Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Benjamim Taubkin percorre a própria carreira com seu 'Caderno de viagens'



Da Colômbia à Áustria, passando por Olinda. Assim é o “Caderno de viagens” do pianista, compositor, arranjador e produtor musical Benjamim Taubkin, que lança faixas mensalmente nas plataformas digitais. Tem rap também – experiência do veterano, de 66 anos, compartilhada com o filho João Taubkin, baixista, e com o baterista Mario Gaiotto.




 
A viagem sonora guarda encontros, trocas e experimentações realizadas por ele durante muitos anos. O single “Self portrait” é de autoria do israelense Amos Hoffman. Outro tema foi desenvolvido por Benjamim com o saxofonista colombiano Antonio Arnedo, registrado em um concerto em Bogotá.

“Caderno de viagens” surgiu de arquivos domésticos. Durante o isolamento social pandêmico, Taubkin foi mexer em seus guardados. “Havia uma gravação aqui, um negócio ali, outro troço lá. Coisas superbacanas que eu nunca tinha lançado”, conta, referindo-se a registros de apresentações ao vivo e sessões de estúdio que não viraram disco, por exemplo. “Pretendo até lançar o volume dois, há bastante coisa”, afirma.
 
O baixista João Taubkin acompanhou o pai, Benjamim, em experimentos do hip-hop (foto: Ricardo Ramos/divulgação)
 
 
Entre os guardados de gravações em estúdio está a do Bongar, grupo de coco de Olinda (PE). Ou registros com Denis Duarte, “que faz free style e vai criando tudo na hora”. Taubkin destaca também sua experiência no rap com o filho João e Mario Gaiotto. “Vamos enxertando ritmos brasileiros, como o boi e o maracatu, em cima das bases do hip-hop.”




 
O single ‘Self portrait’ foi gravado durante concerto do Trio +1, projeto com mais de 15 anos de Taubkin, com a participação do alaúde de Amos Hoffman. É a faixa inaugural do “Caderno”.
 
“São achados mesmo. No disco, cada faixa tem uma formação diferente. O João Taubkin aparece em quatro, pois a gente fez muita coisa. O Sergio Reze aparece duas vezes, tocando bateria”, diz.

O nascimento da melodia

Nos últimos 13 anos, Benjamim vem se dedicando a outro projeto. Ele sobe no palco vazio e deixa a música acontecer. “É e não é improvisação”, diz. “Vou em busca de uma composição, mas ela é espontânea, nasce naquele momento.”




 
Não se trata de novidade. Afinal de contas, esse método foi adotado por Beethoven (1770-1827) e Schubert (1797-1828), lembra o compositor. “Só que eles anotaram o que fizeram. Schubert tem aqueles improvisos e Beethoven aquelas variações em dó menor para piano. Aquilo foi criado na hora”, observa.
 
Improvisar, ou “buscar a composição”, é difícil. “Exige dedicação. Além de focar e levar a sério, não tem paraquedas. Você está no palco e se cair, cai na frente de todo mundo. Tem de estar muito dedicado, mas sou assim”, comenta Benjamim.
 
“Caderno de viagens” terá edição digital, com o lançamento de uma canção por mês. “Isso funciona. Antes desse álbum, lancei o ‘Trilha’, com 10 temas que gravei para documentários, foi sugestão da distribuidora Tratore. Experiência muito bacana, teve muita escuta. Não passou em branco.”




 
Outra experimentação de Taubkin se chama Andar, Nadar e Voar, sexteto dedicado a criar coletivamente, em tempo real, sonoridades que dialoguem com composições, canções e arranjos. O grupo é formado por João Taubkin, Ricardo Herz, Ari Colares, Pedro Ito, Rodrigo Bragança e o próprio Benjamim.
 
“A gente cria na hora. Adoro fazer isso, fico muito feliz”, conta ele. Quem já participou da empreitada foi o percussionista mineiro Paulinho Santos, ex-Uakti. “Temos feito coisas juntos e é uma alegria para mim. A energia dele é concentrada, é uma sorte poder tocar com alguém tão concentrado.”
 
Projetos assim, que resgatam momentos importantes da carreira, deixam Benjamim Taubkin realizado. “São encontros com músicos queridos, do coração. A música expressa isso, a linguagem da alma”, comenta.




 
Cidadão do mundo, Benjamim Taubkin sempre cultivou o diálogo com culturas e gêneros musicais diferentes. Gosta de transitar no universo da música tradicional brasileira e de outros países, da música sinfônica, do hip-hop. “Há faixas que soam muito bem, outras menos. Porém, o mais importante é a música que acontece ali”, diz.
 

 

Animação autobiográfica

Recentemente, ele ganhou prêmio no edital ‘Trajetória”. No início, pensou em algo mais tradicional para registrar sua carreira, como um concerto de piano solo. Porém, certo dia, enquanto quase pegava no sono, veio a ideia de fazer um vídeo de animação.
 
Surgiu “Em busca da terra – ou melhor – da música prometida”, que já está rodando no YouTube, e retrata a procura pelo som empreendida por ele.
 
O vídeo tem direção do próprio Benjamim e do artista gráfico e animador Gabriel Bitar, do Veranito Studio. Cercados de imagens, estão lá vários trabalhos dele: “A pequena loja da Rua 57”, “Vortex sessions”, “América contemporânea”, “Piano que conversa” e “Al qantara”, entre outros.




 
“Convidei um cara que é um talento, o produtor e diretor Gabriel Bitar. Eu tinha uma ideia, mas ele teve outra e a respeitei. Pensei: quando me chamam para fazer trilhas ou algo assim, gosto que ouçam as minhas ideias. Então, vou ouvir as dele. O resultado foi muito bacana. Ficou do jeito que eu queria, embora não soubesse que queria daquele jeito.”
 
“A música é infinita”, diz o compositor, com base nas experiências (e sonoridades) vivenciadas por ele no Marrocos, Coreia, Israel, Colômbia, Bolívia, Argentina, Costa Rica, Estados Unidos, Equador e Espanha, entre outros países. Além, claro, do Brasil.

(foto: Reprodução)
CADERNO DE VIAGENS

Disco de Benjamim Taubkin. A faixa “Self portrait” está disponível nas plataformas digitais. Lançamento de uma canção a cada mês