O projeto Sempre um Papo on-line desta segunda-feira (26/12) terá “clima família”. Mãe e filho, a experiente ilustradora Ana Raquel e o jornalista e escritor estreante Daniel Barcellos vão conversar com a apresentadora Jozane Faleiro, às 19h, sobre dois livros infantojuvenis que acabam de lançar.
“Vamos passear na roça?” (Editora Caraminhoca) foi escrito e ilustrado por ela. Em “No caminho da cidade” (Oficina Raquel), o texto de Daniel ganhou os desenhos da mãe.
“O livro que considero mais significativo durante os meus 42 anos de trabalho é esse feito em parceria com Daniel”, afirma Ana, explicando que “No caminho da cidade” dialoga com “Vamos passear na roça?”.
“Meu neto até falou comigo: ‘Uai, vó, um manda passear na roça e ou outro na cidade?’. Pois os dois falam de natureza. Afinal de contas, a cidade é uma 'cidade floresta' onde tem a casa do sagui e dos bichos. Texto muito gostoso do Daniel, com pegada de cordel, bem ritmado. A pessoa vai saindo da cidade, o ar e a água do rio vão ficando mais limpos até chegar na floresta.”, conta.
A ilustradora planeja até criar a trupe desta história, com um jipe, um cachorrinho e um drone. “Eles vão passear em vários biomas brasileiros. A gente quer fazer um (livro) por ano, pelo menos. Se as coisas melhorarem para as editoras, a gente faz até mais de um”, afirma Ana Raquel.
Por sua vez, “Vamos passear na roça?” é uma espécie de reciclagem. “Ele já foi o livro chamado ‘Amanhecer na roça’, que saiu do mercado. Fiquei com as ilustrações, acrescentei outras e fiz um texto para criança bem pequena, ficou muito legal.”
Tudo começou na Miguilim
Ilustradora premiada, Ana Raquel vai conversar com Jozane sobre sua trajetória, iniciada na Editora Miguilim, que Antonieta Cunha acabara de fundar em Belo Horizonte. O primeiro livro ilustrado por ela foi “Uma festa no céu”, de Joel Rufino, lançado em 1980.
Em janeiro de 1981, por insistência da escritora e ilustradora Ângela Lago, Ana Raquel participou do concurso no Instituto Nacional do Livro. Levou o prêmio por seu trabalho em ‘Metade de quase nada’, de Eliane Ganem.
“Naquele tempo, não tinha internet. Em BH, em nosso setor, só havia a Miguilim e a Vigília, que fazia mais livros didáticos. Eram poucas editoras na cidade. Foi bom (o prêmio), porque foi uma maneira de o pessoal das editoras do Rio de Janeiro e São Paulo saber que eu existia.”
Nos anos 1980, Ana Raquel atuou intensamente, tanto publicando livros quanto lutando para organizar profissionais como ela, por meio da criação de uma associação que reúne escritores e ilustradores. A entidade existe até hoje.
“Minha preocupação foi sempre valorizar e divulgar o papel da imagem no texto. Em 1987, ouvi de um editor: ‘O valor que ela cobra por um livro ilustrado é o preço da passagem que compro para ir a Miami. Onde já se viu um ilustrador ganhar isso?’. Saí chorando da editora”, relembra.
Contação de histórias para marmanjos
Ana Raquel também se dedicou a oficinas de ilustração, sobretudo nos festivais de inverno. “O trabalho de ilustração é incentivo à leitura, sempre quis mostrar isso. Estou até pensando em fazer um projeto antigo, a happy hour com contação de histórias infantis para marmanjos. Adultos se esquecem de que existem livros infantis e alguns deles são deliciosos de ler”, comenta.
Esta mineira batalhou para levar sua proposta adiante. Apresentava o trabalho de ilustradores e escritores a editores. “Daquelas oficinas saiu um monte de gente que está aí hoje. Fiz isso não só pelo trabalho deles, que era bom, mas para reforçar a ideia de que o livro infantil precisa ser bem ilustrado”, explica.
“Ilustração ruim pode matar um livro ou o texto”, adverte Ana Raquel, que, aliás, se define como “iluscritora”.
“Você pode pegar um texto de Manuel Bandeira, Fernando Pessoa ou Vinicius de Moraes. Digitado, é belo, mas para fazer dele um produto vendável, para a criança lê-lo, é preciso que seja bem ilustrado. Ilustração é também a alma do livro. A gente não ilustra somente aquilo que está no texto, você vai muito além.”
Radicada em Cabrália, no litoral baiano, Ana Raquel passou um bom tempo sem lançar publicações inéditas. “Desde a época do golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff, quando os programas de leitura do governo diminuíram, as editoras foram reduzindo a produção. Depois veio a pandemia. Então, fui aprender animação 2D, fiz uma série de coisas, e agora estou com três livros prontos para entrar na gráfica”, conta.
“Considero-me uma privilegiada, porque trabalho com o que sei e gosto de fazer. Está sendo uma alegria muito grande poder comemorar esses 42 anos de trabalho fazendo parceria com o meu próprio filho”, conclui.
SEMPRE UM PAPO
Com Ana Raquel e Daniel Barcellos. Nesta segunda-feira (26/12), às 19h, no canal do projeto no YouTube. Gratuito Informações: www.sempreumpapo.com.br