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Estado de Minas AUDIOVISUAL

Premiado diretor Kore-eda cobra apoio do governo japonês ao cinema do país

Vencedor de Cannes, ele diz que o Japão não exibe a mesma performance da Coreia do Sul porque é 'ensimesmado' e ignora novos talentos


29/12/2022 04:00 - atualizado 28/12/2022 23:11

Diretor de cinema japonês Hirokazu Kore-eda olha para a câmera
Vencedor em Cannes, diretor Hirokazu Kore-eda diz que cinema de seu país é "ensimesmado" (foto: Philip Fong/AFP)

 
Mal financiado e “ensimesmado”, o cinema japonês não consegue mais atrair novos talentos, lamenta o aclamado diretor Hirokazu Kore-eda, que colabora com jovens cineastas em uma série para a plataforma Netflix.
 
Vencedor da Palma de Ouro de 2018 em Cannes por “Assunto de família”, o cineasta, de 60 anos, avalia que atitudes complacentes e duras condições de trabalho na indústria japonesa impedem que suas produções alcancem o sucesso internacional das obras sul-coreanas.

“Nosso ambiente criativo deve mudar”, afirma Kore-eda, criticando os baixos salários, as longas jornadas de trabalho e as incertezas para os novos talentos.
 

 
“Ao longo da carreira, pude me concentrar em aperfeiçoar minha arte. Mas, olhando ao redor, vejo que os jovens não escolhem mais trabalhar no cinema ou na televisão”, lamenta.
Nesse contexto, o diretor de “Still walking” (2008) e “Ninguém pode saber” (2004) decidiu colaborar com três jovens colegas no seriado que estreia em janeiro.
 
“Na verdade, eu queria roubar coisas deles”, brinca Kore-eda, elogiando a qualidade dos jovens colegas e o “conhecimento sobre o material” da parte deles, “muito melhor do que o meu”.
 
“The Makanai: Cooking for the Maiko House”, com nove episódios, é adaptação de um mangá que se passa na cidade japonesa de Kyoto, numa comunidade das aprendizes de gueixa.
 
Atriz caracterizada como gueixa em cena da série japonesa The Makanai, da Netflix
Série "The Makanai: Cooking for the Maiko House" vai contar a história de uma escola de gueixas (foto: Netflix/reprodução)

 
A animação japonesa é apreciada no mundo todo, mas filmes e séries de live action do país não conseguem a mesma atenção de produções coreanas como “Round 6” ou “Parasita”. Esse último, por exemplo, conquistou seis estatuetas do Oscar em 2020, incluindo os prêmios de melhor filme, melhor direção e melhor filme internacional.
 
O governo sul-coreano não economizou apoio à indústria audiovisual, o que levou a grandes sucessos nos últimos 20 anos. “Durante esse período, o Japão se ensimesmou”, observa Kore-eda, explicando que o país se limitou, de certa forma, a seu mercado local.
 
“É por isso que existe a distância entre os dois países”, afirma o diretor, que optou por exercer seu talento fora do Japão.
 
Gravar “The truth” (2019) na França, com Catherine Deneuve e Juliette Binoche, e “Broker” (2022), filme sul-coreano sobre tráfico de bebês, permitiu a ele compreender melhor as lacunas do cinema japonês.
 
 
 
Kore-eda e outros cineastas do Japão reivindicam a criação do equivalente local do Centro Nacional do Cinema, administrado pelo Estado francês, para melhorar o financiamento da criação audiovisual e as condições de trabalho.
 
De acordo com pesquisa do governo japonês, dois terços dos profissionais de cinema no país estão insatisfeitos com a remuneração e com as longas jornadas, além de preocupados com o futuro da indústria do audiovisual.
 
“Os cineastas da minha geração, e eu próprio, nos resignamos com o fato de que não podemos viver apenas dos nossos filmes”, afirma Hiroshi Okuyama, de 26 anos, um dos diretores envolvidos na nova série da Netflix.

Luta contra assédio sexual

Kore-eda também luta contra o assédio sexual na indústria audiovisual. Em março deste ano, ele e colegas japoneses se solidarizaram com atrizes que revelaram histórias de abuso por parte de um cineasta.
 
Neste país pouco afetado pelo movimento #MeToo, que surgiu em 2017 em Hollywood, os apelos levaram o Sindicato de Diretores do Japão, em julho, a se comprometer em erradicar tais comportamentos. “É um grande passo à frente”, comemora o diretor.

Kore-eda defende que se vá mais longe, com a criação de mecanismos de proteção para que as vítimas possam testemunhar. O diretor lamenta que o assédio sexual no Japão ainda seja considerado “problema de caráter de uma pessoa, quando deveria ser considerado um problema estrutural”.
 
Questionado sobre seus projetos futuros, o cineasta revela que deseja abordar questões como imigração e abandono, mas também se aventurar em “um épico”.


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