou do uso comercial em inúmeros filmes (a Forbes afirma que ela apareceu em 295 até 2015) e interpretações por cantores famosos, incluindo Sinead O'Connor, Elvis Presley, Etta James e Kelly Clarkson.

Os compositores

Mohr nasceu em 1792 em Salzburgo, onde estudou e foi ordenado padre. Em 1815, o religioso tornou-se curador na pequena municipalidade de Mariapfarr. No ano seguinte, escreveu o poema que o tornou conhecido.

Em 1817, Mohr foi transferido para Oberndorf bei Salzburg. Na cidade, o padre conheceu Gruber, nascido em Hochburg em 1787 e que tocava órgão na igreja local. Eles cultivaram uma amizade por toda a vida.


Pintura do rosto do padre austríaco Joseph Mohr, que escreveu a letra da música | Crédito: Stille Nacht - SalzburgerLand Tourismus GmbH/Tirol Werbung GmbH/Oberösterreich Tourismus GmbH/Tourismus Salzburg GmbH
O padre austríaco Joseph Mohr escreveu a letra da música (foto: Stille Nacht - SalzburgerLand Tourismus GmbH)

Os dois são tão famosos na Áustria que os locais onde nasceram, trabalharam e morreram possuem memoriais e museus em sua homenagem.

Para celebrar os 200 anos do hit natalino, Hochburg, Mariapfarr, Arnsdorf, Hallein, Oberndorf, Hintersee, Wagrain, Fügen e Salzburgo fizeram uma parceria para uma exposição nacional. "Os austríacos gostam e cantam a canção, principalmente em sua versão original, que difere um pouco daquela mais comum no mundo. É mais uma tradição do que orgulho", afirma Hochradner.

Para Husty, Stille Nacht transcende a religião. "Ela conta a história do nascimento de Jesus. Então é um cântico religioso ao mesmo tempo em que é para a paz no mundo."

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-46655507


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