Jornal Estado de Minas

ARTE DO VALE

Exposição celebra a força e a beleza do Vale do Jequitinhonha



O BDMG Cultural apresenta a exposição “Bordados da Terra e do Céu”, que, através do trabalho primoroso de artesãs do Vale do Jequitinhonha, celebra a força e a beleza dessa região. As peças bordadas narram um cotidiano regido pela ancestralidade, em que saberes e conhecimentos são passados de geração em geração.



A mostra conta com peças realizadas por dois grupos de bordadeiras: as Bordadeiras do Curtume, pertencentes da comunidade de mesmo nome, que pertence à cidade de Jenipapo de Minas, e as Mulheres da Ponte, da região de Diamantina. Apesar dos dois grupos estarem em regiões diferentes do Vale, elas compartilham saberes comuns da terra e da ancestralidade, além de um conhecimento profundo das plantas.

“Fomos encontrando um lugar comum desse conhecimento ancestral que elas trazem, e naturalmente resolvemos reunir os dois grupos para celebrar toda a força e a beleza desse modo de viver que e ainda se encontra preservado”, explica Viviane Fortes, idealizadora e coordenadora geral da exposição. 

O evento de lançamento, realizado em 15 de dezembro, contou com a participação das 24 mulheres bordadeiras e trouxe um pouco do Vale do Jequitinhonha através da música, da dança e das comidas típicas da região.





“No dia da abertura, que eu vi meu trabalho exposto, eu senti uma anergia forte, uma energia viva de cuidado, de carinho que as pessoas deram ao trabalho que a gente faz. E é muito importante ver a visibilidade do Vale do Jequitinhonha, como um povo rico em cultura”, afirma Maria do Carmo Guimarães, integrante do Bordadeiras do Curtume.

Vale do Jequitinhonha e a arte

Muito visto como um local de pobreza e miséria, o Vale do Jequitinhonha foi visto como um espaço de beleza e conhecimentos ancestrais pelo projeto Mulheres do Jequitinhonha, uma iniciativa da Tingui, organização sem fins lucrativos. A iniciativa, da qual fazem parte os dois grupos de bordadeiras, busca o fortalecimento de mulheres rurais e quilombolas a partir da valorização dos seus saberes e da cultura local.

“Durante muito tempo as pessoas olharam para o Vale nesse lugar de pobreza, de miséria, mas para mim e para o olhar da Tingui a gente vê o vale em sua potência, na sua beleza, na sua riqueza natural e humana, na sua força”, afirma Viviane. 




A terra e o céu

Branco, marrom, avermelhado e rosa são algumas das infinitas colorações do solo da região que marcam os três conjuntos que compõem os Bordados da Terra e do Céu.  As cores utilizadas nas pinturas são feitas com tintas naturais a base de terra, fabricadas pelas próprias artesãs, e o formato de estandarte remete a festividades religiosas como Festa do Rosário, o Congado e a Folia de Reis, muito populares no Vale do Jequitinhonha.
 
A exposição tem três coleções. A série “O que sou, o que sei”, realizada pelas bordadeiras do Curtume com base em ilustrações autorais assinadas por Diogo Guimarães, filho da bordadeira Maria do Carmo Guimarães. As peças jogam luz sobre os saberes e os fazeres das mulheres do Vale do Jequitinhonha, celebrando a imensa variedade de conhecimentos passados de mãe para filha e de avó para neta.

Os bordados das Bordadeiras do Curtume narram a vida no sertão de Minas, com suas alegrias e seus desafios (foto: Divulgação )


Já a série ‘Sobre Terra, Plantas e Pássaros’ foi realizado pelo grupo Mulheres da Ponte e tem bordados baseados em desenhos assinados por Maria, celebrando o modo de vida conectado à natureza. Neles são retratos pássaros e árvores da região de Diamantina, como sabiás, bem-te-vis e canários-da-terra que voam por pequizeiros, amoreiras, ipês e jabuticabeiras.



Por fim, a série “Sobre Terra, Plantas e Mulheres” é fruto da colaboração entre as Mulheres da Ponte e as Bordadeiras do Curtume. Com ilustrações de Maria, do grupo Mulheres da Ponte, as peças foram produzidas pelas Bordadeiras do Curtume.

bordados do grupo Mulheres da Ponta celebram o modo de vida conectado à natureza, e o conhecimento profundo que essas mulheres guardam das plantas e da terra (foto: Divulgação )


“Foi uma alegria muito grande saber que uma coisa que eu gosto muito de fazer, uma coisa que vem de família, dos antepassados, e que estava ali para o mundo ver a beleza do nosso trabalho”, afirma Maria do Carmo. “Fico muito agradecida as pessoas que batalham para que cada dia mais os trabalhos do nosso Vale sejam divulgados”, completa.

Serviço
Bordados da Terra e Céu 
De 15 de dezembro a 05 de março 
Local: BDMG Cultural, rua Bernardo Guimarães, 1600, Lourdes 

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